O que é o dia da mentira

Jornal O Norte
Publicado em 01/04/2010 às 10:35.Atualizado em 15/11/2021 às 06:25.

Michelle Tondineli


Repórter



Primeiro de abril é conhecido como o Dia da Mentira. Muitos costumam pregar peças nos mais desavisados. Felipe Ramos é dos que gostam de inventar mentiras na data. Ele diz que tudo começou quando o rei da França, Carlos IX, após a implantação do calendário gregoriano, instituiu o dia primeiro de janeiro para ser o início do ano.



- Naquela época, as notícias demoravam muito para chegar às pessoas, fato que atrapalhou a adoção da mudança da data por todos. Antes dessa mudança, a festa de ano novo era comemorada no dia 25 de março e terminava após uma semana, ou seja, no dia primeiro de abril. Algumas pessoas, as mais tradicionais e menos flexíveis, não gostaram da mudança no calendário e continuaram fazendo tal comemoração na data antiga. Isso virou motivo de chacota e gozação por parte das pessoas que concordaram com a nova data. Eles passaram a fazer brincadeiras com os radicais, enviando-lhes presentes estranhos ou convites de festas que não existiam. Tais brincadeiras causaram dúvidas sobre a veracidade da data, confundindo as pessoas. Daí o surgimento do dia 1º de abril como dia da mentira - afirma.



Aproximadamente duzentos anos mais tarde, essas brincadeiras se espalharam por  todo o mundo e a data ficou conhecida como o Dia da Mentira.



- No Brasil, o primeiro estado a adotar a brincadeira foi Pernambuco, onde uma informação mentirosa foi transmitida e desmentida no dia seguinte. A mentira, em 1º de abril de 1848, apresentou como notícia o falecimento de D. Pedro, fato que não havia acontecido. A Walt Disney criou o clássico infantil Pinóquio, que aborda o tema mentira, mostrando para a criançada o quanto mentir pode ser ruim e prejudicial para a vida das pessoas – diz.



Luan Daniel, amigo de Felipe e companheiro de mentiras, lembrou que      conta-se que tradicionalmente a mentira só pode durar o primeiro de abril e a brincadeira termina à meia-noite. Segundo dizem, mentir depois disso traz má sorte.



- Mas, isso é mais um mito. Muitos contadores de estórias mentirosos continuam depois e até mesmo durante o ano todo. Alguém que não consegue aceitar os truques ou tirar proveito deles dentro do espírito da tolerância e do divertimento também deve sofrer com a má sorte - conclui Luan.



CONTOS URBANOS CONHECIDOS EM MOC



O advento da internet como um meio de comunicação mundial serviu para facilitar as traquinagens dos mentirosos. Diz-se que em primeiro de abril vão os burros onde não devem ir. E a rede tornou-se mais uma opção para os pregadores de peças. 



Na região de Montes Claros, as estórias mais conhecidas são da Mulher de Branco e do Chupa- cabra.



Felipe Ramos diz que a Mulher de Branco tem várias versões. De acordo com ele, a mais conhecida em Minas Gerais é da Loira do Bonfim, que habitaria o Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte.



- Também existe a Loura do Banheiro, uma adolescente que, ainda em vida, se escondeu no banheiro de sua escola para não ser pega namorando pelos seus professores ou pela diretora. Por azar, escorregou no piso molhado do banheiro, bateu a cabeça no chão e morreu. Desde então, seu espírito passa assombrar e seduzir os garotos que ficam sozinhos nos banheiros das escolas ou aterrorizar as meninas que se arrumam muito na frente dos espelhos de banheiros escolares. Como toda lenda, para se livrar dela é necessário puxar os tampões de algodão de suas narinas, fazendo com que seu fantasma desapareça definitivamente – diz.



Felipe lembra ainda de outra versão da Mulher de Branco dentro das residências.



- Ela morreu no banheiro e a lenda diz que quem gastar papel higiênico e água como ela gastou vai morrer como ela. E se a pessoa jogar três pedaços de papel na privada e abrir e fechar a torneira três vezes vai se juntar ao espírito da mulher de branco e aterrorizar os banheiros do mundo afora. São estórias que existem há anos e não existe mais uma forma de falar que é mito - afirma.



Segundo Luan Daniel, outra grande história lembrada há muitos anos é do Chupa-cabra, que aterrorizou muitos fazendeiros.



- Chupa-cabra é uma criatura responsável por ataques sistemáticos a animais rurais. O nome da criatura deve-se à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico com marcas de dentadas no pescoço e o sangue alegadamente drenado - diz.



Para Maicky Soares Santos, a melhor forma de mentir sem ser descoberto é fazendo piadinhas.



- Eu costumo contar brincadeiras durante o ano, para mim é uma diversão. E costumo contar estórias engraçadas, como piadinhas inventadas na hora - finaliza. (MT)



CURIOSIDADES



· O Homem do Saco - Derivada dos mendigos que permeiam todas as cidades, essa lenda é usada pelas mães para assustar os meninos mal criados que saem para brincar sozinhos na rua. De acordo com ela, um velho mal vestido e com um enorme saco de pano nas costas anda pela cidade levando embora as crianças que fazem arte. Em algumas versões, o velho é retratado realmente como um mendigo, outras ainda o apresentam como um cigano; dependendo da região do país onde ela é contada. Há ainda versões mais detalhadas e cruéis, em que o velho mendigo ou cigano leva a criança para sua casa e lá faz sabonetes e botões com ela.



· Os Bonecos Malditos - Essa estória tem várias versões. Alguns dizem que a boneca da Xuxa era amaldiçoada e que à noite ela ganhava vida e matava as criancinhas, há também quem diga que, ao invés de matar as crianças, a boneca fazia com que elas matassem seus pais. Outros dizem que o boneco do Fofão vinha com uma adaga, ou uma vela negra, ou ainda um revólver dentro dele. Algumas versões mais estendidas diziam que esses bonecos eram fabricados por uma seita satânica e que essa seita os carregava com energias demoníacas para levar as crianças para o mal.



· A Mulher da Estrada - Essa também é muito conhecida, seu surgimento ocorreu em meados dos anos 50/60 devido ao grande crescimento de rodovias que se deu nesses anos. Na maioria das vezes, a lenda fala de uma mulher loira, que pode ser trocada por uma índia ou prostituta. Ela fica na beira da estrada pedindo carona para os motoristas que passam e, quando um resolve parar, muitas vezes caminhoneiros, ela conduz a pessoa até um cemitério próximo. Chegando lá, a bela mulher desaparece deixando o motorista sem entender nada e logo depois ele a reconhece na foto de uma das lápides. Em outras versões, ela simplesmente desaparece dentro do próprio veículo, depois o motorista descobre pelos moradores das redondezas que a moça havia sido atropelada há muitos anos naquela mesma estrada. Algumas vezes, antes de desaparecer, o espírito da mulher pede ao motorista que ele construa uma capela no lugar onde ele a encontrou para que assim ela possa finalmente descansar em paz. Há ainda versões em que ela se deita com o motorista, que, quando acorda no dia seguinte, descobre que ela simplesmente desapareceu sem deixar vestígios de sua existência. Uma versão mais sangrenta diz que a loira, antes de desaparecer, seduz o motorista, que, quando tenta beijá-la, acaba perdendo a língua.

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