entrevista

Um polígono chamado Fábio

Autor de cinco livros, norte-mineiro do distrito de Vista Alegre (Claro dos Poções) participa de projeto em Hyannis/EUA

Alexandre Fonseca
17/01/2023 às 22:30.
Atualizado em 18/01/2023 às 14:04
 (ARQUIVO PESSOAL)

(ARQUIVO PESSOAL)

Nas aulas de geometria, aprendemos que polígonos são figuras geométricas que possuem vários lados ou ângulos. Assim como o escritor norte-mineiro Fábio Gonçalves, que possui várias facetas: cantor, poeta, artista plástico, educador, agitador cultural... tantos em apenas um. Ele também já foi marceneiro, fabricante de brinquedos e balconista de comércio! 

Mineiro do distrito de Vista Alegre, região de Claro dos Poções, é professor de Língua Portuguesa há mais de 30 anos. Desenvolveu intensa relação com a literatura. Publicou cinco livros: ‘Cristais” (1999); ‘Do Fundo do Poço’ (2004); ‘Anjo, Retratos de uma paixão’ (2009); ‘E aí, Bicho?’ (2013); ‘Lalá, a lagartinha mágica’ (2019). Também integrou antologias poéticas, entre 1999 e 2022. Ano passado, foi laureado com o Prêmio Personalidade Literária, emSalto (SP), pela editora cabofriense Viverarte. 

Como autor, Fábio Gonçalves participa do Projeto Hyannis, nos EUA, com livro exposto e divulgado na Biblioteca de Hyannis, naquele país. Em fevereiro, será nomeado membro da Academia Mineira de Belas Artes, em Ouro Preto (MG). O NORTE convidou o escritor de tantas facetas afalar sobre profissão, carreira e a paixão pela literatura. 

 
Você é um professor-escritor. Uma profissão afeta a outra?
Como professor a minha missão é apresentar aos meus alunos a língua materna e a literatura com todo o seu poder. Não há como dissociar uma missão da outra, uma vez que ambas se abraçam. Como produtor de literatura, minha missão vai além dos muros da escola. Meu compromisso é defender a arte da palavra com todas as suas potencialidades. A sala de aula é um dos espaços dinamizadores da leitura literária onde exerço esses dois papéis de forma simultânea porque lido, em ambas, com a palavra.

Canta, pinta, escreve... as áreas conversam entre si criando uma arte múltipla? Ou existe um Fábio para cada?
Sim. No meu caso, estas três especificidades são indissociáveis, apesar de serem canais diferentes de expressão. Todas elas, em suas diferentes linguagens, me permitem alcançar muito mais corações e almas. Cada uma exerce um papel de provocação no público. E há um público diferente para cada uma delas. A música com sua linguagem universal, a literatura como arte da palavra e a pintura como expressão da forma e das cores são canais de transformação que despertam sentimentos vários e provocam os sentidos. No fim, tudo se mistura e vira uma coisa só: arte!

Acreditamos que a poesia tenha maior destaque. o que motiva um poeta?
Sim. A poesia sempre me seguiu de perto. Ao longo da vida, essa paixão foi se intensificando e se tornou parte de mim. Não sei viver sem poesia. Tudo me motiva. Sou muito passional e rebelde. De todas as artes, a poesia é a que me dá maior poder. Dizer o que penso e sinto por meio das palavras me liberta de forma mais completa.

Em meu processo de escrita não há nada de extraordinário. Fico sempre aberto à emoção que se achega. Bebo de tudo o que a vida me traz e lhe devolvo meus versos como produto das minhas inquietações. Pode ser em casa, na rua, numa viagem, num momento de fé, numa balada. Tudo me inspira, e a poesia se constrói carregada de sentidos. Afinal, a poesia já está dentro de nós. A vida a desperta todos os dias.
 
Uma das suas últimas publicações foi livro voltado ao público infantil. como funciona o processo de escrever para crianças?
Sempre fui apaixonado por crianças. Fui pai postiço deste os 15 anos e cuidei de irmãos muito pequenos. Ouvi muitas histórias de meus pais e avós. Fui professor de criança e contador de histórias. Tudo isso mexeu muito com o meu imaginário infantil. Sou uma criança adulta. Esse encantamento pelo universo infantil se consolidou quanto resolvi escrever poemas para crianças. O livro ‘E aí, bicho?’ me deu, além dos fãs mirins, uma sala de leitura em Itaguaí (RJ). Mais recentemente, publiquei ‘Lalá, a lagartinha mágica’, primeiro conto infantil, onde apresento valores que defendo como amor, solidariedade, amizade, superação e busca pelos sonhos. Como lido muito com crianças, sempre tive facilidade para compreender o universo delas. Sempre é desafiador, mas ao mesmo tempo, mágico, encantador. É exercitar a imaginação e não ter medo de inventar. A receita é dar vazão à fantasia e mergulhar no mundo delas.
 
Há algum livro prestes a sair? 
Sim, o novo já está sendo produzido pela Editora Becalete, de Mogi Guaçu. O livro se chama ‘Sentidos’ e expressa, em poemas, sentimentos vividos e sentidos durante o período da pandemia, quando, reclusos, fomos acometidos de sentimentos intensos de dor, medo, solidão, apreensão, amor, fé, solidariedade e esperança. Outros projetos estão acontecendo. Além de ser indicado para alguns prêmios literários pelo país, serei empossado como membro da Academia Mineira de Belas Artes. Além disso, tenho sido convidado constantemente para participar de antologias literárias nacionais e internacionais.
 
Afinal, qual o papel do escritor em nossa sociedade?
A função do escritor não é somente expressar seu sentimento ou pensamento mas, também, provocar reflexões acerca da vida. A função provocativa da literatura, com viés social, deve estar intimamente ligada à vida e a história das pessoas, que nessas se veem. A literatura é transformadora e o escritor é o porta voz da alma humana.

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