
Celebrado em 24 de janeiro, o Dia do Aposentado homenageia a Lei Eloy Chaves de 1923, marco inicial da previdência social no Brasil. Oficializada pelo Decreto Lei no 6.926 em 1981, a data reconhece a importância dos aposentados. Contudo, apesar do reconhecimento simbólico, aposentados e especialistas destacam que persistem desafios que clamam por reformas efetivas.
Ivanylda Mônica Alves da Silva, aposentada há 15 anos, reforça que o papel dos aposentados no desenvolvimento do país é importante e lamenta a falta de reconhecimento. “Nós contribuímos para o crescimento do Brasil, isso não podem esquecer”, afirma. Para ela, o salário e a saúde são os principais entraves enfrentados atualmente. “A questão salarial deixa muito a desejar”, critica. Ivanylda também destaca as dificuldades relacionadas à saúde, especialmente os custos elevados dos planos. “A gente tem o IPSEMG [Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais] com muitas deficiências, e os outros planos, cada dia mais caros”, relata. Na sua visão, a saúde é o maior desafio para os aposentados. “Não é que esteja tão ruim, mas é claro que pode melhorar. Principalmente o que pesa mais para a gente hoje é a saúde”, conclui.
César Ramos de Andrade, presidente da instituição São Vicente de Paulo em Montes Claros, Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), destaca que muitos idosos sofrem uma redução significativa no rendimento mensal após deixarem a atividade econômica formal. Na instituição que preside, a maioria dos acolhidos tem renda de apenas um salário mínimo. “Mesmo com o direito de usufruir 70% do rendimento do idoso, as instituições enfrentam dificuldades. Muitos já chegam com descontos de empréstimos feitos pela própria família, o que reduz ainda mais o valor disponível, geralmente para cerca de R$ 600 ou R$ 700. Esse valor é insuficiente para cobrir todas as necessidades, como alimentação, medicamentos e fraldas geriátricas”, explica.
César aponta que a precarização financeira impacta diretamente a qualidade de vida dos idosos, dificultando a manutenção de aspectos básicos. Ele também destaca que a valorização do aposentado deve começar com ações governamentais. “Cabe às diferentes esferas do governo, como municipal, estadual e federal, implementar políticas e ações voltadas para o idoso e o aposentado. A sociedade tem um papel importante em cobrar essas iniciativas, mas são os governantes que devem liderar essas mudanças”, afirma. Ele ressalta ainda que o idoso muitas vezes é esquecido nas políticas sociais. “O idoso, no contexto das ações sociais, é frequentemente relegado e esquecido, inclusive pelos governos, que dão prioridade a outros grupos, como mulheres, negros, indígenas e crianças. Apesar de ser justo, o idoso também precisa de mais visibilidade”, critica.
Além das questões financeiras, ele enfatiza o impacto emocional que a aposentadoria e a falta de acolhimento familiar podem causar. “Se não houver acompanhamento da família, além do impacto financeiro, o idoso enfrenta um impacto emocional e social. É por isso que instituições como a nossa existem: para suprir essas lacunas. No mundo ideal, essas casas de acolhimento não deveriam ser necessárias, mas infelizmente são”, reflete.
“Enquanto a sociedade não exigir mudanças estruturais e os governos não priorizarem políticas públicas voltadas para os aposentados, a luta por reconhecimento e qualidade de vida continuará sendo uma pauta urgente”, admite Andrade.
Maria Aparecida Costa, professora aposentada, com uma vida dedicada ao trabalho, com dois turnos diários e responsabilidades familiares, relata os desafios da adaptação à nova rotina. “Eu senti um pouco, porque a minha vida era o trabalho. Mas com a aposentadoria, passei a ter mais contato em casa, justamente nos momentos em que havia mais necessidade”, conta. A professora, que se aposentou pela primeira vez em 1990 e novamente em 2004, acredita que a sociedade ainda não valoriza os aposentados como deveria. “Deveríamos ser mais valorizados. Trabalhei 30 anos, consegui duas aposentadorias para ter uma vida digna agora, mas sei que muitas pessoas não têm essa mesma oportunidade”, reflete.
Sobre o Dia do Aposentado, Maria Aparecida reconhece sua importância simbólica, mas considera que ele não alcança seu objetivo se mudanças concretas não forem realizadas. “Eu acho importante ter uma data, mas, sinceramente, ela não significa quase nada se não houver mudanças reais”, conclui.