Os grupos de teatro Kutuca o Tatu e Grande Palco se unem em espetáculo, promovendo a interação entre atores e o fortalecimento da classe
Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Artistas e público de Montes Claros se preparam para mais uma jornada de espetáculos teatrais. A Mostra de Teatro, que acontece de 6 a 29 de julho, mobiliza grupos teatrais que vêem no projeto uma oportunidade de mostrar suas produções, e de interação entre si e com os grupos visitantes.
Realizada pela AARTET - Associação dos artistas e técnicos em diversão de Montes Claros, durante 23 dias a mostra vai apresentar 22 espetáculos e quatro intercessões, abrindo espaço para grupos de toda a cidade e região.
O diretor Airton Trevisan, do Kutuca o Tatu e o ator
Vitor Oliveira, do Grande Palco (fotos: Wilson Medeiros)
De olho no público que sempre comparece em grande número, os grupos intensificam os ensaios para que os espetáculos estejam prontos e façam bonito durante a mostra. Nessa perspectiva, alguns diretores desafiam os limites impostos pela cultura comportamental dos atores da cidade que, inconscientemente, criam uma certa concorrência entre os grupos, e se juntam para produzir espetáculos juntos.
Esse é o caso dos grupos Kutuca o Tatu e Grande Palco, que se uniram para a montagem do espetáculo A farsa do fanático torcedor, uma comédia que conta a paixão de dois torcedores, um atleticano e outro cruzeirense, que de 4 em 4 anos se encontram para torcer pelo Brasil. Na comédia, os dois torcedores convergem as recorrentes diferenças e desentendimentos criados pelo fanatismo pelos respectivos times em direção a Paulo Rossi, jogador da seleção italiana tido como o carrasco do Brasil quando fez os três gols que eliminaram a seleção brasileira da copa do mundo da Espanha, em 1982.
O espetáculo é dirigido por Airton Trevisan, do grupo Kutuca o Tatu, e interpretado por Vítor Oliveira, Jhefferson Vianna e Patrícia Maia, do grupo Grande Palco.
Airton diz que o teatro em Montes Claros está evoluindo e preciso acompanhar os novos tempos.
- Houve uma época em que o teatro de Montes Claros, apesar de ser muito ativo, era feito por atores sem muita preparação técnica. Hoje, com a chegada de outras faculdades que viabilizaram o acesso à formação superior, além de aumentar a criticidade do público, contribuiu para conscientização dos atores em buscar pela qualificação técnica. Com isso, a busca por oficinas e cursos de preparação com outros grupos teatrais mais experientes, além da formação superior criou um novo universo para o ator, que tenta se aprimorar a cada dia. Junto com isso vem a superação dos limites morais que muitas vezes impedem o ator de interpretar um determinado papel, fazer uma cena nu, por exemplo, e também, vencer as diferenças entre os grupos, que se unem para fortalecer a classe. Se antes havia muita rixa entre os grupos, hoje estamos fazendo peça juntos – argumenta Airton, 51 anos, 34 deles trabalhando como ator.
Vitor Oliveira, 19 anos, diz que o encontro com outro grupo é muito enriquecedor.
- Como as produções são sempre feitas em grupo, acabamos por criar um estilo e linguagem próprios que se tornam a identidade dos nossos espetáculos. O que é muito bom. Essa oportunidade de interação com outro grupo abre um novo universo estético, onde descobrimos novas formas no fazer, no criar. É uma troca muito enriquecedora - diz o ator, que também faz parte da direção do grupo Grande Palco.
INICIAÇÃO TEATRAL
Os dois grupos têm em comum o trabalho de iniciação teatral. De acordo com Airton, o Kutuca o Tatu desenvolve um trabalho na escola estadual Quita Pereira, no bairro Edgar Pereira, com participação de cerca de 40 alunos em oficinas e aulas de preparação e iniciação para atores.
Já o grupo Grande Palco foi formado na escola estadual Professor Plínio Ribeiro – Escola Normal.
- Durante muito tempo fomos conhecidos como o grupo dos alunos da Escola Normal, e isso nos deixava meio à margem dos outros grupos, porque parecia ser apenas uma experimentação, sem comprometimento ou intenção profissional. Então resolvemos estudar teatro e formar uma companhia com espetáculos dirigidos, cobrar ingressos nas apresentações, e agora estamos no mesmo patamar dos outros grupos da cidade. Mas entendemos que tudo isso só foi possível graças à oportunidade que tivemos na escola. Então decidimos devolver o que recebemos em forma de oficinas, e uma vez por semana damos aulas de iniciação teatral para os alunos da escola estadual Helena Prates, no bairro JK – diz Vitor.
O espetáculo A farsa do fanático torcedor está entre os concorrentes para se apresentar durante a mostra. De acordo com o presidente da AARTET, Vinícius de Almeida, foram inscritos 40 espetáculos e 10 intercessões entres os quais serão selecionados 22 espetáculos e 4 intercessões.
A mostra acontece de 6 a 29 de julho com apresentações no centro cultural Hermes de Paula.