Michelle Tondineli
Repórter
As Festas de agosto deste ano contam com a presença do grupo Capoeirando, que desde 2000 tem como finalidade resgatar e preservar a cultura afro-brasileira. A luta contra o preconceito ainda continua, e o presidente do Centro cultural Capoeirando, Sidney Alves da Silva conta que essa situação em Montes Claros ainda é complicada.
- Apesar das dificuldades, com quase nove anos de funcionamento, a cidade é muito preconceituosa quando se trata de cultura negra, mas é um preconceito camuflado. Quando falamos de capoeira, a sociedade fala que ninguém trabalha, que somos malandros, mas, ao contrário, nós desenvolvemos trabalhos sociais com a nossa cultura da região - diz.
Sidney é formado em Geografia, e explica que às vezes algumas entidades realizam trabalhos culturais e não sabem explicar direito.
- Nós queremos transformar esses jovens em cidadãos e não só porque queremos capoeira. Falamos sobre a cultura afro-brasileira, infelizmente, o ensino do Brasil limita o aprendizado quando se trata de cultura brasileira - diz.
Sidney conta que o grupo realiza apresentações de capoeira, camucalelê, samba de rede, samba de roda e outros. O grupo tem 150 crianças na cidade e, contando com a cidades com as quais faz parceria (Francisco Sá e Brasília de Minas), o grupo tem cerca de 350 pessoas.
- Temos quatro lugares em que realizamos o nosso treinamento. No Alto São João, no Village do Lago, Renascença e nas escolhinhas particulares que alguns monitores criaram. As aulas são divididas em turnos vespertinos e noturnos, as turmas são dividas pelo desenvolvimento, adultos de um lado, jovens de outro - comenta.
Ele reconhece que o trabalho de ensinar a esses jovens é complicado, mas não nega ser recompensador.
- É um trabalho demorado e difícil porque o histórico familiar dos jovens é meio complicado. Alguns não gostam de respeitar as regras, porque em casa já existem muitas. Financeiramente, não recebemos nada, mas mostrar a transformação é muito gratificante, porque a capoeira é muito valorizada fora, existe capoeirista médico, dentista, fisioterapeuta e com outras profissões. Infelizmente, nós estamos perdendo a nossa identidade cultural. O brasileiro levou a capoeira para vários lugares - frisa.
Sidney fala que não é permitido que seus alunos bebam, fumem ou lutem capoeira na rua, sem permissão. A finalidade do grupo é ensinar o que as escolas de hoje não contam sobre a cultura afro-descendente.
- Eu tenho alunos que não conhecem o Zumbi dos Palmares, aí, quando chega o dia 20 de novembro, eles querem que nós apresentemos... Já teve escola que colocou dia 19 de novembro como o dia da consciência negra. Como é possível as pessoas desenvolverem um projeto se elas não sabem nem o dia? - questiona.
Ele complementa que os negros brasileiros estão lutando para que Zumbi dos Palmares seja reconhecido herói nacional. Além de procurarem jovens para serem cidadãos e não somente capoeirista.
- Nós não somos malandros, viemos de um sofrimento grande, a capoeira é para não reprimir o negro. Assim, fazemos rodas abertas na rua, e somos abertos para apresentações. Já aconteceu de um ponto de comercio nos expulsar da rua, as vezes os capoeiristas batem o pé, mas hoje sabemos o preconceito da sociedade é grande - explica.
Sidnei explica que este vai ser o segundo ano em que Moc tem o feriado municipal. E que as apresentações das festas de agosto valorizam um pouco da cultura, mesmo que seja em palco.
- O primeiro ano foi motivo de piada, protestos, o povo reclamava que ia atrapalhar, acho que esse tipo de preconceito nunca vai acabar. Estudiosos querem descobrir de onde veio a origem da capoeira, mas não seria o momento ideal - diz.
Para fazer uma roda de capoeira e participar dela, basta procurar o Sidner na escola municipal do Alto São João as terças e quintas, no Renascença na segunda e na quarta, e no Vilage do Lago, aos sábados na escola municipal do Narciso, com instrumentos como berimbau, tabaco, pandeiro, cachichi, reco reco e outros.
- Acredito que a cultura dos jovens das nossas escolhinhas hoje aumentou muito com relação a cultura negra, e ela trabalha principalmente com a contribuição que o negro deu aqui para o Brasil, trabalhamos a musicalidade, a percussão, a culinária, vários fatores em que os ensinam a valorização, fugindo daquele ensinamento só da escola e que mesmo existindo a data do negro, eles vem contribuindo nos outros 364 dias do ano, aumentando muito o conhecimento, complementa.