Olhai as montanhas

Reportagem desbrava a Cordilheira do Espinhaço

Manoel Freitas
Publicado em 06/10/2023 às 19:00.
Cordilheira do Espinhaço: mais de mil quilômetros de rica biodiversidade (Manoel Freitas)
Cordilheira do Espinhaço: mais de mil quilômetros de rica biodiversidade (Manoel Freitas)

O NORTE inicia, nessa edição, uma série de reportagens especiais sobre os patrimônios naturais e culturais da Cordilheira do Espinhaço, a única do Brasil, notadamente nos municípios de Grão Mogol e Botumirim, cujas riquezas são protegidas na atualidade por dois parques estaduais criados pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG). 

Expressivo sistema de montanhas reunidas, composto por três biomas de enorme importância para proteção da biodiversidade: Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Na verdade, uma das maiores produtoras de águas nas principais bacias hidrográficas do país, que deságuam em direção ao Oceano Atlântico.

Um tesouro brasileiro, o país mais verde da América Latina, que reluz na cadeia do Espinhaço, ao mesmo tempo em que reclama proteção, especialmente de sua flora. 

Senão, vejamos. Muitas espécies desses campos rupestres são classificadas pela ciência, hoje, como em perigo (EN), segundo estado de conservação mais grave para as espécies na natureza. Em outras palavras, a sigla aponta para espécies que podem ser extintas num futuro próximo.

De modo que nas trilhas da espinha dorsal do Brasil, com cerca de mil quilômetros de extensão, são nítidos os sinais de perigo, haja visto que na natureza 3.219 animais e 3.009 plantas estão ameaçadas de extinção.

JOIAS DA CORDILHEIRA DO ESPINHAÇO

O primeiro dia de escalada na Cordilheira do Espinhaço, 20 de setembro, foi acompanhado de perto pelo IEF, gestor do Parque Estadual de Grão Mogol, criado em 22 de setembro de 1998 com área de 28.404 hectares. Rica em espécies e em história: a incursão foi feita pela Trilha do Barão, pavimentada em cantarias (pedras irregulares) por volta de 1875 pelos escravos do Barão de Grão Mogol.

Os retratos da Trilha, do barão que representava os interesses da coroa portuguesa, por sinal serão revelados em conteúdo futuro dessa série de reportagens, também pela sua diversidade, beleza cênica e a extraordinária obra de engenharia, cuja conservação é igualmente de responsabilidade do IEF.

Ao todo, são 12 quilômetros, os primeiros 4,5 km íngremes e desafiadores, mas necessários para se ter ideia exata do esforço feito naquela época para ligar a fazenda do Barão (Gualter Martins Pereira) ao então Arraial de Grão Mogol, onde nasceu em 1826 na Fazenda Santo Antônio. 

Seguindo as pegadas dos escravos, em toda sua extensão é possível documentar, além da flora, aves endêmicas da Cordilheira do Espinhaço, como o Beija-flor-de-gravata-verde (Augastes Scutatus), que habita regiões pedregosas e semiáridas, dos cumes de serras e chapadas. 

Uma joia, ave classificada como espécie “quase ameaçada” globalmente (BirdLife International 2000), por possuir área de ocorrência limitada que sofre influência do ser humano. 

Diamante de Grão Mogol

Dezoito de setembro, quarto dia da expedição que explorou a fauna, flora e os paredões de pinturas rupestres de Grão Mogol e Botumirim, a expectativa de compartilhar do grande segredo da unidade de conservação incrustada feito diamante na Cordilheira do Espinhaço: ver e fotografar o Discocatus Horstii. Isso, depois de caminhada de mais de uma hora, tomado todos os cuidados por se tratar de uma preciosidade. 

Cerrado adentro, lá estava o novo diamante de Grão Mogol, o raríssimo cacto de incríveis dois centímetros de altura e seis centímetros de largura, globoso, verde ou marrom-avermelhado, com costelas que variam de 12 a 22. Mais ainda, cada costela possui de quatro a seis agrupamentos de espinhos curtos que lembram pequenas aranhas, curvados junto ao caule. 

Um diamante tão lindo como ameaçado: de acordo com a publicação Flora Ameaçada, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em parceria com o Centro Nacional de Conservação da Flora, seu estado de conservação é preocupante. Avaliado como risco de extinção (CR), posto que a espécie é conhecida apenas para os campos rupestres do município de Grão Mogol. É encontrado em altitude aproximada de mil metros, somente debaixo de arbustos em solo de pedras e arenoso.

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