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Sexta-Feira,14 de Novembro

Segurança comprometida no cadeião: somente neste ano foram apreendidos 65 celulares com presos, que de dentro da cadeia comandam o tráfico e mandam matar rivais

Jornal O Norte
Publicado em 22/11/2006 às 11:04.Atualizado em 15/11/2021 às 08:44.

A falta de detectores de metais ou aparelhos raio X, na entrada da cadeia pública de Montes Claros tem comprometido a segurança do local com a entrada de drogas e principalmente celulares, que possibilitam aos detentos comandar o tráfico de drogas ou até encomendar morte de pessoas do interior do cadeião.



Na tarde de ontem, o diretor do cadeião, delegado Saulo Gomes Nogueira falou sobre a preocupação com a segurança no local, principalmente pelo elevado índice de apreensões de celulares com os presos.






Com os celulares os presos comandam o tráfico de drogas e até encomendam mortes de dentro da cadeia, o que compromete a segurança do local e dos inimigos dos detentos que estão em liberdade



Nos dez primeiros meses deste ano, de 1º de janeiro a 30 de outubro, foram apreendidos 65 celulares e dezenas de carregadores em poder dos detentos. Todos os aparelhos foram apreendidos durante as revistas realizadas nas celas duas vezes por semana, pelos agentes penitenciários e policiais civis, exceto dois, que foram apreendidos no interior do corpo de duas mulheres.



PRISÕES



O delegado Saulo Nogueira frisa a preocupação com a entrada de celulares na cadeia ao destacar que somente em dez meses do ano, doze pessoas foram presas tentando entrar com objetos no cadeião, nove delas com os objetos escondidos nos órgãos genitais.



Das doze pessoas presas e autuadas em flagrante, seis eram mulheres que levavam maconha, crack e cocaína nos órgãos genitais; um homossexual com drogas escondidas em uma bermuda; uma mulher com droga escondida dentro do tamanco; um homem com drogas em frascos de desodorantes; uma mulher com drogas dentro de uma sacola; uma mulher que levava drogas e um celular nos órgãos genitais; e outra mulher que levava um celular também no interior do corpo.



- Este tipo de comportamento, de mulheres utilizarem o próprio corpo para levar objetos para os detentos, é preocupante, pois compromete a segurança de todo sistema carcerário do país. Em Montes Claros, a preocupação ainda é maior, pois a situação da cadeia hoje é humanamente difícil de administrar, uma vez que, em um local construído para abrigar 120 presos vivem hoje mais de 425 homens e mulheres amontoados em 30 celas. Se não bastasse a superlotação, a segurança ainda fica comprometida com a entrada de aparelhos e drogas no local através de mulheres que arriscam a liberdade, como nos casos registrados neste ano, quando todas foram autuadas em flagrante e também estão presas, para abastecer o tráfico de drogas na cadeia ou facilitar o contato dos detentos com o mundo externo – afirmou o delegado.



ARMAS E EXPLOSIVOS



O diretor da cadeia disse ainda que estes problemas ocorrem, devido à falta de detectores de metais ou aparelho de raio X para serem utilizados durante a revista dos visitantes.



- Assim como estão entrando celulares e drogas, dentro do corpo das mulheres ou parentes dos detentos, também podem entrar armas, munições, explosivos, etc. Os presos, equipados com essas armas e explosivos, a qualquer hora podem provocar uma rebelião igual ou pior que a de setembro do ano passado, quando pessoas ficaram gravemente feridas, e grande parte da estrutura física do local foi destruída – alertou o diretor do cadeião.



INVESTIGAÇÕES



Saulo Nogueira falou ainda da instauração dos inquéritos para apurar a procedência dos celulares apreendidos no cadeião.



- É preciso descobrir urgentemente como os aparelhos celulares estão chegando às mãos dos presos, pois muitos deles utilizam o telefone para comandar o tráfico de drogas de dentro da cadeia e até mesmo encomendar mortes de rivais. Estamos investigando se houve facilitação por parte dos responsáveis que fazem a segurança do local, para que os celulares cheguem até os presos ou se realmente esses aparelhos estão sendo levados pelas mulheres no interior do corpo. Se for descoberto qualquer caso em que houve facilitação dos responsáveis pela segurança, eles serão punidos rigorosamente dentro da lei – afirmou o delegado.



MORTE POR ENCOMENDA



O diretor da cadeia reforçou que os celulares nas mãos dos detentos comprometem não só a segurança do local, mas também a segurança de quem está do lado de fora, ao lembrar que o assassinato do menor Renato Desidério Ruas, 16 anos, registrado no dia 2 de junho, teria sido encomendado pelo detento Marcos Flávio Alves Moreira, 24 anos, conhecido como Marquinhos Costela, preso desde o dia 26 de abril deste ano.



Segundo investigações da delegacia de homicídios, a ordem para matar com requintes de crueldade o menor Renato Desibério partiu de dentro do cadeião em uma ligação de Marquinhos Costela, suspeito de ser o maior matador da história do trafico de Montes Claros, para integrante de uma das quadrilhas que comandam o tráfico de drogas no Feijão Semeado, Morrinhos e Vila Tiradentes.



- Crimes como esse poderia ser evitado se os detentos não tivessem contato com o mundo externo. Assim como mortes por encomenda podem ter partido de uma ordem de um preso, o tráfico de drogas também está sendo comandado de dentro da cadeia. Isso interfere totalmente na segurança da população – informou o delegado.



DETECTORES DE METAIS



O juiz da vara de execuções penais, Marcos Antônio Ferreira, informou a O Norte, na tarde de ontem, que nos próximos trinta dias serão instaladas duas portas com detectores de metais na entrada da cadeia pública.



A conquista dos detectores de metais foi efetuada após reivindicação das autoridades responsáveis pela segurança da cadeia e anunciada na manhã de ontem ao juiz Marcos Antônio Ferreira pela agência bancária da cidade que fez a doação.

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