Jerúsia Arruda
Repórter
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Nesta sexta-feira, o 21º Salão Nacional de Poesia Psiu Poético recebe a poeta, compositora e cantora norte-paranaense Neuza Pinheiro, que lança o CD Olodango. Em sua apresentação, Neuza canta e acompanhada de violão e viola – instrumento que toca há apenas três meses. No repertório, canções do Cd Olodango e do trabalho intitulado Profissão de Febre, com poema de Paulo Leminski que foram musicados pela cantora durante mais de vinte anos, como ela mesma diz, apaixonadamente e com grande obsessão.
Neuza Pinheiro é filha de músico, foi crooner de orquestra, participou de vários festivais de música e de teatro e serviu de inspiração para o pesquisador paulistano Fábio Giorgio para escrever o livro Na boca do Bode (Atritoart-2006), onde narra a trajetória da artista.
Neuza conta que quando conheceu Paulo Leminski, em 1984, apresentado por Itamar Assumpção, foi desafiada pelo escritor a musicar seus textos.
- O Leminski tinha o raro dom da provocação e trouxe poemas em folhas soltas, espalhando aquela riqueza pela casa. Então percebi que a partir daquele momento eu tinha assumido como tarefa desvendar a música que já estava ali. Foi assim que, peça por peça, nasceu o Profissão de Febre, uma audição silenciosa e reverente de cada poema como peça única e viva. Na real, a música da poesia de Paulo é que vem construindo a poesia da minha música – conta a cantora.
Segundo Neuza, muitas das canções do projeto saíram das páginas do livro La vie en close, publicado após a morte de Leminski (o escritor morreu em 1989, aos 44 anos de idade).
- Também recolhi poemas esparsos publicados em jornais e revistas literárias, além de alguns, que ele mesmo me entregou. O gênero das canções é diversificado, indo da valsa ao blues, do samba-canção ao rock. Faz sentido. Porque ele tinha um espírito grandioso, fazia poesia para todos os mundos, era um aventureiro da linguagem, avesso a toda e qualquer fronteira – completa Neuza.
Socióloga, especialista em Saúde Pública e professora de uma escola municipal em São Paulo, Neuza diz que descobriu há poucos meses ter nascido para tocar viola e lembra que Profissão de Febre é sua primeira canção na instrumento.
- Tenho a alma sertaneja embora, pelas circunstâncias, tenha me travestido de cosmopolita. A revelação sobre a viola aconteceu em Minas, em Extrema. Fui lá visitar uns parentes e pintou um moço que tocava. Ele colocou a viola no meu colo e ela se aconchegou como se me conhecesse há muito tempo. E eu saí tocando ali mesmo, como se fossemos irmãs – lembra a cantora, cujos pais são mineiros de São Sebastião do Paraíso e Ubá.
OLODANGO
O CD Olodango foi gravado em 2002/2003 em Londrina, patrocinado pelo PROMIC-Programa Municipal de Incentivo à Cultura da prefeitura de Londrina/PR, através do Projeto Sonora, proposto pelos músicos matogrossenses Ângelo e Luciano Galbiati. Neuza conta que o projeto contemplou cinco compositores locais, tendo cada um recebido sua demo com qualidade técnica satisfatória para prensagem e distribuição, mas alguns não conseguiram ir adiante por falta de recursos.
- Só agora, em 2007, consegui uma tiragem pequena e acabada de Olodango, com recursos próprios e o apoio fundamental da Visualitá, agência de artes visuais em Londrina que desde o início se tornou minha parceira – completa.
Olodango é o primeiro trabalho solo da cantora, cuja linguagem musical foi inspirada na vida pueril em Cambé, no Paraná, e em outros tantos elementos que se juntaram para sua concepção.
- Minha tataravó bugresa tamborilando no meu DNA , minha avó materna - a nega Gercina - voz poderosa cantando hinos da igreja batista, Angela Maria cantando Babalú. Meu pai, com seu del vecchio almiscarado em solos oníricos de Abismo de Rosas, Som de carrilhões...Minha mãe ouvindo no rádio (e imitando) Carmem Miranda, Maysa, Dolores Duran, Marlene... Mais todo o sentimento cristão de pecado, culpa, medo, misturado a certa pobreza, a certo abandono, e um augusto sentimento matrágico de tudos. Mais o Samba-canção, Cascatinha e Nhana, Bossa nova, Tropicália, Mineiros, Jovem Guarda, televisão, internet... mais Billie, Thelonius Monk e os malucos com quem eu estive ao vivo, cantando e tocando junto – P.Patife, Clara, Beleléu, Catatau, Cisco Sandmann, Quelatá... E, sobretudo, a minha alma cabocla, sidérea e só, misturando, procurando algum tempero, algum descanso – diz.
Neuza Pinheiro se apresenta em Montes Claros, encerrando oficialmente a programação do 21º Psiu Poético. O show acontece nesta sexta-feira, 12 de outubro, às 21 horas, na sala Cândido Canela do Centro Cultural Hermes de Paula.