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Segunda-Feira,13 de Outubro
entrevista

‘Visualidades do Ser’: curadoria feita com afeto e liberdade

Exposição no Museu Regional reúne jovens artistas da Unimontes

Adriana Queiroz
genteideiascomunicacao@gmail.com
Publicado em 10/10/2025 às 19:00.

Com curadoria de Gabriella Neildo, o Museu Regional do Norte de Minas (MRNM) apresenta até 26 de outubro a exposição gratuita “Visualidades do Ser”, que reúne obras de jovens artistas ligados ao curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e convida o público a refletir sobre identidade e subjetividade.

Gabriella nasceu em Ferraz de Vasconcelos (SP) e vive em Montes Claros há oito anos. Estudante de Artes Visuais pela Unimontes, é bolsista pesquisadora nas áreas de arte decolonial e questões de gênero nas artes visuais. Mulher trans, multiartista e militante de causas ligadas a gênero, raça e classe, Gabriella atua tanto como curadora quanto como artista na exposição, participando com quatro obras autorais e colaborando diretamente nas decisões curatoriais.
 
Como surgiu a ideia da exposição “Visualidades do Ser”?
Ela surgiu repentinamente quando vimos o edital para propostas de exposições do museu. Nós reunimos, com a iniciativa da Isabela Lima, e conversamos entre os artistas da então turma do segundo período do curso de artes visuais da Unimontes. Ali vimos entre nós quem tinha interesse, quem sentia que conseguiria produzir obras a tempo, e decidimos nos inscrever. Queríamos dar espaço para que cada um se expressasse como quisesse, podendo ter uma liberdade artística. Assim surgiu, de Isabela Lima, a ideia de Visualidades do Ser.
 
Quais foram os principais critérios para a escolha dos artistas e obras?
Somos um grupo de amigos que se conheceu na graduação, basicamente todas as pessoas da exposição se conheciam quando essa ideia surgiu, então o grupo foi formado já no surgimento da ideia, com as pessoas dentro daquela turma que estava mais empolgada e que sentia confiança na própria produção artística. Ao longo do tempo, novas pessoas, que também eram da turma, foram acrescentadas, por já terem produções artísticas de muita qualidade e também por serem queridas.
 
A mostra reúne artistas com diferentes linguagens e identidades. Como vocês pensaram essa diversidade no processo curatorial?
Essa diversidade já foi pensada desde o começo, quando pensamos um nome para a exposição, que abrisse para que todas nossas diferenças de trajetória de vida e de forma de se expressar, pudessem ser quase que costuradas em uma poética que permitisse que cada artista não fosse ninguém menos que ele mesmo, seguindo a proposta. Foi um processo de confiar nos artistas para que as obras estivessem no tema, dando-lhes essa liberdade.
 
Qual é a principal mensagem que vocês desejam transmitir com essa exposição?
Mostrar a pluralidade e diversidade de pontos de vista. Cada artista tem um olhar singular sobre como vê o mundo e a si mesmo, suas emoções, suas histórias. Isso traz a diversidade de técnicas, de composições, de representações que queríamos e que vemos na exposição. Às vezes falamos mais sobre nós, sem a autorrepresentação. Às vezes, a autorrepresentação permite falarmos dos outros. Expor sentimentos, trajetórias, reflexões, todas muito diferentes entre si, por meio de uma única exposição que celebra quem somos, como vemos e somos vistas.
 
O que você considera essencial para uma curadoria que respeite e valorize as subjetividades dos artistas?
Dar liberdade a eles, dentro do que é possível. Claro que cada exposição é um caso, mas hoje vejo muito mais sentido em pensar nas pessoas e conversar com elas para decidir suas obras. Cada artista tem uma vivência e uma produção, que às vezes está além da visão de mundo que temos, e com artistas tão incríveis e criativos, eles vão saber, melhor que eu, qual obra passa a sensação desejada no público.
 
Na sua opinião, qual é o papel da curadoria em exposições que lidam com questões de identidade e representatividade?
Vou soar repetitiva, mas dar liberdade, dar voz. Não existe eu pensar em uma exposição que queira dar voz e luz a identidades, sem dar voz e luz ao autor das obras. Se quero que a exposição seja sobre como cada artista, cada pessoa, vê a si mesma e ao mundo ao redor, eu devo lhe dar esse espaço, porque nós curadoras não representamos todas as identidades.
 
Quais temas mais te chamaram atenção nas obras apresentadas pelos artistas da exposição?
O meu tema favorito são as nossas vidas. Por conhecer em algum nível a vida pessoal das pessoas envolvidas, eu me emociono quando vejo detalhes das vidas pessoais impressas nas obras. Ver uma exposição que fala ao mesmo tempo, de relação com o corpo, de ancestralidade, de histórias que criamos, é lindo. É claro que fico feliz em ver cada vez mais as questões de raça, gênero e sexualidade serem parte essencial das exposições naturalmente, como sinal de que são questões relevantes.

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