Michele Tondineli
Repórter
A peça política Num gabinete, do grupo teatral Tatu será apresentada hoje e amanhã no Centro Cultural, pela 8ª Mostra de teatro de Montes Claros. O objetivo da peça é transformar a visão do público em relação à vida cotidiana, segundo seus autores.
De acordo com o autor Ayrton Trevisan, a ideia de escrever a peça surgiu da necessidade e das muitas tentativas de se criar um espetáculo próprio.
- A vontade de escrever surgiu de uma vez. A dúvida foi sobre o que escrever. Seria sobre um casal apaixonado? Uma família? E por que não sobre política? Aí, as ideias foram fluindo e continuamos a escrever - diz
- Quando estou dirigindo uma peça, o ator tem a liberdade de criar, atuar e interpretar seu personagem. Desta forma, todos nós conseguimos criar um espetáculo divertidíssimo. A ideia surgiu assim de repente, com a ajuda de todos. Era o que o grupo precisava, uma maneira original de falar de política. Foram dois meses para escrever o espetáculo e quatro meses para ensaiar - diz
De acordo com a atriz Vanessa Cavalhero, a história é de um vereador não tão corrupto, e de sua assessora.
- O vereador é uma pessoa muito humilde, do bem, legal, e a sua assessora é muito submissa ao emprego, no qual existe a troca de favores, que é normal entre políticos e eleitores. A secretária trabalha lá devido a uma troca de favores do vereador com a mãe dela, porém, ela não quer trabalhar lá. Além do mais, ela representa os dois braços e as pernas dele, sabe dos casos, dos trambiques e de tudo da vida dele- diz.
Ayrton explica que, em Montes Claros, o teatro é muito carente de patrocínio:
- O figurino é por conta dos atores, e o cenário é montado com o que temos disponível, que geralmente são móveis da nossa casa que levamos. E para fazer o gabinete, é bem simples: usamos uma mesa, um computador e uma cadeira.
Segundo o diretor, o teatro em Montes Claros não mudou muito. Para ele, a diferença é que, antes, não existia público, o que ocorre hoje.
- Acho que, naquela época, a cidade era industrializada e hoje ela é universitária. Então, os universitários têm a cultura diferente, eles são o público alvo. Temos um público melhor que há sete anos, aconteceu uma reviravolta. E, com essa 8ª mostra, o teatro está ganhando força. Temos que melhorar - diz
Vanessa revela que é a primeira vez que realiza um trabalho no teatro tão grande:
- Como comecei novinha, sempre fiz papéis pequenos, sem aparecer muito. Esta é a primeira vez que sou protagonista de uma peça de teatro. A expectativa é alta, estou com medo de errar, de cair, tropeçar, mas, como a peça é comédia, a gente improvisa e espera que dê certo.
(foto: MICHELLE TONDINELI)
Pai e filha se dão bem no palco.
Ayrton faz parte do ramo de teatro há 30 anos, e Vanessa há 10. Assim, pai e filha criaram o grupo de teatro Tatu. Ayrton explica que perdeu a vergonha de montar um espetáculo com público diminuto:
- O grupo Tatu foi criado com a necessidade de cutucar as pessoas, de chamar a atenção e de ser diferente. É a maneira que eu tinha de falar da realidade, através da arte. Então, de todos os espetáculos que nós montamos, Montes Claros nunca teve nada igual.
- Quis sair daqueles espetáculos de casais, de coisas corriqueiras que não fazem efeito e não instigam as pessoas.
O grupo é composto por 20 pessoas. Ayrton conta que o processo de seleção de atores muitas vezes é feito por convite, mesmo que a pessoa não seja ator. Como prova disso, o nosso ator principal, o vereador, é novato.
O diretor fala que é muito difícil fazer teatro em Moc, e que a atividade não é lucrativa:
- Acho que vale a pena fazer este trabalho. Como prova disso, ofereço cursos sem cobrar nada, e não vivo do teatro. O teatro é apenas lazer e paixão, eu quero contribuir para alguma coisa. Dar aula de graça é uma maneira de tirar os jovens da marginalidade. A minha trajetória social sempre foi voltada para isso, mas faço o que gosto, sem exigir muito.
Está no sangue do grupo Tatu trabalhar em família. Pai e filha lutam juntos para realizar um sonho que não é ligado a dinheiro, que proporciona apenas prazer.
Vanessa Cavalhero conta como é fácil trabalhar com o pai:
- É fácil trabalhar como meu pai, porque nos damos muito bem, o nosso pensamento é parecido e isso facilita o nosso relacionamento. Quando trabalhamos, ele é diretor e eu sou atriz, e tenho que respeitar e acatar o que ele fala, sabendo diferenciar para não atrapalhar em nada.
Também para Ayrton, trabalhar com a filha é muito gratificante, pois é necessário enxergar a semente plantada.
- Você tem que plantar uma semente, para ela dar frutos e crescer. E hoje, ela é uma árvore que está dando frutos bons, tenho netos que também procuram seguir o caminho. A relação de diretor e atriz, pai e filha é bem dividida - diz.
Vanessa concorda com o pai:
- Quem faz o espetáculo é o ator. Se a cena é triste e você não está triste, é o diretor que vai saber isso, tentando sempre guiar. Espero que as pessoas prestigiem a nossa peça e valorizem o teatro de Moc.