Na verdade, esta obra, de estilo culto, erudito, com recursos a latinismos, perífrases mitológicas, alusões à História antiga, reflete um conhecimento profundo das culturas grega e romana por parte do autor, à qual não é alheia a sua educação. Esta obediência aos modelos formais e temáticos clássicos é, volta e meia, subvertida pela criatividade do poeta, nomeadamente nos momentos em que este faz rivalizar os heróis humanos com os deuses, destronando certas figuras mitológicas e elevando os homens à condição divina e recompensando-os com estímulos eróticos e afetivos (episódio da Ilha dos Amores) e intelectuais, permitindo-lhes a contemplação da Máquina do Mundo e o conhecimento do futuro. Para além destas subversões, o poema camoniano tem um herói coletivo - o povo português -, representado através de uma sinédoque - O peito ilustre lusitano - que visa o engrandecimento do Império e a expansão da Fé e da cultura europeia.