Samuel Fagundes
Repórter
A Asmoc - Associação dos surdos de Montes Claros reuniu-se terça feira, 27, com seus associados, familiares e amigos, com o intuito de redigir um documento reivindicando o direito ao uso gratuito do transporte coletivo. Atualmente, as carteirinhas que garantem o transporte gratuito só são concedidas a deficientes físicos, cadeirantes e cegos, ficando de fora os surdos e deficientes mentais. Estiveram presentes à reunião aproximadamente 40 pessoas, que foram conscientizadas da importância dessa luta.
Segundo a vice-presidente da Asmoc, Rosana Froes Santos, a carteirinha do lotação é um direito dos surdos, pois já existe em várias cidades brasileiras. Ela explica que a lei municipal nº 2693/99 diz que a pessoa com deficiência física ou cadeirante e o cego têm direito a esse benefício.
- Os surdos e as pessoas com deficiência mental estão excluídos dessa lei, que deveria ser de inclusão. Essa mesma lei diz que os surdos e os deficientes mentais que estudarem em escolas especiais têm direito a essa carteirinha, e o surdo já esta inserido em escolas regulares, que são onde se encontram os intérpretes – diz.
Ainda segundo Rosana, muitas vezes as escolas com intérpretes para os surdos ficam muito distantes, o que dificulta a vida do surdo:
- Então, é necessário que ele vá até uma escola que tenha intérpretes, e geralmente essas escolas são regulares, e com isso os surdos perdem o direito à carteirinha. O ideal seria que houvesse mais escolas com intérpretes, e também escolas próprias para o surdo, que ensine o objetivo da pessoa surda, com currículo adaptado. É um problema linguístico, não só emocional ou cultural, porque o surdo é usuário da Língua Brasileira de Sinais (Libras), nas escolas regulares é usado o oralismo, e o surdo às vezes não pode participar de verdade.
A vice-presidente da Asmoc diz ainda que se não conseguir seu objetivo, que é o direito ao passe livre no transporte público, a entidade irá pedir ajuda a outras associações e também à Federação nacional de surdos.
A CARTA
Na reunião foi redigida uma carta, assinada pelas pessoas que se encontravam presentes, que será levada à câmara municipal, ao prefeito Tadeu Leite e tambem à Transmontes. A intenção, segundo Rosana, é sensibilizar as autoridades e o poder público de que os surdos e as pessoas com deficiência mental têm esse direito. Se a lei não for mudada, a Asmoc pretende fazer uma passeata em protesto e, se for necessário, irá acionar a justiça.
- É um problema sério que não vamos deixar demorar mais, porque os surdos e os deficientes mentais voltarão às escolas na semana que vem, então, é preciso que tenham bom senso e consciência de que precisam participar das aulas. Sabemos que há uma demora para que a lei seja modificada, até pela burocracia exigida, mas nós pedimos que os surdos e as pessoas com deficiência mental tenham o direito de utilizar o transporte coletivo gratuitamente até a lei ser revista, mas sem nenhum constrangimento.
DIFICULDADES
Rosana conta que às vezes o surdo vai à casa de uma pessoa que ele não sabe qual é o ônibus que vai pegar, e fica angustiado porque não tem informação visual e ele pode até se perder. Segundo ela, existe uma barreira na comunicação e o surdo pode acabar parando no lugar errado, e por isso a comunicação visual é necessária. Ainda há a necessidade dos trocadores e motoristas de ônibus entenderem a Libras.
- O surdo tem muita vontade de que todas as pessoas aprendam Libras, porque é uma língua brasileira, o português é cobrado para o surdo aprender, mas e o ouvinte precisa ter uma igualdade. O surdo aprende português e o ouvinte deveria aprender a linguagem brasileira de sinais para assim termos uma comunicação de verdade - conclui Rosana.
SERVIÇO
A Asmoc foi fundada em 15 de agosto de 2002 e tem 146 associados. Nasceu da necessidade de inclusão dos surdos na sociedade montesclarense. Para ser um associado, a pessoa tem que ser surda, mas existe o Amigo da Asmoc, que é aquela pessoa que conhece o trabalho da associação e as necessidades da pessoa com surdez, e que pode participar de tudo na associação e ajudar da maneira que lhe for possível.
A sede da Asmoc, fica na Rua Raul Soares, sem número, Centro, na Casa da Cidadania.