Sinais do corpo e da mente

Transtornos mentais no trabalho causam mais de 400 mil afastamentos em 2024

Larissa Durães*
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 18/02/2025 às 19:00.
Estudo da Pipo Saúde indica que 48% dos trabalhadores brasileiros estão propensos a transtornos mentais, destacando a importância de focar no bem-estar emocional nas empresas (FREEPIK)
Estudo da Pipo Saúde indica que 48% dos trabalhadores brasileiros estão propensos a transtornos mentais, destacando a importância de focar no bem-estar emocional nas empresas (FREEPIK)

O aumento dos afastamentos por transtornos mentais no Brasil intensifica o debate sobre a relação entre trabalho e saúde psicológica. Em 2024, o número de trabalhadores afastados por esses motivos ultrapassou 400 mil, de acordo com dados do Ministério da Previdência Social. Os transtornos ansiosos foram os que mais cresceram, passando de 80.276 casos em 2023 para 141.414 em 2024. Já os episódios depressivos subiram de 67.399 para 113.604 no mesmo período.

Em Montes Claros, o bancário P.D. relata que a alta demanda no trabalho afetou diretamente sua saúde mental. “Já senti uma pressão grande em momentos de alta demanda, o que afetou meu sono e minha concentração”, conta. Para ele, um dos maiores desafios é reconhecer os sinais de alerta. “No momento em que o estresse acontece, é difícil perceber e resolver. Muitas vezes ignoramos os sinais do corpo e da mente, achando que é normal se sentir esgotado”.

Os impactos do trabalho na saúde mental vão além do ambiente profissional. “Já passei por momentos de grande pressão e percebi que isso me deixava irritado, ansioso e com dificuldade de relaxar. Hoje, lido com uma ansiedade tão forte que se manifesta fisicamente, com sintomas como urticária. É difícil conviver com isso, principalmente quando precisamos de medicamentos para aliviar os sintomas”, lamenta.

Para P.D., a construção de um ambiente de trabalho saudável é essencial. “A ajuda profissional que tive foi fundamental para lidar com o estresse. Acredito que a saúde mental deve ser tão priorizada quanto a física”, afirma. No entanto, ele reconhece que admitir problemas na empresa ainda é um desafio. “Jamais chegaria no RH ou ao meu chefe para dizer que estou esgotado psicologicamente e preciso me afastar, porque posso me tornar um problema para a empresa, na visão deles. É como se você tivesse uma doença contagiosa: ninguém quer um funcionário que pode precisar de um afastamento a qualquer momento”.

MUDANÇA CULTURAL
Diante desse cenário, a Norma Regulamentadora n.º 1 (NR-1), que entra em vigor em maio, exigirá que as empresas avaliem e gerenciem riscos psicossociais, como estresse, assédio e carga mental excessiva. Para a psicóloga do trabalho e organizacional Fernanda de Farias Meira, a medida representa um avanço, mas a mudança cultural nas empresas ainda é um grande desafio.

“Remuneração inadequada, excesso de trabalho, falta de expectativa de crescimento, cobranças exageradas e um meio social tóxico são aspectos que impactam diretamente a saúde mental dos trabalhadores”, explica Fernanda. Para combater esse cenário, ela defende que as empresas devem investir na melhoria das condições de trabalho, oferecer oportunidades de desenvolvimento pessoal e garantir um ambiente seguro e saudável.

A especialista reforça que gestores e colegas de trabalho devem estar atentos a sinais como isolamento social, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, desânimo, cansaço e apatia. “O papel do líder é essencial. Ele precisa estar capacitado para manter um diálogo aberto e naturalizar o tema da saúde mental no ambiente de trabalho. Um líder que se importa faz toda a diferença”, afirma.

A falta de um canal seguro para relatar problemas também agrava o estresse no ambiente profissional. “Muitas pessoas têm medo de avisar o RH ou o chefe por receio de serem demitidas. Esse medo é um dos grandes obstáculos para resolver problemas de estresse”, destaca Fernanda. Para ela, empresas que não promovem um ambiente acolhedor acabam intensificando o sofrimento dos colaboradores. “Uma chefia muito rigorosa e sem empatia pode, sim, ser um gatilho para o adoecimento mental dos trabalhadores”.

Com o crescimento dos casos de afastamento e a exigência de novas regulamentações, especialistas apontam que as empresas precisam ir além do cumprimento da norma e promover uma verdadeira mudança cultural. “A ideia de que problemas pessoais não devem ser misturados com questões de trabalho já está ultrapassada. Estudos comprovam que um ambiente de trabalho mais empático e humanizado é essencial para a produtividade e o bem-estar dos funcionários”, conclui Fernanda.

*Com informações da Agência Brasil 61

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por