São Romão, minha terra querida, onde vivi os primeiros anos de minha vida, completa 100 anos de emancipação. Mas sua história vem de muito longe e quando a escrevi em 2010 “De Vila Risonha a São Romão: história, tradição e lendas”, tive a oportunidade de conhecer muitos fatos, alguns até pitorescos, vindos da tradição oral. Um deles conta como foi a chegada dos revoltosos em 1930:
“O vapor Barão de Cotegipe estava ancorado no porto com um reforço da polícia baiana, esperando os revoltosos que iam invadir São Romão. Como o ambiente estava tranquilo, resolveram fazer uma festa a bordo, como sempre acontecia quando os grandes vapores pernoitavam ancorados no porto. Muitas moças da cidade, Banda de Música, baile... (meu pai contava que ele mesmo foi encarregado de vigiar se eles andavam por perto, tendo avisado à policia que já se aproximavam).
Lá pela madrugada, os revoltosos invadiram São Romão, atirando por todo lado. Segundo o Sr. Juquinha, que participou do fato e a quem entrevistei, as balas zuniam e ninguém se atrevia a sair nas ruas. Todos se refugiaram dentro das casas e as mulheres se escondiam debaixo das camas. O medo era muito grande. Muitos se refugiaram na ilha. Os homens da polícia que estavam no baile do vapor foram correndo pegar as armas e trocar de roupas e as moças ficaram escondidas no porão. Houve grande troca de tiros e como a polícia estava vencendo, eles recuaram e ficaram escondidos na barra do Urucuia e atacaram o vapor, mas a polícia baiana venceu, alguns morreram e outros fugiram.
Enterraram dinheiro e ouro nos ladrilhos das casas e em cima das árvores. Os revoltosos chegavam nas fazendas e trocavam os cavalos cansados por outros. Outro fato pitoresco contado pelos mais antigos: ‘as canoas para a travessia até à ilha davam preferência às mulheres e crianças. Um homem vestiu-se de mulher e embarcou junto, só sendo descoberto até chegarem à ilha.’