Os 123 festivais de cinema realizados no Brasil e os nove festivais de cinema brasileiro no exterior reuniram, em 2006, um público de 2.209.559 pessoas, segundo os organizadores dos eventos. Os dados foram apresentados nesta segunda-feira, dia 21 de janeiro, durante o lançamento do Diagnóstico Setorial 2007 / Indicadores 2006 dos Festivais Audiovisuais, realizado pelo Fórum dos Festivais.
O público do cinema brasileiro em salas de exibição, no ano de 2006, foi de cerca de 9,9 milhões de pessoas. Os festivais atingem, portanto, público equivalente a mais de um quinto dos espectadores que vão a salas de cinema para ver produções nacionais. O diagnóstico aponta que um público médio de 16.739 espectadores por festival.
Ana Paula Santana, chefe de gabinete da Secretaria do Audiovisual que esteve presente ao lançamento, destaca a importância da pesquisa para subsidiar políticas públicas e as ações das organizações do setor. “A secretaria, dentro de suas possibilidades, vem trabalhando a proposta de critérios específicos para as políticas de apoio aos festivais”, afirma.
Antonio Leal, integrante do Fórum dos Festivais e um dos coordenadores da pesquisa, também sinaliza que os dados devem ser usados para nortear as atividades do campo. “Dados importantes levantados pelo estudo apontam a ausência de eventos audiovisuais regulares em Roraima e no Acre e que a Região Norte é a região do país com menor quantidade de festivais. A existência desse tipo de informação aponta a necessidade de que se faça algum tipo de ação junto a entidades audiovisuais dos estados e das secretarias de cultura”, afirma.
O Diagnóstico Setorial 2007, inédito, foi realizado com apoio financeiro do Fundo Nacional de Cultura, do Ministério da Cultura, por meio de convênio com a Secretaria do Audiovisual. Para os organizadores, os festivais são “eventos que contribuem para implantar uma cultura audiovisual ampla, plural e diversa. Eles levam para as comunidades o estimulo à produção, à reflexão e à crítica audiovisuais, além de permitirem a articulação com outras regiões do país”, de acordo com Leal.
Veja aqui a íntegra do documento:
Distribuição pelo país
O número de festivais aumentou de 44 em 2000 para 132 em 2006, com aumento médio de 19,82% a cada ano. O maior crescimento ocorreu entre 2005 e 2006: foram realizados 36 novos eventos, um crescimento de 37,5%. Roraima e Acre são os dois únicos estados brasileiros que não têm registros de festivais de cinema.
O estudo aponta que a região Sudeste concentra a maioria (51,52%) dos eventos: são 26 em São Paulo, 20 no Rio de Janeiro, 18 em Minas Gerais e 4 no ES. Rio, São Paulo e Minas concentram também mais da metade do público.
No entanto, a pesquisa identifica crescimento dos eventos nas outras regiões brasileiras, e aponta que o aumento percentual dos festivais entre 2005 e 2006 foi maior nas regiões Norte (aumento de 80%) e Nordeste (42%), seguidos por Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Os estados RN, PB, AL, AP e RO tiveram primeiros registros de festivais em 2006. Apenas três estados (MA, SC e MS) tiveram menos festivais em 2006 que em 2005.
O estudo avalia que apesar do maior número de eventos estar concentrado na Região Sudeste, outras regiões do país apresentam festivais consolidados no circuito, com anos (e até décadas) de realização contínua e com enorme capacidade para alavancar negócios e parcerias com base no seu potencial artístico-cultural. A publicação conclui que “estas regiões têm papel fundamental para a dispersão da composição geográfica dos festivais pelo país. E mais: possuem forte potencial para o surgimento e fortalecimento de novas iniciativas”.
Cerca de 63,4% dos festivais são realizados em capitais e 36,59% são realizados fora delas. As regiões Sul e Sudeste têm menor participação de festivais em capitais (53,33 e 57,35%, respectivamente) e regiões Nordeste e Centro-Oeste têm cerca de 70% de concentração nas capitais (70% no NE e 72,72% no CO). No Norte, todos os festivais estão em capitais.
Municípios sem salas de cinema
O município onde a pesquisa foi lançada, Tiradentes, em Minas Gerais, é citado pelos organizadores como exemplo de uma das cidades brasileiras que não tem salas de cinema e no qual a população tem acesso a produções audiovisuais através de um festival. “O caso da cidade de Tiradentes é emblemático. Aqui não existe sala de exibição e a Mostra de Cinema transforma o município em verdadeiro espaço do cinema, construindo tenda, cinema na praça”, avalia Leal.
Curta metragem
O estudo aponta que os festivais são “plataforma indispensável” para os curta-metragistas. Em 2006, foram exibidos 9.048 sessões de curtas, 72,31% do total. Longa-metragens ficaram com 20,58% das exibições, e os média-metragens foram apenas 6,72%. “Não há outra janela de exibição no Brasil que se compare ao circuito dos festivais em termos de importância para difusão dos filmes curtos”, analisa o relatório.
Economia
A realização de festivais movimentou, em todo o país, durante 2006, R$ 59.976.403,00, com captação de recursos, parcerias, apoios, bens e serviços.
O estudo avalia que foram gerados quase seis mil empregos diretos durante o ano, com média de 45,31 contratações por evento. O levantamento aponta que as maiores médias de geração de empregos estão nos estados do Amazonas, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Ceará e festivais no exterior. São 100 empregos diretos para cada milhão de reais investido.
Recursos
Um total de 43,66% dos recursos usados para a realização de festivais foram originários da Lei Rouanet. Recursos de governos estaduais representam 12,14% dos orçamentos e verbas de leis estaduais de incentivo aportam outros 9,53%. Outra rubrica importante nos orçamentos é a de parcerias com empresas do setor de infra-estrutura audiovisual. O levantamento aponta que 10,13% dos custos do festivais são cobertos por parcerias com empresas do setor. Outros 9,67% provêm de investimento direto privado e 9,01% vêm de governos municipais. O Fundo Nacional de Cultura aporta 3,03% das verbas do total de festivais.
Formação
O Diagnóstico constatou que a história dos festivais brasileiros está ‘intrinsicamente vinculada às iniciativas de formação, reflexão e articulação’. Segundo os dados, ‘desde o I Festival Internacional de Cinema do Brasil (SP), organizado em 1954 por Paulo Emílio Salles Gomes e Rudá Andrade, já aconteciam debates, mostras informativas, cursos de formação’. Seminários, debates e mesas de dicussão são realizados em 71,97% dos festivais; e 60,61% dos eventos organizam oficinas.
O Diagnóstico mapeou os festivais nacionais a partir de dados do Fórum dos Festivais e do Guia Brasileiro de Festivais de Cinema e Vídeo (Kinoforum). Os organizadores dos festivais responderam a questionários sobre aspectos de perfil do público e das obras exibidas, segmento de atuação, ações de formação e de inclusão, economia do setor. (MinC)