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Sexta-Feira,29 de Novembro

Música e literatura dãos as mãos

Jornal O Norte
23/09/2008 às 18:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:44

Paula Machado


Repórter

O músico e compositor Téo Azevedo, autor de 10 livros sobre cultura popular e escritor de mais de mil folhetos de cordéis, lança seu novo trabalho - Os cem anos de Guimarães Rosa, cordel que conta toda a vida do grande escritor mineiro.

Téo conta em exclusividade a O NORTE que em parceria com Walkíria Braga lançará o cordel que fala também sobre os cem anos de Godofredo Guedes em edição no dia 25 de outubro.

- Godofredo era meu amigo, convivi muito com ele. Quando eu era menino e engraxava sapatos costumava guardar minha caixa de sapatos na oficina dele, na Rua Rui Barbosa – diz.

Téo também é cantador violeiro e divulgador da cultura popular brasileira. Possui 20 trabalhos gravados, entre discos de 78 rotações, vinis e CD’s.

Ele é o compositor vivo que mais tem músicas gravadas na história do Brasil, algumas das quais interpretadas por artistas como Zé Ramalho, Milionário e José Rico, Jair Rodrigues, Gonzagão, Tonico e Tinoco, Sérgio Reis, Christian e Ralf, Genival Lacerda, Bobby Keys, Pena Branca e Xavantinho, Charles Musselwhite, Caju e Castanha, entre outros. É igualmente o produtor que mais produções musicais fez até hoje, com aproximadamente 3 mil trabalhos.

Participou também de alguns programas de rádio e TV como Globo Rural, Jô Soares, Ratinho, Viola minha viola, Ensaio, Hebe Camargo.

LITERATURA DE CORDEL

A literatura de cordel é um tipo de poesia popular oral, e mais tarde impressa em folhetos rústicos ou outra qualidade de papel, expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome que vem de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes.

São escritos em forma rimada e alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, o mesmo estilo de gravura usado nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos.

- Comecei fazendo cordel com 12, 13 anos de idade. Cantava nas feiras do Norte de Minas e no sertão da Bahia vendendo cordéis. Nesse ano de 2008 já devo ter lançado no mínimo umas trinta histórias, inclusive uma que conta a vida de Ruy Muniz – diz ele.

Para Téo, a literatura de cordel é muito importante, pois na época que não havia a mídia como a TV, o rádio, o impresso e a internet, o cordel funcionava como o jornal do sertão.

- Levava as informações em versos. Contava histórias de cangaço, fatos políticos entre outros – diz.

Ele, que herdou o dom de seu pai, que era cantador, afirma que a pessoa já nasce com o dom.

- Já nasci poeta popular. Foi uma coisa natural. Tem que ter a métrica e a rima no sangue. A gente aprende com a escola da vida – afirma.

Não há uma escolha específica do tema para a elaboração dos cordéis escritos por Téo. Ele explica que os temas que acha interessantes, que dão boas histórias, ele escreve.

- Os temas podem ser recentes ou até mesmo mais antigos. São temas da cidade, da região e até mesmo de todo o país. Os trabalhos são bastante valorizados, respeitado por várias pessoas.

O escritor Domingos Pascoali de Segala, no livro Hora da Comunicação, publicou como matéria uma música que ele, Téo, havia feito com Correia Neto: Velho Chico, em homenagem ao rio São Francisco.

- Fiz um cordel com 300 estrofes em sextilhas da vida de Juscelino Kubitscheck, o maior do Brasil. Tenho também um cordel pronto sobre a história de Cândido Canela, em septilhas. Cândido, para mim, era um grande ídolo, um grande poeta de Montes Claros. Ainda não tenho data para os lançamentos.

OS TRÊS MANDAMENTOS DO CORDEL

Segundo Téo Azevedo, para a pessoa interessada em fazer cordel, primeiro ela tem que nascer com o dom da poesia.

- Depois, aprender sobre os três quesitos básicos e muito importantes: a métrica, que são as sílabas do verso, a rima, que para os cordelistas tem que ser precisa, e oração que é o enredo escrito. A diferença do repente para o cordel é que o repente é cantado, improvisado, feito na hora. E o cordel já é escrito, pensado. Mas um é irmão do outro – explica.

Para Téo, são disciplinas que caminham juntas. Uma completa a outra. Estão sempre presentes na vida de um indivíduo.

- A música está presente em todos os momentos, começa do nascimento e perdura até o fim de nossos dias, da mesma forma que a literatura. A literatura sadia é muito importante para a formação e o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Ressalta ainda que a educação no país tem melhorado, mas que precisa avançar mais. Segundo ele, o Brasil já sofre descaso e exploração desde a época da colonização. - O vale do Jequitinhonha, por exemplo, é uma das regiões mais desfavorecidas de Minas. É como se fosse o quintal de Minas. E a educação é um dos assuntos que sempre tem que ser colocado em pauta pelos governantes para que possa ser cada vez mais aprimorada.

CORDEL NAS ESCOLAS

De acordo com Téo Azevedo, o cordel deveria ser matéria obrigatória nas escolas desde a alfabetização à formação de um indivíduo na instituição de ensino.  Quem lê o cordel, diz, aprende a estruturação de uma poesia. As informações escritas em versos conquistam mais rapidamente a atenção das pessoas.

- O cordel é uma forma de cultura importante e barata, mas parece que os governantes ainda não tomaram conhecimento disso – diz ele.

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