Cinema é ferramenta de terapia

Jornal O Norte
24/10/2008 às 09:09.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:47

Fabíola Cangussu


Repórter

Especialistas afirmam que o cinema além de entreter, desempenha a função de ajudar o expectador a trabalhar as emoções como a tristeza, baixa auto-estima, ansiedade e em muitos casos, a depressão.

Certamente todos que já assistiram a filmes, ou mesmo novelas, e se emocionaram com um reencontro entre pais e filhos, alegrou-se com um beijo apaixonado, ou mesmo já desejou que o bandido fosse punido. Todas essas emoções, garantem os especialistas, ajudam na identificação das situações vividas nas telas com a de cada pessoa.

- Já é consenso universal de que a arte imita a vida, por isso se torna cada vez mais comum o uso do cinema como instrumento de estudos das emoções. Nas próprias faculdades de psicologia os filmes são usados como objeto de discussão. Estudantes analisam os perfis dos personagens, fazem a análise, acompanham o desenvolvimento e anotam todas as oscilações. Em seguida formam grupos de discussão e tendem a traçar os diagnósticos e descobrir quais as linhas de tratamentos devem ser seguidas. Isso é feito inclusive nos cursos de aperfeiçoamentos de nossa área – afirma o psicólogo Ramiro Sancho.

Segundo o psicólogo, algumas instituições médicas, como hospitais e até mesmo casas de apoio a doentes de câncer, já utilizam a cinematerapia, abordando temas ligados a questões familiares, perdas, luto, preconceitos, envelhecimento e até mesmo a lidar com sua própria morte.

- Nós  utilizamos os filmes no processo de terapia há muito tempo, porém agora, essa técnica saiu de dentro dos consultórios para ser adotada também dentro dos hospitais. Eles utilizam com o mesmo objetivo. Nos consultórios indicamos os filmes, como se fosse uma tarefa de casa, conforme o conflito vivido pelo paciente, depois conversamos sobre as suas impressões. Nos hospitais o diferencial é que existem sessões mais abertas em que médicos, pacientes e demais profissionais envolvidos participam juntos da sessão, e depois tendem a falar sobre o tema, refletindo sobre os padrões comportamentais da sociedade. É uma ferramenta poderosa, pois nos permite discutir com o paciente quais os pontos chamaram mais a atenção, e se conseguiram identificação em algum momento com a situação – explica Ramiro.

A fiscal Rita de Cássia Pereira, 33, moradora do bairro Santa Rita, diz que os filmes têm o poder de despertar suas emoções.

- O que me chama atenção para um filme é o título. Costumo ver comédia, pois consegue me relaxar, e eu aprendo a rir de mim mesma, o que me torna mais flexível com meus erros – comenta sorrindo Rita.

Fábio Sampaio, assessor de eventos, morador do Cintra, diz que o cinema tem o poder de discutir questões muitas vezes evitadas dentro dos lares, como o preconceito.

- Existem dilemas que no geral não se discutem em casa. Os preconceitos são exemplos disso. Não falamos sobre como conviver com o idoso, violência doméstica, homossexualidade, racismo, inclusive em relação a algumas doenças, exemplo disso é o câncer e a Aids. Através dos filmes temos a oportunidade de vivenciar tais situações que serve como aprendizagem. Caso passemos por ela na vida real, já temos uma experiência prévia, o que nos ajuda saber como reagir – ressalta Fábio.

Além dessas vivencias Ramiro explica que ao assistir a uma história o telespectador consegue se desligar da realidade para viver outra história, possibilitando experimentar novas emoções.

- Com esses exemplos vividos nas telonas, as pessoas constroem uma imagem do que desejam ser e, passam a ser roteiristas de suas próprias vidas, mesmo que de forma inconsciente – garante o especialista.

Silvana Mendes, caixa de supermercado, concorda com essas possibilidades, mas lamenta não ter muito tempo de assistir aos filmes. Ela diz que a correria do dia-a-dia não a permite, sente falta de se distrair curtindo um bom thriller.

DICAS DE FILMES PARA TRABALHAR

Tristeza - o filme Duas vidas, com Bruce Willis no elenco, mostra uma nova maneira de avaliar as escolhas tomadas ao longo da vida, dando motivação para que as pessoas ajam de acordo com seus sonhos.

Outra recomendação é Em Busca da Felicidade, estrelado por Will Smith. Na trama o personagem passa por diversas dificuldades até atingir o seu objetivo, dando um exemplo de perseverança e força de vontade.

Ansiedade - a obra Cidade dos Anjos, com Nicolas Cage e Meg Ryan, apresenta uma trama repleta de romantismo, na qual um homem não mede esforços para viver um amor verdadeiro.

Solidão - vencedor do Oscar de melhor roteiro original Telma e Louise, com Susan Sarandon e Geena Davis, ressalta o valor da amizade, através da aventura de duas amigas que decidem passar um fim de semana nas montanhas do centro-oeste norte-americano. Outra opção é Antes de Partir, com Jack Nicholson, Morgan Freeman e Sean Hayes no elenco. O filme retrata a amizade entre pessoas de personalidades opostas que encontram o valor da vida, ao perceberem que estão com os dias contados.

Baixa auto-estima - também vencedor do Oscar de melhor roteiro original, o filme Pequena Miss Sunshine mostra, com muito humor, como os padrões de comportamento e beleza impostos pela sociedade são efêmeros e ressalta a união de uma família formada por diferentes personalidades que se complementam

Morte – Antes de Partir, que relata o momento que dois pacientes descobrem que têm pouco tempo de vida.

Luto – Os. Eu te amo trabalha questões ligadas à perda de um ente querido.

Fonte: Cinematerapia

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