No próximo sábado, dia 04, o Cinema Comentado Cineclube e o CineSesc apresentam Cinemaníaco (1979), uma inspirada experiência fílmica do polonês Krzysztof Kieslowski. O protagonista Filip Mosz compra uma câmera cinematográfica para filmar a filha que acaba de nascer. O acaso faz com que Mosz se torne um cineasta amador que irá fazer um filme sobre a fábrica onde trabalha. O sucesso da produção faz o operário se tornar obcecado pelo cinema. À medida que ele mergulha em sua atividade cinematográfica, seu casamento irá se deteriorar.
Em Cinemaníaco, Kieslowski nos propõe perceber o cinema como uma forma de observação da vida. É possível notar um questionamento do cineasta sobre a natureza do olhar documental. Não é um tema gratuito. O filme é uma espécie de rito de passagem entre a fase “realista” e os trabalhos ficcionais do autor.
Ao produzir um documentário que irá interferir em sua vida, seja como funcionário da fábrica, seja como marido e pai, o personagem nos sugere a impossibilidade de um olhar objetivo, que não sofra influências e que também não interfira no mundo ao redor. Dessa forma, não existiria uma percepção objetiva do real. Como conseqüência, nossos julgamentos também não seriam "neutros", ou seja, isentos de valores.
Cinemaníaco traz elementos que Kieslowski voltaria a desenvolver em seus trabalhos consagrados como o poder do acaso em conduzir o destino dos personagens ou o questionamento dos valores que moldam o homem. É uma “obra de formação” do cineasta e já oferece pistas do que estava por vir. Não é pouca coisa.
A classificação indicativa é livre. O Cinema Comentado Cineclube, em parceria com o CineSesc acontece todo sábado, a partir das 19h, no Sesc-Pousada Montes Claros: Rua Viúva Francisco Ribeiro 199. A entrada é gratuita e há sempre um bate-papo após as exibições.
No domingo, dia 05, o CineSesc e o Cinema Comentado Cineclube exibem A dupla vida de Véronique (1991), uma das obras-primas do mestre Krzysztof Kieslowski. Véronique vive em Paris, Weronika em Varsóvia. A atriz Irène Jacob (A Fraternidade é Vermelha) interpreta essas duas mulheres que nasceram no mesmo dia e que, de alguma maneira, à distância, sentem a presença uma da outra. Essa estranha conexão interfere em suas vidas e relacionamentos.
Consagrado depois de ter feito para a televisão o Decálogo, Kieslowski foi convidado pelos franceses para trabalhar nessa co-produção, cujo resultado é um filme delicado e sensível, contado da maneira muito particular do cineasta (cuja morte prematura, em 1995, foi um terrível golpe para o cinema). Ele acreditava que era possível existir duplos, pessoas em lugares diferentes do mundo que são praticamente iguais.
Ao som da trilha sonora de Zbigniew Preisner, uma das mais belas da história da sétima arte, o diretor constrói um drama de imagens inesquecíveis. A interpretação suave e emocionante de Irène Jacob chama a atenção nos primeiros instantes do filme, parece que cada detalhe foi antes minuciosamente trabalhado para, em conjunto, comporem uma brilhante harmonia. Ela traz uma singularidade tão imensa às personagens a ponto de não se imaginar as mesmas sendo interpretadas por outra pessoa. Vale ressaltar que a atuação de Jacob lhe rendeu o prêmio de melhor atriz, no Festival de Cannes.
A dupla vida de Véronique é um filme que, praticamente, “vibra” com toda a paixão e talento de Kieslowski. Uma produção em que fantasia, música e narrativa tão peculiar capturam a atenção do espectador oferecendo-lhe momentos raros de poesia e encantamento. Classificação indicativa: 16 anos.
MOSTRA O CINEMA POÉTICO (E POLÍTICO) DE KIESLOWSKI
11/12 – A Cicatriz (1976)
12/12 – A Liberdade é Azul (1993)
18/12 – A Igualdade é Branca (1994)
19/12 – A Fraternidade é Vermelha (1994)