Junior Zanza, filho do saudoso Mestre Zanza , diz que o pai já previa que grandes coisas aconteceriam com os Catopês (arquivo pessoal)
Os catopês, marujos e caboclinhos aguardam com grande expectativa a inclusão das “Festas de Agosto” de Montes Claros na lista oficial do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Cultural (IEPHA), o órgão responsável por estabelecer os critérios para o tombamento de bens materiais e imateriais do Estado.
Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Minas (ALMG) aprovou o PL 2742/2021, de autoria da deputada e vice-presidente da ALMG, Leninha, que reconhece o festejo cultural como de “relevante interesse cultural do Estado”.
“As Festas de Agosto são parte da nossa história, da nossa identidade e memória coletiva. Deveria ser apoiada com uma robusta política cultural. Esse processo de aprovação na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia é o primeiro passo”, diz Leninha. O projeto segue agora para aprovação em plenário. “Quando aprovado em caráter definitivo, teremos o instrumental normativo necessário para que no âmbito municipal seja possível inventariar e tombar as Festas como patrimônio cultural imaterial de Montes Claros”, complementa.
A iniciativa permite o acesso a recursos do ICMS cultural, bem como a possibilidade de outros recursos públicos que envolvam a proteção e preservação do bem. Para a jornalista e articuladora cultural Felicidade Tupinambá, apoiadora das Festas de Agosto, o certificado é uma garantia de preservação da festa, ao reconhecer sua importância e legitimidade. “Penso que por ser uma manifestação de quase 200 anos este reconhecimento já deveria ter acontecido. O projeto da deputada traduz o anseio de todos nós. A CCJ é muito importante porque ela analisa a legalidade, a procedência do que é pedido. Espero que a cultura, um dia, ainda seja levada a sério por aqui”, diz.
LEGADO
O mestre Junior Pimenta sucedeu ao seu pai, Mestre Zanza, no comando de um dos Ternos de Catopês e é o atual presidente da Associação de Catopês, Marujos e Caboclinhos. “Sinto a presença vibrante do meu pai a cada conquista. Ele dizia: ‘Catopê é minha vida, meu fi’, eu não vou estar aqui, mas vocês verão coisas grandes demais em nome dos Catopês. Tenho certeza de que ele está muito feliz no céu, junto dos outros mestres e dançantes que já partiram”, afirma.
Pouco antes do Mestre Zanza partir, os festejos de agosto já haviam perdido os Mestres Expedito e João Faria, que completavam a tríade dos Mestres de Catopês. Além deles, a Festa conta com duas Marujadas e um grupo de Caboclinhos. Na população montes-clarense e entre os integrantes dos grupos surgiu o receio de que a festa chegasse ao fim. Junior Zanza considera que o cenário de incertezas foi vencido. “Nós todos nos sentimos meio órfãos, mas o que nos dá força é saber que cada um dos seis mestres que estão conduzindo hoje, reflete a imagem do seu pai, do seu avô. Os fazeres e os saberes se perpetuam na descendência”, finaliza.