
Montes Claros se transforma em um vibrante palco cultural de 13 a 17 de agosto com as Festas de Agosto, onde tradições centenárias como os cortejos de catopês, marujos e caboclinhos ganham vida nas ruas. No Centro Cultural Hermes de Paula, a exposição “Yara Tupynambá e os Festejos Populares” destaca a arte da renomada artista local, capturando a essência e a fé do povo norte-mineiro.
Nascida em 1932, Yara Tupynambá ao longo de sua vida, retratou memórias, cores e sons das festividades populares de Minas Gerais, sobretudo aquelas realizadas no norte do estado e na região do Vale do Jequitinhonha. A filósofa, educadora, poeta, escritora e artista plástica Felicidade Patrocínio relembra que Yara viveu intensamente as Festas de Agosto em Montes Claros.
“Atraída pelas cores, acompanha o cortejo; Yara entoa um canto piedoso, em devoção aos santos do tríduo, e ‘batiza as fitas’, cortando-lhes uma ponta. Yara é do sertão na longitude de sua ascendência. E o sertão é o mundo. Lateja em seu sangue o caudal das raças fundidas. Traz na alma um sentimento do outrora, que a sustenta no fluxo da vida. Yara faz arte, grande arte. Pinta esta festa. É artista: o rio de poesia que carrega dentro de si, em busca de desaguar, não trai sua memória”, afirma Felicidade Patrocínio, artista plástica e pesquisadora cultural.
PARCERIA
Sobre o processo de selecionar e trazer para Montes Claros as 25 obras que compõem a exposição “Yara Tupynambá e os Festejos Populares”, Tairine Pena, gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, conta que a escolha foi feita com extremo cuidado.
“Selecionamos 25 trabalhos de Yara que retratam, com sensibilidade, as manifestações populares de Minas Gerais, especialmente aquelas ligadas à fé, à cultura e ao cotidiano do povo mineiro. Trazer essas obras para as Festas de Agosto é uma forma de celebrar e valorizar essa conexão entre arte e tradição”, afirma.
Ao falar sobre como a fundação busca, com iniciativas como essa, fortalecer a relação entre arte, memória e identidade cultural nas cidades do interior, Tairine destaca: “Ao ocupar espaços como Montes Claros com obras tão potentes, promovemos o encontro entre a produção artística e as vivências locais — e fazemos com que mais pessoas se vejam representadas no campo da arte”.
E quanto à expectativa em relação ao público durante as Festas de Agosto, ela acrescenta. “Esperamos que o visitante se emocione, que se reconheça nas imagens, nas cores, nos gestos retratados por Yara. Que sinta orgulho da nossa cultura e saia com o coração tocado, levando ainda mais carinho pelas tradições que fazem parte da nossa história”.
Geraldo Porfírio da Silva, presidente do Instituto Memorial Yara Tupynambá, destacou a importância de trazer de volta a Montes Claros obras que registram de forma tão profunda as Festas de Agosto e as tradições da região.
“Essas festas populares, como as de Montes Claros, com os cortejos dos catopês, sempre tiveram um significado especial para mim. A cidade vive intensamente essas manifestações religiosas, e Yara também tem um carinho enorme pelo tema. Sempre que podia, incluía os catopês em suas obras, mesmo quando a exposição não era especificamente sobre eles.
Por isso, trazer essas pinturas para cá é, de certa forma, realizar um desejo dela. É como fechar um ciclo, especialmente por ser Montes Claros a cidade onde nasceu. Acho que o município e sua população ganham muito com isso. Yara é uma artista mineira que retrata com profundidade a alma de Minas: o ciclo do café, o ciclo do diamante, as festas populares, os congados. Tudo isso está espelhado em sua arte, que carrega uma forte mineiridade. Que esta seja, portanto, uma celebração gloriosa!”, afirmou.
A coordenadora do Centro Cultural Hermes de Paula e artista visual Luana Z disse ser com emoção que recebe a exposição. “Ainda mais por ela ocorrer aqui, em Montes Claros, cidade natal da artista. Essa seleção, que destaca os festejos populares do Norte de Minas, em especial as Festas de Agosto, possui um significado profundo: ela revive, homenageia e mantém viva a lembrança emocional e cultural de uma comunidade, por meio de uma poética visual, lírica e marcante. A arte de Yara sempre foi uma inspiração para mim. A forma como ela narra visualmente as complexidades e belezas do cotidiano mineiro, com respeito e poesia, é uma herança que atravessa gerações”, conta Luana.