“Esses profissionais precisam ser especializados em lidar com nossa comunidade e nos tratar com respeito”, comenta Kai Segundo sobre a criação do ambulatório na cidade (arquivo pessoal)
Ainda este ano, o município de Montes Claros ganhará um ambulatório dedicado à comunidade LGBTQ local. Após mobilizações lideradas pelo Movimento LGBTQIA+ dos Gerais (MGG), Associação Arco-íris do Amor, Aliança Nacional LGBTQIA+ de Montes Claros e Conselho da Igualdade Racial, uma série de reuniões culminou na decisão tomada na última quinta-feira (11) na Secretaria Municipal de Saúde. Na ocasião, foi reconhecida a necessidade de um ambulatório específico para a comunidade LGBTQ, que funcionará em colaboração com a Secretaria de Saúde, Equidades de Políticas e a Comissão de Diversidade da Ordem dos Advogados do Brasil, subseção de Montes Claros (OAB). A Policlínica do Alto São João foi escolhida como o local para sua instalação.
José Cândido de Souza Filho, conhecido como Candinho, presidente do MGG, destaca a necessidade de um Ambulatório específico para essa população. “O ambulatório contará com diversos especialistas em saúde, incluindo médicos de família, psicólogos e psiquiatras, que vai adaptar às necessidades emergentes para garantir um acolhimento adequado à comunidade LGBT”, destaca.
“Infelizmente, ainda o maior preconceito vem de casa ainda, da família, então a gente pediu para incluir todos os profissionais necessários nesse ambulatório, que será um símbolo de referência para a população”, diz Candinho.
Clodovaldo Júnior, advogado e presidente da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero, explica que a participação da Ordem dos Advogados (OAB) na criação do ambulatório se baseia no funcionamento do Comitê de Equidade em Saúde, iniciado desde o ano retrasado pela Secretaria Municipal de Saúde. “Este comitê inclui representantes de coletivos LGBTQIA+ locais e outros órgãos, realizando reuniões articuladas para apresentar demandas específicas da comunidade LGBTQIA+ em relação aos serviços de saúde. A OAB também envia ofícios à secretaria, ressaltando a importância de políticas públicas voltadas para essa comunidade”, relata.
Para Júnior, esse ambulatório é importante para a comunidade LGBTQIA+ por ser crucial para melhorar o acesso à saúde, considerando as desigualdades que enfrentam. “Muitas vezes, ao buscar atendimento, especialmente travestis e pessoas transexuais, enfrentam falta de respeito quanto ao nome e acesso a processos de adequação ao gênero. Mulheres lésbicas também relatam dificuldades no atendimento ginecológico. Portanto, políticas públicas voltadas para essa comunidade são essenciais para garantir tratamento digno e igualitário”, afirma.
PROCURA
“Espero encontrar endocrinologistas, psicólogos e psiquiatras, além de pediatras. Porque, embora não seja muito discutido, também há muitas crianças trans no país, embora esse assunto não seja abordado. Esses profissionais precisam ser especializados em lidar com nossa comunidade e nos tratar com respeito, pois, já enfrentei desrespeito nos hospitais da cidade no passado”, relata Kai Segundo, homem transexual de 27 anos.
“Assim que for inaugurado, acho que a comunidade pode encontrar nesse espaço um local de acolhimento e espero que seja assim, com profissionais que respeitem a gente e que trate a gente como ser humano”, comenta.
A equipe de reportagem procurou o setor de saúde municipal para comentar sobre a parceria entre as entidades e a participação da Policlínica do Alto São João no ambulatório, mas não obteve resposta.