Michelle Tondineli
Repórter
A primeira exibição de cinema no Brasil aconteceu em julho de 1896, no Rio de Janeiro. Um ano depois já existia uma sala fixa de cinema, o Salão de Novidades Paris, de Paschoal Segreto. Os primeiros filmes brasileiros foram rodados entre 1897-1898. Uma vista da baia da Guanabara teria sido filmada pelo cinegrafista italiano Alfonso Segreto em 19 de junho de 1898, ao chegar da Europa a bordo do navio Brèsil. Por isso, 19 de junho é considerado o dia do Cinema Brasileiro.
Segundo o especialista em cinema Elpídio Rocha, a filmagem do italiano surgiu porque ele havia comprado uma câmera na Europa e resolveu filmar a baia da Guanabara.
- Nunca foi exibido este filme e parece que ainda existem fotografias do filme, mas grande parte se perdeu com os anos que foram passados. Um problema não atingiu apenas o cinema, mas sim a história como um todo e não só no Brasil - explica.
O coordenador do curso de Jornalismo da Funorte acrescenta que dessa forma o Brasil, esta próximo do cinema mundial. Um país que sempre produziu muita arte, e um país que sempre consumiu muita arte.
Hoje o Brasil está entre as dez maiores bilheterias mundial do cinema, por isso quando um filme estréia nos EUA, ele estréia no Brasil, pois ele está inevitavelmente incluído.
Junto aos grandes lançamentos sempre vem alguém ligado ao filme para a divulgação, um ator ou diretor, já faz parte da agenda cinematográfica.
A HISTÓRIA
Elpídio explica que do período de 1897 ate hoje o Brasil vai passando por várias fases na década de 20 e 30, que teve as produções feitas dentro do país para o consumo interno.
- Na época que se levou muito público ao cinema, até porque não existia aquela distribuição em massa do cinema americano, também porque o cinema era mudo, era simplesmente a imagem, contando uma história, de uma maneira mais clara. Existia o encantamento, se mantendo até a década de 1930 - completa.
No inicio da década de 30 acontece a grande depressão americana, atingindo toda a produção de filmes. Sendo ai, que o cinema americano insiste em uma produção e distribuição de filmes, até os Estados Unidos conseguir superar todo o trauma da depressão e continuar confiando no país.
De acordo com Elpídio é ai que os governantes vão descobrir que o cinema é uma grande arma de se trabalhar a ideologia e vender a mensagem. Sistematizando o processo de produção até os dias de hoje, faturando de cinco a sete bilhões de dólares só o cinema, sem incluir games, quadrinhos, televisão a cabo, seriados e internet.
Com essa distribuição, todos os países sofrem com uma concorrência desleal, pois surge Hollywood, a fábrica de ilusões, deixando o público feliz, independente de serem filmes de comédia, romance, drama, policial e outros.
- O Brasil começa a lidar com isso por etapas na década de 40 com a chanchada. Momento áureo, até os anos 50, com Vera Cruz, tipo cinema europeu, sem dar certo, porque a maior parte da grana fica com a Colômbia - revela.
Na década de 60 passa a existir o movimento social de utilizar o cinema como um movimento de arte e desenvolvimento cultural, no qual o país passa por uma característica dos anos 60, que vai desenvolver o cinema novo. Criando toda a áurea da qualidade do cinema, como os diretores Arnaldo Jabour, Caca Dieseis, Nelson Pereira dos Santos e principalmente o Glauber Rocha.
Na década de 70 com a ditadura militar o governo começa a investir sistematicamente na produção de filmes, através da Embrafilmes, querendo usar o cinema como um movimento de conscientização popular, de defesa da concepção de cultura que o governo militar possui, e filmes de grandes produções brasileiras.
- Principalmente filmes históricos como Chica da Silva, Independência ou Morte, que exaltam a cultura brasileira. E esta década também tem uma perspectiva de trabalhar com o sexo porque a indústria vai realizar a pornorchanchada, a fase áurea, a imagem de filme brasileiro que só tem palavrão e sexo, que tem, fazendo mais sucesso. Cristiane Torlone, Vera Ficher, meio ingênua e de humor - conta.
Já na década de 80, com o surgimento do quarteirão do lixo, na boca do povo, em São Paulo, próximo a boates e travestis, transformando-os em “atrizes” para produção de filmes. Criando o DVD brasileiro erótico, com uma saída extraordinária não só dentro do país como fora.
PRODUÇÕES
O cinema ainda no fim da década de 70 e no inicio da década de 80 tenta desenvolver uma produção mais artística, que serão os filmes de grande bilheteria, por causa do sistema de distribuição que a Embrafilmes implanta no país, que pode até competir com o sistema americano, criando as grandes bilheterias do filme brasileiro.
- As grandes produções como Chica da Silva, do Caca, Os Incofidentes do Joaquim Pedro de Andrade, e o grande campeão, Dona Flor e seus dois maridos do Luiz Carlos Barreto, entre 12 e 14 milhões de expectadores, tanto em qualidade artística, elenco e interpretação a Sônia Braga esta extremamente natural. È ai que a Sonia Braga começa a fazer carreira internacional. A família Barreto sabe produzir cinema seja pelo poder que concentrou ou pelo tipo de cinema desenvolvido - afirma.
O especialista, completa que este período da Embrafilmes é interessante, pois as pessoas são atraídas para o cinema, que acabou quando surge o governo Collor, que fechou todo o sistema de produção do país.
- É claro que as produções continuam, mas de baixa qualidade e sem lançamentos, pois os donos de cinema se recusavam a produzir filmes brasileiros porque competiam com filmes estrangeiros como Indiana Jones, Star Wars e outros de grande renome – Comenta.
Este processo aconteceu até o inicio de 94, mudando com as leis de incentivo do Itamar Franco, e o processo de retomada como grandes produções, como Carlota Joaquina e Quatrilhos são os primeiros filmes brasileiros que em anos conseguem concorrem ao Oscar e ganhar prêmios de bilheterias. É uma demonstração de que o público brasileiro estava querendo ver filmes brasileiros.
Logo após, no processo de retomada surgem grandes sucessos como o Carandiru, Tropa de Elite, Cidade de Deus, Dois Filhos de Francisco, Se eu Fosse você 2, A Grande Família, O Auto da Compadecida. O trabalho de produção cinematográfica passa a imitar o modelo americano ou francês, realizando filmes de gêneros, como comédia, drama, romance, policiais.
- Os cineastas trabalham com aquilo que atraem o expectador ou incomodam como os filmes: Amarelo Manga, o Cheiro do Ralo, Lisbelula e o Prisioneiro, O Homem que Copiava, com umas produções, dando um determinado publico e os filmes planejados para ser um sucesso, com boa imagem, bom som, boa fotografia, fala Elpidio.
ATUALIDADE
O país tem uma trajetória muito rica, e passa a produzir filmes que são de consumo rápido para o entretenimento, agradáveis de assistir como Anjos e Demônios, Startreck.
- É um cinema construído com um objetivo político, o cinema é uma mídia, uma manifestação artística, que transmite uma mensagem ideológica de conhecimento nos paises, rende muito dinheiro. O Brasil tem que investir no cinema, porque as pessoas devem se ver no cinema, é diferente de ver novela, videoclipe, um show, a experiência é daquelas que você mergulha de cabeça. O cinema de periferia da dinheiro, mas o problema é como, porque nosso cinema é todo de shopping, nesta estrutura o cinema é importante por fazer parte de uma área de entretenimento que atrai as pessoas, um sistema ideológico e de conscientização - ressalta.
O cinema é uma reserva cultural, que utiliza de sabedoria e democracia, usando o imaginário. As pessoas procuram se identificar com um personagem no filme, procura entende-lo e acaba sendo bom para satisfazer a auto-estima. È um produto que necessita ter incentivo do governo para ir adiante.