Patrimônio agrícola à vista

Minas pleiteia título mundial para a colheita de flores sempre-vivas na Serra do Espinhaço

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Hoje em Dia - Belo Horizonte
15/06/2018 às 07:57.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:37
 (Codecex/Divulgação)

(Codecex/Divulgação)

Minas Gerais pode ter o primeiro Patrimônio Agrícola Mundial brasileiro. A candidatura da coleta de flores sempre-vivas na Serra do Espinhaço, no Vale do Jequitinhonha, ao selo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) será oficializada na próxima semana, durante evento em Diamantina.

O sistema de agricultura tradicional é realizado por comunidades rurais ao longo de séculos na parte mineira do Espinhaço, abrangendo os municípios de Bocaiúva, Olhos d’Água, Diamantina, Buenópolis, Couto Magalhães, Serro e Presidente Kubitschek.  

O dossiê a ser entregue a representantes da entidade internacional no I Festival dos Apanhadores e Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas, em 21 e 22 de junho, conta a história das cerca de 20 comunidades, a maioria quilombola, e o plano de conservação da coleta da espécie mantido pelas famílias. 

O documento foi elaborado pela Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas da Serra do Espinhaço de Minas Gerais (Codecex) em parceria com o governo mineiro, prefeituras e universidades.

O plano estabelece a divisão de responsabilidades na conservação do sistema agrícola e da biodiversidade da região. Os poderes públicos estadual, federal e municipais, além das comunidades, se comprometem a realizar diversas ações de preservação.

Constam do documento, ainda, a proposta de celebração de termo de compromisso que possibilite a prática tradicional em áreas das unidades de conservação, criação de protocolos bioculturais e consumo da água. Outros pontos são o acesso dos apanhadores de sempre-vivas aos programas de comercialização dos produtos, aperfeiçoamento das técnicas de manejo, promoção do uso das sementes nativas e raças de animais locais.

As partes ainda firmam compromisso com políticas públicas nas áreas de transporte, educação, saúde, certificação das comunidades e povos tradicionais, regularização fundiária e titulação dos terrenos. 
 
IDENTIDADE
As sempre-vivas são espécies características do cerrado. “São flores genuinamente mineiras que têm importância cultural e econômica”, afirma Fernanda Monteiro, pesquisadora da Universidade do Estado de São Paulo (USP), integrante da equipe que fez o relatório a ser entregue à FAO.

Os cultivadores preservam conhecimentos ancestrais no manejo das flores, no cultivo de roças e na criação de raças caipiras de animais. 

A tradição é passada entre gerações. Assim é na família de Jovita Maria Correia, de 60 anos, do quilombo Mata dos Crioulos, em Diamantina. 

A mulher conta que desde a infância acompanhava os parentes no alto da serra. “Meus pais me levavam desde bebê para colher flor na chapada”.

Agora, a quilombola passou os conhecimentos ancestrais para os sete filhos que hoje estão com ela na plantação de roças e coleta de flores.

Guardiões ajudam na preservação das espécies
Os apanhadores de sempre-vivas se intitulam guardiões tanto das sementes das flores como de outras plantas agrícolas tradicionais. Estudo da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri mostra que eles exercem um papel importante na conservação das espécies.

Segundo a pesquisa, os mais de 90 tipos de sempre-vivas já identificados foram preservados pelas comunidades. A contribuição está na técnica ancestral de fazer a coleta, prática da agroecologia, rotatividade no plantio e o uso de sementes nativas. 

“Os apanhadores são os guardiões da biodiversidade e da água locais”, destaca Maria de Fátima Alves, membro da comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas da Serra do Espinhaço de Minas Gerais (Codecex).

Ela considera a candidatura ao selo de Patrimônio Agrícola Mundial um grande passo para o reconhecimento e valorização dessa cultura milenar. Maria de Fátima diz que são famílias que lidam com mais de 200 espécies de flores, folhas e frutos secos do cerrado, além da plantação de roças tradicionais e da criação de gado curraleiro (primeira raça de bovino trazida para o Brasil na época da colonização) e outros pequenos animais.

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