
Fred Rocha e Juliana Dourado levam a Venda do Fred, espaço de cultura e gastronomia geraizeira, para representar o Norte de Minas no Festival Fartura BH 2025, que acontece nos dias 27 e 28, em Belo Horizonte. “Em três anos de existência, a Venda do Fred sempre teve como missão levar o Norte de Minas para o Brasil. Estar no Fartura é o reconhecimento desse trabalho e um pontapé inicial para dar ainda mais visibilidade à nossa cultura e gastronomia. O festival, neste ano, decidiu trazer o interior para a capital, escolhendo chefs de cada região. A Juliana Dourado, nossa chef, foi chamada para representar o Norte, e eu vou junto ‘de sapo’, como a gente brinca, para carregar a colher e mexer a panela”, disse.
Como foi o processo de preparação para o festival? Algum desafio ou curiosidade interessante nos bastidores?
Nos bastidores, o cuidado é para que o sabor dos Gerais chegue intacto à capital. Isso começa pela logística dos ingredientes típicos, como pequi e carne serenada, que precisam ser tratados com a mesma atenção que damos na nossa cozinha. O maior desafio é garantir autenticidade em um evento desse porte, sem perder a simplicidade que caracteriza a nossa culinária.
O Fartura é conhecido por reunir sabores de todo o estado. O que o público pode esperar da cozinha geraizeira nesse evento?
O público pode esperar afeto, memória e autenticidade. A cozinha geraizeira surpreende porque consegue ser simples e sofisticada ao mesmo tempo. O sabor da lenha, dos temperos naturais e das receitas de família chegam à mesa carregados de identidade.
Por que vocês escolheram o “Arroz Geraizeiro” como prato principal na Cozinha ao Vivo? Qual a história por trás dele?
O “Arroz Geraizeiro” é uma releitura do tradicional arroz com pequi. Usamos arroz de pilão, comum na região, e acrescentamos milho assado, maxixe e carne serenada. É um prato que intensifica o sabor dos Gerais e simboliza nossa cozinha: rústica, afetiva e cheia de memória.
Você pode nos contar o significado por trás do nome “Milagre de Agosto”? Há alguma relação com as tradições do Norte de Minas?
O “Milagre de Agosto” remete às festas de agosto dos catopés, marujos e caboclinhos, que enchem nossas ruas de cores, fé e música. É um prato que traduz essa celebração popular e a memória coletiva do Norte de Minas.
A carne serenada, a farofa de castanha de pequi e o vinagrete de maxixe são destaques no workshop. Por que esses ingredientes foram escolhidos?
Escolhemos porque são símbolos do Cerrado. A carne serenada ao ponto, servida com cebola roxa, carrega a tradição de conservação das famílias geraizeiras. A farofa de castanha de pequi mostra a riqueza dos frutos do Cerrado, e o vinagrete de maxixe traz frescor e identidade. Aqui a gente sempre brinca que jiló não é nosso — o maxixe é que é a cara da região.
Como é ensinar pratos tão carregados de identidade cultural para um público urbano e diversificado como o de BH?
É sempre uma surpresa boa. O público urbano se encanta ao perceber que cada ingrediente carrega uma história. Ensinar é também contar a trajetória de um povo, mostrar que tradição e inovação podem andar juntas e que a cozinha geraizeira tem lugar em qualquer mesa.
A Venda do Fred vai muito além da comida, é também cultura, memória e resistência. Como você enxerga esse papel na construção da identidade regional?
A Venda do Fred é mais que um restaurante. É um palco de cultura, de música, de encontros. É resistência contra o esquecimento da nossa memória regional. Queremos que cada visitante sinta que está entrando num pedaço do Norte de Minas.
Na sua visão, como o Norte de Minas pode ganhar mais visibilidade dentro da gastronomia mineira e brasileira?
O Norte precisa de palco e de voz. Quanto mais mostramos nossos sabores e saberes, mais o Brasil descobre a força dessa cozinha. O Fartura é um passo importante, mas precisamos multiplicar espaços que deem visibilidade à nossa cultura.
Qual o maior sonho que você ainda tem para a gastronomia do Norte de Minas?
Nosso maior sonho é ver a gastronomia do Norte de Minas reconhecida como patrimônio imaterial do Brasil e celebrada no mundo. Agora é trabalhar para expandir a Venda e levar a cultura do Norte de Minas para todo o país. E quem sabe o mundo? Sonhar grande custa o mesmo que sonhar pequeno.