Continuação
8.Apologética como testemunho pessoal
Quanto mais intimidade uma pessoa tem com a Palavra de Cristo, mais ela será habilitada para expressar essa relação de amor para as demais pessoas. O testemunho pessoal alegre e consistente é arma poderosa na luta contra a incredulidade. O apóstolo João revela grande amor e profunda intimidade com Cristo. Uma leitura atenta de suas cartas, por exemplo, oferece-nos, além do conteúdo inspirado das Escrituras, uma visão clara do amor de João para com Jesus. O modo como ele escreve demonstra toda sua devoção e piedade para com o seu Senhor e Amigo. Isso impacta profundamente o modo como falamos às pessoas a respeito de Jesus Cristo.
9.Apologética como apresentação de Jesus Cristo como Deus
É muito mais agradável do ponto de vista humano considerar Jesus Cristo como Salvador. Não à toa, as mensagens mais comuns acerca do evangelho são de que “Jesus Cristo salva”. Contudo, devemos também entender que Cristo não é somente nosso Salvador, ele é também nosso Senhor. Ele governa nossa vida e dirige toda a nossa história. Cristo é o Todo-poderoso Deus, que criou todas as coisas visíveis e invisíveis (Cl 1.16-18), sem ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.3). Ele é o criador e sustentador de todo o universo (Hb 1.3; 11.3). A apologética bíblica reconhece o poder e a majestade de Cristo, Criador e Senhor: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4.11).
Depois de apresentar esses nove tópicos, Sire oferece sua definição de apologética: “A apologética cristã apresenta aos olhos do mundo tal personificação cativante da fé cristã, que para qualquer pessoa, ou para todos os que estiverem dispostos a considerá-la, haverá um crível testemunho intelectual e emocional de sua verdade fundamental” (SIRE, 2023, p.19).
Desse modo, devemos reconhecer as diversas maneiras de atuarmos como defensores do evangelho. Sobre todos nós cristãos pesa a bem-aventurada responsabilidade de revelar Cristo às pessoas, a partir de uma mensagem clara, não deturpada, mas adaptada às realidades de cada audiência. Devemos pedir a Deus sabedoria e graça para que sejamos eficientes e eficazes como instrumentos do Senhor na proclamação da obra de Cristo.
Creio que umas primeiras razões por que devemos ser apologetas é o que Alister McGrath percebeu: “A apologética celebra e proclama a solidez intelectual, a riqueza imaginativa e a profundidade espiritual do evangelho, de tal modo que possibilita a interação com a cultura”.
Celebração, proclamação e interação. Essas três palavras nos orientam quanto algumas das principais razões por que devemos ser apologetas.
De fato, ao percebermos o que as Escrituras nos dizem acerca do Deus Criador e Senhor, devemos celebrar o brilho de sua glória (Sl 19.1). Além disso, devemos proclamar a grandeza de sua graça em nossa salvação (Ef 2.1-10). O brilho da glória da graça de Deus nos impulsiona a pregar o evangelho na cultura onde estamos, ainda que estranha (Sl 138.1-8; At 17.16-31).
O apologeta deve ter a firme convicção de que o cristianismo não é mais uma opção, mas a única opção segura e verdadeira de religião (Jo 14.6). A Grande Comissão de Jesus Cristo dada aos apóstolos e, por meio deles, à Igreja, ordenou que devemos “fazer discípulos de todas as nações” (Mt 28.18-20). E a razão por que devemos fazer discípulos se fundamenta na autoridade que Cristo tem sobre toda a criação: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18).
Jesus Cristo é representado e se torna visível no mundo por meio de dois holofotes: o primeiro, de modo interno e invisível, mas não imperceptível, é o seu Espírito Santo, que testemunha a verdade divina nos corações e nas consciências dos homens, testificando em favor da salvação promovida por Cristo ou comunicando a condenação pela rejeição à sua Palavra; e o segundo, de modo exterior e visível, é a sua igreja.
A igreja cristã é, de acordo com o apóstolo Paulo, “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 2.23). Por “plenitude” (p????µa – pleroma), Paulo quis se referir à completude da pessoa e do ministério de Cristo, a tudo aquilo que está inserido na coleção de sua pessoa e obra e no conjunto de tudo o que ele fez. A igreja é a plenitude, porque nela o Senhor exerce o seu reinado completo e é por meio dela que ele espalha ao mundo seu evangelho.