O montes-clarense Vítor Oliva lança Amálgama, publicado pela editora ECÔA, seu segundo livro, obra em que palavras, imagens e símbolos se entrelaçam para provocar o imaginário do leitor. Vitor escreve poesia, contos e atua em produções audiovisuais em diversas funções. Membro do Ponto de Cultura Casa Amarela, o escritor é nosso entrevistado desta terça-feira (21).
O que o público pode esperar do seu novo livro, Amálgama?
Qual foi a principal motivação por trás da obra?
Instigar a imaginação. Vivemos um tempo de caos cognitivo e retalhamento da imaginação. Este livro, entre outras coisas, busca apontar esse retalhamento e provocar o imaginário.
O título “Amálgama” remete à mistura, fusão. Que elementos ou temas você procurou amalgamar na escrita deste livro?
Creio que o rumo que esse livro tomou nasceu de uma inquietação existencial, se é que assim se pode dizer. O primeiro sentido veio pelo seu lado metálico. Em algum momento, pesquisava algo para um conto e me deparei com o termo, e o fato da amálgama (que muitos têm na boca) ser fruto da fusão entre o mercúrio com outro metal, nascendo uma liga metálica como terceiro elemento, me chamou atenção. É um princípio que acontece com o carbono há bilhões de anos e deu origem à vida orgânica, ou seja, dá a vida a nós, instante a instante. Algo “inédito” que nasce da fusão de dois elementos, carrega informação dos dois, mas não é nenhum deles. É algo novo. Uma amálgama é, também, um filho. Por isso o livro tem dois lados “invertidos” que se fundem, não tem contracapa, os dois lados são frente. Já o sentido de mistura está no fato dele não conter somente poemas, mas também manifestos, crônicas, mensagens em código morse e ilustrações. Veio a intenção de abarcar todos os seus sentidos.
Conte um pouco sobre o processo criativo desse segundo livro. Quanto tempo levou da ideia à publicação?
Dado momento, percebi que alguns escritos dos últimos anos, passando pela pandemia e até mesmo antes dela, se comunicavam e poderiam formar um livro, até então de poemas. Como praticamente todos os poemas não tinham título, inicialmente quis lançar um livro também sem título. Até o momento em que vieram os manifestos, crônicas e todas as outras concepções da amálgama mencionadas, e a criatura também foi revelando como queria ser. Foi um livro que passou por uma longa gestação.
Como foi a colaboração com a editora ECÔA? Houve liberdade editorial?
A ECÔA — Faça Você Mesmo, é de um amigo de longa data que a literatura me deu, o Matheus Peleteiro, que confiou na ideia e gentilmente deu total liberdade. Isso foi importante porque o livro encarna esses princípios da amálgama em sua estrutura física, trazendo elementos que teriam de ser tratados com muita especificidade. E quando Juliana Tomazela fez as ilustrações a carvão e Caril o projeto gráfico, o livro tomou um corpo que é um pilar de sua apresentação, tendo em vista que sua mensagem está, justamente, além das palavras. Além disso, há sua versão digital acessível, onde pessoas cegas ou de baixa visão conseguem ter acesso por meio de um QR Code na ficha catalográfica. As audiodescrições foram feitas por Alexandra Equey. O livro foi possível graças a essas pessoas serem muito boas no que fazem.
Você se apresenta como escritor e também como agente cultural. Como essas duas atuações se complementam no seu dia a dia?
Eu costumava dizer que a literatura é como uma perna para mim. Hoje a sinto mais como um órgão. É algo que faço como comer, independentemente. O que vai estar ali escrito sempre passa pelo que se vive. Sempre tive uma simbiose intrínseca com a arte, então vi como um caminho irrevogável. Nossa região possui uma gama de artistas fenomenais. Está ocorrendo uma renovação muito interessante da cultura catrumana. Tenho a sorte de conviver com muitas dessas pessoas e produzirmos juntos. Nossas criações muitas vezes se entrelaçam, e pela vida seguimos produzindo livros, músicas, clipes, filmes, eventos culturais, oficinas e qualquer ideia que se proponha ao cultivo e à ação.
Quais foram os principais desafios que você enfrentou até conseguir publicar seu segundo livro?
Como foi um processo um pouco longo, a vida naturalmente deu seus percalços, e cheguei a pensar que ele não aconteceria. A cabeça já ansiava se ocupar de outros projetos. Como artista independente, muitas vezes também precisamos nos ocupar de outras coisas para completar o sustento. Mas sua ideia permaneceu ali, até que veio a oportunidade pela Lei Paulo Gustavo e consegui aprovar o projeto junto à Secretaria de Cultura. Poder tocá-lo e vê-lo parido supriu todos os desafios.
Quais são as principais dificuldades enfrentadas por autores independentes em Minas Gerais atualmente?
Em Minas, as dificuldades são distintas das que temos aqui nos Gerais. Mas para qualquer autor independente há as dificuldades econômicas, as políticas, a de ter que travar longas lutas pelo mínimo nesses aspectos. Pouco a pouco, o governo vem se atentando para a importância disso. Mas ainda será árduo, por um tempo. Continuaremos.
Como o público pode ter acesso ao livro Amálgama? Ele já está disponível em livrarias ou em plataformas digitais?
O livro pode ser encontrado na Conversos Café & Livraria, na rua Raul Corrêa, 280B, em Montes Claros, ou comigo mesmo, pelo perfil do Instagram @vitorloliva ou pelo e-mail: vitorloliva@gmail.com. Envio para todo o Brasil. A versão acessível está disponível na Amazon.
Você contou com o olhar de um crítico literário para o release da obra. Como foi essa troca?
Foi interessante ver um olhar mais aprofundado de outra pessoa. Ele notou sentidos que não eram evidentes para mim. É sempre proveitoso contar com leituras atentas. O livro também tem algumas aberturas na linguagem, para cada leitura ter suas próprias interpretações.
O que você espera que o leitor sinta ou reflita ao terminar a leitura de Amálgama?
Ele foi pensado como um livro que não termina, mas possui dois começos. Portanto, não há fim nem começo exatos. Prefiro observar o que o outro reflete a partir da leitura, mas não espero propriamente nenhuma sensação. Esse lugar é do outro. Acho sempre mais intrigante me deparar com uma interpretação nova, sendo aquela que não se espera.
Já existem novos projetos em andamento? Podemos esperar um terceiro livro em breve?
Há vários projetos em andamento, mas pensando em livros, são dois os mais próximos. Um de poesia e outro que será meu primeiro de contos. Não sei qual nascerá primeiro, mas espero que em breve, sim.