Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Só de andar pelas ruas a gente sabe que chegou o natal. Com a entrada do equinócio que marca o início da mais quente e provocante estação do ano - o verão, o céu se torna iluminado e brilhante ainda bem cedo e, à medida que as horas vão passando, o calor se torna sufocante e o sol escaldante torra os miolos de quem se arrisca rua afora, quase sem enxergar sob a claridade absoluta.
De vez em quando, para quebrar a luz trêmula do sol que se espelha no asfalto até que este se pareça molhado, cai uma chuva ligeira e inesperada, com pingos grossos e esparsos, empapando os desavisados. E depois da chuva, o calor faz com que os cheiros de dezembro fiquem ainda mais intensos. Misturados ao cheiro de terra molhada que o asfalto não consegue impedir que se exale mistura ao aroma de mangas e pequi, vendidos no carrinho de mão, às dúzias.
O burburinho do comércio vem de multidões à caça de um último presente, uns para o amigo que chegou sem avisar, outros para gastar os últimos reais que sobraram do 13º para comprar uma lembrancinha para o filho caçula que jura que Papai Noel vai colocar em seu sapatinho à meia-noite.
Para alguns, natal é festa, mesa farta, taça cheia de vinho - nesta data pode se permitir o excesso mesmo que tenham que dirigir depois da ceia, afinal é natal, não é mesmo? - Para esses, o ano muitas vezes termina mais cedo, e a vida também, já que beber e dirigir não combina. O pior é que levam outras vidas junto.
Para outros, é dia de sonhar olhando as estrelas brilhantes no céu, pedir a Deus que o ano vindouro seja tão bom quanto o que está acabando, mas que traga junto aquele emprego que há tanto se espera, que não falte comida à mesa e que dê para manter os filhos na escola até o fim do período letivo. No mais, é agradecer por estar vivo, com saúde e cheio de esperança para recomeçar.
Natal é especial porque é dia de aniversário. O aniversário de Cristo - o ungido, em grego -, e por causa dele algo novo paira no ar. Na verdade o dia 25 de dezembro é igual aos outros, mas a sacralidade que lhe conferimos com a troca de presentes, a roupa nova, a ceia, as luzes e o jingle bells soando em nossos ouvidos nos faz lembrar que o Eterno veio morar entre nós, mesmo considerando o fascínio e mistério que envolve a data.
Ninguém registrou de forma exata o dia do nascimento de Jesus e, por isso, alguns historiadores dizem que os cristãos escolheram o dia 25 de dezembro porque, neste dia, se comemorava no oriente a festa pagã do deus invicto. Neste dia o sol aparece menos intensamente, mas não se apaga por completo. Ao escolherem este dia os cristãos, cristianizando a festa pagã, estavam afirmando ao mundo que Jesus é a luz que nunca se apaga. O substantivo Deus em sânscrito é Dew, que quer dizer Luz. Segundo os historiadores, dizer Bom Dia!, é o mesmo que dizer que a Luz esteja com você durante todo dia. Que Deus (Luz) te acompanhe. Talvez, se olharmos por esse ângulo, fica fácil entender por que natal é tempo de Luz brilhar no coração do mundo.
Os evangelhos canônicos, Mateus e Lucas, trazem a presença do anjo Gabriel no anúncio da concepção do menino Jesus. Os evangelhos apócrifos contam outras histórias.
Mas, independente dos que contam uns ou outros, a verdade é que Jesus continua nascendo em nossos dias, a cada dia. O tempo da história se divide em antes de Cristo e depois de Cristo, o que por si só, já mostra a grandeza do seu nascimento: o filho de Deus que veio morar no meio de nós. Na sua humanidade se revelou a Deus e na sua divindade se fez igual a nós.
E sempre que há justiça em nosso meio, quando há paz, fome zero, direito de sonhar, educação para todos, fraternidade, Cristo está nascendo de novo.
Se para você isso ainda não está acontecendo, então, é porque ainda não é natal.