Toque a vida em outro tom: para a carreira de músico a universidade é uma opção e não uma obrigatoriedade, mas representa um diferencial

Jornal O Norte
Publicado em 01/12/2006 às 12:25.Atualizado em 15/11/2021 às 08:45.

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net



Resistência da família, preconceitos sociais e falta de perspectiva de trabalho com justa remuneração ainda são desafios que o artista enfrenta no Brasil e, para conquistar espaço no mercado de trabalho, trava uma batalha diária. O músico, por exemplo, além de ter que se reinventar a cada dia, precisa se preparar teórica, psicológica e fisicamente para ter seu trabalho reconhecido ou, pelo menos, aceito por um mínimo de pessoas.



A verdade é que a vida de um músico não é mais e nem menos difícil que a de outros profissionais e ele só consegue entender isso ao ingressar numa escola de Música, quando percebe com clareza que a profissão oferece inúmeras possibilidades de atuação, mas que é preciso se esforçar, estudar muito e ter disciplina para desenvolver suas potencialidades e se versatilizar na arte, com conhecimento de causa e preparação adequada, tanto para seu crescimento profissional quanto para enfrentar a acirrada concorrência.



É inegável que grandes músicos, no mundo inteiro, se tornaram célebres, mitos, sem nunca ter freqüentado uma universidade, que, afinal, não é uma obrigatoriedade no exercício da profissão, mas que representa um diferencial, não resta a menor dúvida.



A trajetória de um músico não pode ser vista apenas como um dom, um talento, uma genialidade, apesar das características inerentes a sua formação, por isso, para ingressar em um curso superior de música, ele precisa passar por uma prova de habilidade, atitudes e competências que comprovem uma formação musical anterior, já que ninguém freqüentaria uma universidade apenas para aprender a tocar os primeiros acordes ou primeiros solfejos, o que pode ser feito em qualquer escola de iniciação musical. A formação universitária abre um imenso leque de opções para o músico, que nunca se perde.



Para quem vive longe dos grandes centros, o caminho é ainda mais árduo, pois quase não existem escolas de preparação em nível superior, e aulas particulares são caras e raras.



Em Montes Claros, por exemplo, existe o curso superior de Artes, com especialização em Música, na Unimontes, e cursos no nível médio em canto e vários instrumentos, no conservatório estadual de música Lorenzo Fernandez, além de algumas escolas de iniciação e qualificação particulares.



Como no curso de Artes da Unimontes o número de vaga é pequeno para os milhares de candidatos, a solução para o músico é buscar em outros centros a formação superior, se quiser se graduar na mesma profissional que escolheu para atuar.



Essa também é a realidade de centenas de municípios do interior de todo país.



Em Barbacena, situada no interior de Minas Gerais, a 178 km de Belo Horizonte, os artistas decidiram desafiar a distância que os separa do eixo Rio de Janeiro-São Paulo e, através do grupo Ponto de Partida, criaram uma escola livre, gratuita, de formação com caráter profissionalizante: a Bituca, Universidade de Música Popular.



Com nome em homenagem ao cantor Milton Nascimento, que tem o apelido de Bituca, a universidade, além de formar músicos, tem como objetivo estimular jovens compositores, provocar movimentos e instigar invenções, além de abrir espaços para que tomem posse do palco e conquistem a cumplicidade de seu público.



Para possibilitar o acesso dos alunos que vêm de várias cidades as aulas são semanais - numa semana, prática do instrumento, na outra, formação complementar – com freqüência obrigatória e aulas e atividades opcionais durante o curso.



A Bituca trabalha com um repertório comum, como nas escolas de música erudita, voltado para a música brasileira, seus ritmos e seus compositores. As aulas de história da música brasileira, percepção musical, musicalização pelo método Kodály, harmonia, improvisação, criação e prática de conjunto são comuns a todos os alunos, e a prática de nove instrumentos e canto é ensinada individualmente. Todos os aprendizes também têm formação com o Ponto de Partida em preparação para o palco, produção, ética e formação de grupos.



O Ponto de Partida é um grupo teatral originado como movimento cultural, com projetos de mobilização e cidadania ligados às diversas vertentes da arte, como música, literatura, artes plásticas, jornalismo e educação. Fundado em 1980, anda na contramão das tendências de mercado e vem buscando alternativas para seguir trabalhando.



Segundo a diretora do grupo, Regina Bertola, a criação da Bituca, em 2004, foi uma das alternativas encontradas para investir na formação de músicos que ainda não haviam tido acesso à universidade.



Atualmente com 120 alunos freqüentes, a Bituca adotou o mesmo método de formação integral e construção coletiva usado com sucesso pelo Ponto de Partida há 26 anos, que, assim como nas corporações medievais, consiste na observação e trabalho dos aprendizes com seu mestre, de forma que possam se espelhar nele.  Para isso, ao invés de professores acadêmicos, a Bituca tem músicos em plena atividade profissional dividindo com os jovens artistas sua experiência.



Entre esses mestres estão Gilvan de Oliveira (coordenação, violão, história da música brasileira e prática de conjunto); Ivan Corrêa (baixo e prática de conjunto); Guido Campos (flauta doce, clarineta e percepção musical); Lincoln Cheib (bateria); Cléber Alves (saxofone, prática de conjunto e improvisação); Felipe Moreira (coordenação, piano, teclado, percepção musical); Serginho Silva (percussão e percepção rítmica); Babaya (canto); Ian Guest (musicalização pelo método Kodály, harmonia e arranjo); e Ponto de Partida (preparação para o palco, produção, ética e formação de grupos).



A Bituca funciona, em Barbacena, na Casa de Arte&Ofício, do Ponto de Partida, antiga Sericícola - primeira fábrica de seda do Brasil, cuja história se embaraça com a imigração italiana em Minas Gerais no ano de 1888 e que foi restaurada com a parceria do Clube de Amigos do Ponto de Partida e da Gerdau-Açominas -; e em Araçuaí, para os meninos do Projeto Ser Criança, com a parceria do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento e Banco de Êxitos S.A.



VAGAS



No período de 1º a 21 de dezembro a Bituca abre 100 vagas para a prática de nove instrumentos e canto, admitindo iniciantes somente para os cursos de flauta doce, bateria e percussão.



Não é exigido dos candidatos nenhum grau de escolaridade específico, apenas talento, mas como a escola é direcionada para quem quer se profissionalizar, e não para aqueles que têm a música como hobby, os candidatos serão submetidos a uma audição para demonstrar suas aptidões. O candidato iniciante fará um teste preparado pela coordenação da escola. O curso de arranjo só será oferecido para os alunos que cumprirem os pré-requisitos, de acordo com edital.



As inscrições podem ser feitas até o dia 21 de dezembro na sede do Ponto de Partida, na Bituca, ou pela Internet, no endereço eletrônico www.grupopontodepartida.com.br.



Todos os inscritos serão avaliados pelos mestres e pelo Ponto de Partida em fevereiro de 2007 e, a partir do dia 1º de fevereiro, os candidatos deverão acessar o site www.grupopontodepartida.com.br para confirmar o dia e a hora de sua seleção. Não há limite de idade e o ensino é gratuito.

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