
Com foco na diversidade cultural brasileira e na valorização da memória afetiva por meio da música, o projeto Sonora Brasil chega a Montes Claros nos dias 16 e 17 de julho. Realizado pelo Sistema Fecomércio MG, por meio do SESC em Minas, o evento reúne artistas de diferentes gerações em uma programação que inclui oficina e shows gratuitos ou com preços acessíveis ao público. Foram convidados para essa edição Ana Paula da Silva, ao lado de Seu Risca e Jukita Queiroz.
O músico montes-clarense Jukita Queiroz falou sobre a importância do convite para participar do Sonora Brasil, que propõe um cruzamento entre gerações, tempos e territórios. “Já tive a oportunidade de acompanhar algumas edições do Sonora Brasil e percebo a importância e relevância do projeto no cenário cultural brasileiro. Poder participar, mostrando um pouco da nossa cultura por meio de canções guardadas na memória das pessoas do sertão mineiro, é reafirmar nossa identidade. Quanto às gerações, queremos que os participantes revivam essas canções em seus lares, com crianças, adultos e idosos”.
Na quarta-feira (16), Jukita coordena a oficina “Canções e Memórias”, que propõe uma vivência de canto a partir de músicas que fazem parte da memória afetiva dos montes-clarenses. “Penso que a oficina permitirá às pessoas resgatar da memória canções que, de alguma forma, marcaram suas vidas, mas foram esquecidas. Ao mesmo tempo, estaremos valorizando a nossa cultura por meio do canto, construindo um repertório musical com a contribuição de cada participante”.
Quando questionado sobre uma canção de sua própria memória afetiva, ele relembra: “Me veio à lembrança uma canção de quando eu era criança. Confesso que não sei como chegou a mim — provavelmente por meio dos meus familiares. Mas sei que está aqui guardadinha na minha memória. É essa: ‘Toc toc, quem bate aí? Toc toc, quem bate aí? Sou eu, um velhinho que anda a pedir. Sou eu, um velhinho que anda a pedir’”.
A cantora Ana Paula da Silva, natural de Joinville e residente em Curitiba, também celebra sua participação no projeto. “Receber o convite para o Sonora Brasil foi um momento muito especial — um desejo antigo, um dos pequenos sonhos realizados. Fazer uma turnê por regiões do Brasil e contar um pouco sobre a cultura, memória e história do lugar de onde viemos, que conhecemos e que nos atravessa, é maravilhoso”.
Sobre o espetáculo que apresenta ao lado de Seu Risca, líder quilombola e guardião da tradicional Dança do Catumbi, Ana Paula conta que o público de Montes Claros pode esperar um show dedicado às manifestações afro-brasileiras e aos caboclos e caboclas de Santa Catarina — seja pelos cânticos originais de Seu Risca, seja pelas composições inspiradas em suas pesquisas de campo e no livro Alma na Voz e Mãos no Tambor.
Ela relata que conhece Seu Risca desde o início da sua carreira musical. “Ele conhece boa parte da minha família. Sempre tive a alegria de contar com a presença da sua família nos meus shows. Até que um dia ele me entregou um material sobre a Dança do Catumbi, da qual fez parte por quase 60 anos. Aprendemos todos uns com os outros. Somos nove pessoas viajando juntas, e cada uma é um universo imenso — e Seu Risca é o ancião do grupo. Ele carrega uma força imensa: é vivo, festivo, dançante, acredita na vida, na arte transformadora… é uma verdadeira presença ancestral”.
O espetáculo incorpora influências de manifestações populares como o Catumbi e a Dança do Vilão, integradas à linguagem musical de Ana Paula a partir de sua pesquisa de mestrado em música. “Pesquisei a Dança do Catumbi e compus seis músicas para o ritual, que hoje fazem parte do show. Em seguida, como produtora-pesquisadora, escrevi um projeto independente e ampliei a pesquisa, incorporando outras práticas afro-brasileiras, indígenas, Guarani e açorianas da região da Baía Babitonga — que abrange seis cidades, incluindo Joinville, onde nasci, e Araquari, terra do Seu Risca. A partir desse processo, criei novas composições que integram o livro e o espetáculo. Foi com esse projeto que escrevi Alma na Voz e Mãos no Tambor e, um ano depois, recebi o convite do SESC para dar continuidade a esse trabalho”, completa.