Entrevista

Silvânia da Hora, modelo de empoderamento e atitude

Empresária discute temas de inclusão e sustentabilidade

Adriana Queiroz
genteideiascomunicacao@gmail.com
Publicado em 12/11/2024 às 19:00.
 (Agência Bloom TMA/ Foto The Guis Club)

(Agência Bloom TMA/ Foto The Guis Club)

No Dia da Consciência Negra, mulheres do norte de Minas reforçam luta por igualdade. Destaque para Silvânia da Hora, servidora pública e empreendedora na moda circular, que dialoga sobre inclusão e sustentabilidade.

 
No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra, qual a importância dessa data?
No meu entender, a importância da data está no reconhecimento da atrocidade que foi a escravidão e pela obrigatoriedade, a partir de 2003 (origem da data), de aprender sobre a cultura e história afro-brasileira no ensino fundamental e médio, garantindo teoricamente, que as gerações futuras conheçam o que foi feito com o povo africano, principalmente nesse país. A verdade do que é ensinado é outra questão. O fato é que o aprendizado contribui para refletirmos sobre as condições das pessoas descendentes dessa história que exige reparo.
 
Você é funcionária pública, empreendedora e modelo. Você se orgulha do que conquistou até aqui? 
Ser um adulto bem-sucedido para uma criança preta ainda não é corriqueiro, mas já foi muito mais difícil, por isso não tenho orgulho exatamente. O sentimento que tenho é muito mais de alívio. Considerando as circunstâncias nas quais cresci, qualquer pessoa preta em vulnerabilidade social ou em profissões operacionais poderia ser eu. A diferença é que brinquei com crianças brancas, fui cuidada por adultos brancos e isso me oportunizou usufruir de muitas vivências que não eram do cotidiano de crianças pretas; naquela época, me impulsionando a perceber o mundo com expectativas grandes, como estudar, ter uma profissão e fazer faculdade, ainda que por vezes essa convivência afetasse minha autoestima.
 
Você acha que o mercado de trabalho melhorou nos últimos anos na questão de diversidade?
Existem, sim, mais oportunidades, porém as razões são variadas, penso que a mais relevante são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU, por causa deles muitas empresas estão admitindo pessoas que nunca pensaram incluir em seu quadro de empregados, como pessoas da comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência, pessoas mais velhas e até mesmo pessoas pretas, ou seja, se vai potencializar o valor da marca a empresa contrata. 
 
Como você observa a questão racial no meio empresarial? 
É interessante essa questão: a história nos conta do racismo violento e explícito vivido no Brasil. Com o passar do tempo, o desenvolvimento da sociedade e acredito, devido às leis que foram legitimando o direito nato de todo indivíduo, esse racismo foi se tornando, na maioria das ocorrências, velado. Ao ponto de algumas pessoas até defenderem que aqui não há racismo, em detrimento de outros países. Eu mesma, não tenho registro de racismo explícito comigo, mas associo ao racismo e ao machismo algumas ocorrências no meio profissional. No meio empresarial, nem tanto. 
 
Uma dica para quem tem vontade de seguir os mesmos passos que você. 
Estude. Uma dica que é para qualquer pessoa. O conhecimento liberta e empodera de fato. Mas, especificamente para as pessoas pretas cuja vida, via de regra, é labuta pesada, estude. De modo geral, nas famílias pretas não há lar estável, mamãe para cuidar porque, geralmente, é mãe solo e trabalham fora, não há escola particular, viagens nas férias, não há refeições à mesa, oportunizando diálogo e tantas outras coisas simples que nos favorecem crescer a autoestima. E a ausência da autoestima nos faz sucumbir diante do menor desafio. Então, o conhecimento e as experiências que os estudos nos proporcionam vão nos libertando. E como diz o meu texto Negritude: Pois, quando um ser humano preto passa por essa sociedade com trabalho, dignidade, força para não se corromper, não se marginalizar e nem se vitimizar. Mas, pelo contrário, tendo consciência de seu valor, independentemente de sua classe social, conseguindo superar todas as adversidades advindas de sua história e ascendendo profissionalmente, hasteia-se novamente a bandeira da vitória dos nossos ancestrais, que morreram lutando pela liberdade que usufruímos fazendo tudo valer a pena. 
 
Acredita que a questão do racismo está sendo mais combatida atualmente?
Em termos de discurso, sim, temos boas políticas e leis bem estabelecidas, mas talvez a corrupção seja nosso maior desafio. Na prática, o racismo é apenas um pouco menos tolerado. 
 
Como aumentar a consciência da população efetivamente em relação às várias formas de racismo existentes em nossa sociedade? 
Trabalhando a formação das crianças nas escolas e na educação familiar, penso eu. 

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