Paula Machado
Repórter
Há é comum ver nas praças figuras como o engraxate, o fotógrafo e o vendedor de pipocas. São personagens vivos da cultura popular. Montes Claros não foge a essa regra. Na cidade também podem ser reconhecidos essas lendas vivas da cultura. Os engraxates, por exemplo, são figuras marcantes da região. Limpam e dão brilho a um sapato como ninguém, como é o caso do engraxate Getúlio Andrade Vieira da Rocha.
Engraxates pedem mais respeito
e compreensão às pessoas
(foto: XU MEDEIROS)
Getúlio trabalha na profissão há cinco anos, segundo ele é uma profissão muito interessante, mas que perante a sociedade é mal vista e sofre muito preconceito.
- É uma profissão como outra qualquer, dependo do meu trabalho para sobreviver e ajudar no sustento da minha família. Uma profissão digna, mas que é mal recebida pelas pessoas. Noto que muitas têm preconceito contra nós. Mas não ligo para isso - afirma ele.
De acordo com Getúlio, a maior dificuldade que ele e seus companheiros de serviço enfrentam é a ausência de clientes.
- Nossa maior dificuldade é a clientela. Devido ao receio das pessoas, não temos muitos clientes. Tem aquelas pessoas que nos prestigiam sempre, que sempre que podem passam aqui na praça para engraxar os sapatos, quero inclusive agradecê-las. Mas nem sempre é assim - explica Getúlio.
No momento em que prestava entrevista a O NORTE, também engraxava o sapato de um cliente. Quando perguntado sobre o trabalho do engraxate, o cliente teceu elogios.
- Sempre que posso estou aqui dando uma lustrada no sapato. Além de passear, da para distrair também. O trabalho deles é um trabalho digno. E são ótimos de trabalho, já tem um tempinho que venho aqui. Nunca erraram nem sujaram minha meia. E também são ótimos de papo, enquanto trabalham conversam com a gente -diz Florisvaldo Divino Oliveira, cliente de Getúlio, morador do Bairro Santo Antônio II e cobrador de ônibus coletivo.
Na fala de Florisvaldo podemos enfim quebrar a imagem falha que a sociedade tem deles e reconhecer que merecem respeito.
- Acho que deveria ser papel dos políticos, procurarem ouvir a minoria e tentar sanar os problemas. Nunca um político se inseriu dentre os pobres, procurando saber dos problemas que os mesmos enfrentam. Ta faltando isso no Brasil. Por que eles não param aqui para engraxar o sapato, saber das dificuldades que esses meninos enfrentam? - questiona Florisvaldo.
Segundo Perino Raydan, morador da Morada da Serra e representante comercial, os meninos são sinceros e honestos.
- São pessoas em que você pode confiar. Já tem quatro anos que engraxo meus sapatos com eles e nunca me arrependi. Todo mês estou aqui, marcando presença. Os engraxates já são culturas vivas da cidade. A praça sem eles não é a mesma. Para mim é também uma terapia - afirma.
Para quem tiver disposto a dar uma chance e prestigiar o trabalho desses meninos vencedores das dificuldades da vida, é só ir à Praça Doutor Carlos.