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Terça-Feira,23 de Setembro

Montes-clarenses exploram a cultura africana

Jornal O Norte
Publicado em 09/06/2009 às 10:55.Atualizado em 15/11/2021 às 07:01.

Michelle Tondineli


Repórter



No ano 2000, Montes Claros começou a conhecer a cultura africana, o item que abriu as portas para a inovação foram as máscaras. O Presidente dos Tambores dos Montes Hilário Bispo, fala que a idéia da produção de máscaras, começou em 2006, quando aconteceu o FECAN - Festival de cultura e arte negra.



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Produção inicial das máscaras.



- Uma das oficinas que deu mais certo foi à oficina de culinária e a oficina de máscaras. As máscaras sempre foram usadas em todas as civilizações, inclusive a africana, que trabalha muito com traços como nariz, boca e olhos grandes - explica.



O destaque deste produto é que todo o material vem do lixo. São usados objetos como papelão, pedras, pedaços de madeira, espelhos quebrados, fibras e outros.



- O que for achado no lixo nós estamos pegando para fazer a produção destas máscaras. E o interessante é quando você pega os materiais a ideia surge com facilidade para a produção do trabalho, sendo necessário só colocar em prática - afirma.



EXPOSIÇÃO



Durante o mês de maio, próximo ao dia da abolição dos negros, é exposto no centro cultural Hermes de Paula, objetos produzidos pelos tambores dos Montes. Este ano a exposição contou com 27 novas máscaras, sendo que oito delas foram produzidas pelo presidente da casa.



- Nós pegamos as produções das oficinas e expomos para que as pessoas possam conhecer um pouco sobre a cultura africana, como prova disso, nós vamos a escolas, montamos oficinas e ensinamos sobre o meio ambiente e a história das máscaras, sendo também uma pequena fonte de renda para nós se vendermos os materiais em um bom preço – conta.



A equipe tambores dos Montes é composta por nove pessoas, onde cada um faz a sua produção para exposição, sendo elas sobre encomendas ou não. Para o próximo ano Hilário revelou que pretende fazer um salão, para que possa existir uma premiação e valorização do artista.



FUTURO



Para o crescimento da cultura negra, Hilário fala que está procurando formas de expor esta cultura fora da cidade de Montes Claros, assim o conhecimento e a beleza do trabalho poderá ser visto por todos.



- Porque o que não é visto não é comentado, e esta é a nossa nova idéia de fazer máscaras africanas, trabalhamos em cima das máscaras de nossos ancestrais mesmo - relembra.



PRODUÇÃO



A produção é realizada em dois dias, para o material ser pintado, cortado e produzido. Mas Hilário explica que não é o ideal.



- O ideal seria ter uma semana para arrumar o material, para pintar e cortar, pois a tinta depois de alguns dias tem uma nova tonalidade. Deve ser guardado em um local que não pega umidade. Vale lembrar que uma  máscara nunca fica igual a outra, ela pode ficar parecida - afirma.



ANTES DA CULTURA AFRICANA



Antes de trabalhar com a produção de máscaras africanas, Bispo trabalhava como aprendiz de cerâmica.



- Pegava cerâmica pronta e já pintava, mas guardava a produção para mim mesmo, no ano de 1985. A proposta para expor para o público começou recentemente, quando conheci as máscaras – diz.



Para mais informações sobre os tambores do montes e seu trabalho visite o site http://www.tamboresdosmontes.blogspot.com.



HISTÓRIA



As máscaras sempre foram às protagonistas indiscutíveis da arte africana. A crença de que possuíam determinadas virtudes mágicas transformou-as no centro das pesquisas. O fato é que, para os africanos, a máscara representava um disfarce místico com o qual poderiam absorver forças mágicas dos espíritos e assim utilizá-las em benefício da comunidade: na cura de doentes, em rituais fúnebres, cerimônias de iniciação, casamentos e nascimentos. Serviam também para identificar os membros de certas sociedades secretas.



VALOR



Quanto à sua interpretação, a tarefa é difícil, na medida em que não se conhece sua função, ou seja, o ritual para o qual foram concebidas. Os colonizadores nunca valorizaram essas peças, consideradas apenas curiosidade de um povo primitivo e infiel. O auge da arte africana na Europa surgiu com as primeiras vanguardas, especificamente os fauvistas e os expressionistas.



Estes, além de reconhecer os valores artísticos das peças africanas, tentaram imitá-las, embora sempre sob a ótica de suas próprias interpretações, algo que colaborou em muitos casos, para a distorção do verdadeiro sentido das obras.



Entre as peças mais valorizadas atualmente estão: Fon, fang, Ioruba e bini, e as de Luba. A arte africana chegou ao Brasil através dos escravos, que foram trazidos para cá pelos portugueses durante o período colonial e imperial. Em muitos casos, os elementos artísticos africanos fundiram-se com os indígenas e portugueses, para gerar novos componentes artísticos de uma magnífica arte afro-brasileira.

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