Adriana Queiroz
Repórter
Em Porteirinha, norte de Minas Gerais, ele era conhecido como Neném. Um menino que saía de casa cedo para vender biscoitos para a mãe dona Célia. Era a melhor forma de ajudar a família, em especial seus quatro irmãos: Geraldo, Júnior, Rejane e Ramone.
Adriana Queiroz
- Meu pai comprava algodão, também trabalhou como motorista, mas separou da minha mãe quando eu estava com 13 para 14 anos. Então fui trabalhar, vender pão de queijo que minha mãe preparava. Me lembro que voltava para casa feliz. Não sobrava um - conta.
Neném aproveitava o tempo livre para ouvir os discos de vinil. Tinha de tudo: Benedito de Paula, Perla, Scorpions, entre outros. Nesse mesmo tempo, começou a trabalhar no salão de beleza. Cuidava do look dos porteirienses. Cortava, fazia escova.
- Mesmo com o trabalho no salão, eu continuava vendendo os biscoitos para os meus amigos. Isso ajudava na alimentação, no aluguel - diz.
Aos 17 anos, Neném conheceu Liliane, uma moça simpática, que ia sempre a Porteirinha visitar os avós e aproveitava para cuidar do cabelo.
- Me apaixonei, me lasquei - brinca.
Neném então decidiu mudar para Montes Claros, de mala e cuia. Trouxe a mãe, os irmãos e sobrinhos. Não conhecia quase ninguém. Foi à luta com uma tesoura e um secador na mão.
-Acreditei no sonho. Peitei! - desafia o menino que hoje é reconhecido como Kennedy Moraes, um grande profissional da beleza.
TRAJETÓRIA
Sua primeira experiência nos Montes Claros foi quando fez um teste no Vips cabeleireiros, que funcionou por muito tempo na Rua Gonçalves Figueira. Na época, o Vips era considerado o melhor salão do Norte de Minas.
- Imediatamente, comecei a trabalhar com a equipe de Medeiros, proprietário do salão. De Neném surgiu então o Kennedy. Recebi muito incentivo lá dentro. A Geny, que era esposa do Medeiros, brigou muito por mim. Agradeço muito a ela. Eles me apresentavam os clientes e muitas vezes passavam para eu atender. Com isso fui subindo os degraus. Lá eu aprendi muita coisa. Era um salão de grande porte. Uma casa que te dava condições de trabalhar - conta.
Sobre as suas clientes, ele lembra, saudoso, de dona Augusta Linhares, esposa do empresário José Linhares.
- Eu ia até a casa dela para atendê-la. Cuidar de suas madeixas. Uma mulher humilde - lembra.
Para Kennedy, o trabalho de cabeleireiro não se resume apenas em deixar a cliente mais bonita.
- Na verdade, acaba que somos psicólogos e terapeutas. Você dialoga com o cliente, tenta ajudar de alguma maneira. Somos um pouco de cada coisa. No final, fica tudo entre nós. E tem outra coisa, meus clientes frequentam minha casa e eu as deles. Eles são meus amigos - acrescenta.
Kennedy trabalhou no Vips durante 05 anos e quando este fechou as portas em Montes Claros para mudar para Blumenau-SC, foi junto com a equipe.
- Depois de dois meses eu fui pra lá. Fiquei apenas três meses. Era muito frio. Outra coisa: os ricos moravam nos morros e os mais humildes no centro. Isso por causa do Rio Itajaí, que na época das enchentes levava as casas. Eles então achavam por bem morar no morro. Era seguro. Mas era também caro - diz.
De volta para Montes Claros, Kennedy foi trabalhar no Vila Della, foi sócio do Baton e em seguida resolveu montar seu próprio negócio. Hoje, ele atende sua seleta clientela na Rua Justino Câmara, 115, Centro, pertinho da Matriz, num sobradinho de mais de 170 anos.
O PRAZER DE CANTAR
Mas o que Kennedy gosta mesmo de fazer é cantar. E canta de tudo, em diferentes estilos: forró, axé, romântico e brega.
- Adoro! Para mim é um orgasmo. Quando estou no palco, não tenho vergonha de expor o que sinto. É maravilhoso contagiar as pessoas. Fã do rei Roberto Carlos, Kennedy diz que é um apaixonado pelo trabalho do cantor da jovem guarda, especialmente o CD que ele fez em homenagem à esposa Maria Rita.
- As músicas são lindas. Sinto paz ao ouvir - avalia.
APRESENTAÇÕES
A primeira vez que subiu em um palco foi quando a Mobralteca apareceu em Porteirinha. Um caminhão acoplado com uma biblioteca onde aconteciam shows de calouros. O evento aconteceu na praça principal da cidade
- Cantei Menina Veneno, do Ritchie e ganhei a medalha de ouro no concurso - comemora.
Kennedy não só recebeu aplausos nessa vida, já foi vaiado e aproveitou do momento para mandar seu recado.
- Uma vez cantando num clube, no playback, numa certa altura, me vaiaram. Eu então pedi para repetir a música e aproveitei para falar de coragem, de ter peito para enfrentar um público, que eles deveriam prestigiar a iniciativa, enfim. No final, acabei sendo aplaudido de pé.
Isso é bom para crescer, melhorar - conta.
Kennedy também já participou da banda Cosmos, apresentou-se nos bares Zodíaco e Chico da Silva, que funcionavam próximo ao Aeroporto. E sempre que tem festa na cidade, especialmente nos clubes, lá está ele no palco.
- Quando vejo microfone ou escuto música ao vivo, fico louco - conta.
Uma vez, a pedido de uma cliente, foi parar no programa do Faustão.
- Ela ganhou a promoção de uma loja da cidade e me levou junto para cantar em um dos quadros do programa. Ela ganhou a mobília toda da casa dela e eu ganhei fama. Foi muito bom conhecer a produção, fui muito paparicado. Não recebi bens, mas só de estar lá já valeu a pena. Dei até autógrafos. As pessoas me cumprimentavam no aeroporto, fui reconhecido no ônibus, no frescão. Recebi ligações até do Rio Grande do Sul, enfim, foi muita repercutida a minha participação.
Para Kennedy, além de cantar, o que lhe dá muito prazer é estar próximo das pessoas, conviver com elas, o contato, o carinho.
SONHOS
Cantar profissionalmente e ser reconhecido. É dessa maneira que Kennedy pretende seguir adiante com seus sonhos.
- Preciso de tempo para preparar. Não realizei isso ainda porque não corri atrás. Mas ainda vou fazer. Que seja amanhã ou depois, ainda não sei. Estou plantando, cantando ali, acolá...
AMOR DE VERDADE
Para ele, a companhia da esposa Liliane é algo precioso. Onde ele está, lá está ela, do lado, juntinho.
- Ela é uma mulher maravilhosa e me ama de verdade. Família é tudo. Quando estamos em casa, não dispensamos um churrasquinho, programa em família. Na vida é preciso lutar, com vontade, dignidade. Plante algo de bom que você colherá frutos. Nada cai do céu! - observa.
E com os olhos cheios de lágrimas, ele finaliza.
- Agradeço muito minha mãe, ela que sempre esteve do meu lado. Mãe, minha joia preciosa, a mais valiosa de todo o mundo...