Olha a festa!

Quadrilhas juninas são reconhecidas como patrimônio cultural

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 25/06/2024 às 19:00.
Há 23 anos, o Arraiá do Rela Bucho está em atividade e já participou de diversos eventos juninos, tendo vencido alguns deles (Larissa Durães)

Há 23 anos, o Arraiá do Rela Bucho está em atividade e já participou de diversos eventos juninos, tendo vencido alguns deles (Larissa Durães)

O reconhecimento das festas e das quadrilhas juninas como manifestação da cultura nacional foi recebido com entusiasmo pelos grupos de quadrilha de Montes Claros, no Norte de Minas. A notícia foi oficializada na última segunda-feira (24), com a publicação da Lei 14.900 no Diário Oficial da União. Essas festividades movimentam o turismo e, este ano, devem mobilizar mais de 21,6 milhões de pessoas, segundo o Ministério do Turismo, com grande parte do público se dirigindo ao Nordeste. Em Minas Gerais, espera-se um aumento de 20% no número de participantes, alcançando um público de três milhões em dois meses. 

“A oficialização foi essencial. Porque só de ser considerado patrimônio, acho que fica mais fácil para a gente ser reconhecido. Antes, ficávamos naquela marginalidade, sem apoio de praticamente nada, correndo atrás de tudo”, diz o presidente do grupo Arraiá do Rela Bucho, Sérgio Castro Amorim. 

Ele acredita que, com a oficialização em termos de patrocínio e apoio político, irá facilitar na hora dos eventos e conseguir estruturas. “Nós não temos nada disso, tudo temos que correr atrás pessoalmente, desde a criação do figurino até a preparação da coreografia, tudo por nossa conta. Participamos de vários eventos e, quando precisamos dançar, apresentamos com todo carinho e satisfação. Mas a maior dificuldade é a falta de apoio das prefeituras e patrocínio”. 

O Arraiá do Rela Bucho existe há 23 anos e já participou de vários eventos juninos, vencendo alguns. Neste ano, o Rela Bucho apresentou em Bocaiuva, Cristália e em Montes Claros, no Armazém do Chico, no Fazendão Show, na Grande Trigo. “Esta semana, temos uma organização no Corredor Cultural, no centro”, informa Amorim. O evento será na sexta-feira (28), às 19h30.  

TRADIÇÃO
Dário Teixeira Cotrim, historiador e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGM), explica que as festas juninas têm uma tradição religiosa que veio de Portugal para suas colônias, incluindo o Brasil e as colônias africanas, durante a colonização. “Não é apenas São João, mas também Santo Antônio, São Pedro e outras tradições religiosas, como os catopês e as marujadas”, diz. Para ele, entretanto, essas festas religiosas estão em decadência devido ao desenvolvimento das cidades. “Em grandes cidades como Montes Claros, as fogueiras são raras, algo ainda comum em cidades pequenas como Varzelândia, assim vai se perdendo o aspecto tradicional da festa”, lamenta. 

Outro fator, segundo Cotim, é sobre a influência das outras religiões. Dário comenta que o avanço de outras religiões e a decadência do catolicismo contribuem para a diminuição das festas juninas. “A falta de apoio da igreja também é um fator, pois antigamente a festa era mais apoiada pela igreja e envolvia a presença dos padres e das famílias, com atividades como assar batata e soltar balão, que hoje são proibidas”, conta. 

Em relação à dança nas festas juninas, Dário esclarece que no Nordeste, a festa de São João foi associada ao forró, mas em Portugal a festa inclui o fado, não o forró. “Tradicionalmente, a festa envolvia pular fogueira, um ritual de batizado com madrinha e padrinho de fogueira. No Brasil, a festa foi adaptada com o forró, mas hoje inclui outros ritmos como lambada, o que alterou a tradição original. Abrasileiramos as festas juninas e hoje exageram ainda mais, fazendo a festa perder muito do que foi um dia”, relata.  
 
CULINÁRIA
Festa junina sem uma boa comida típica, não é festa junina completa. Assim, a confeiteira, salgadeira e autônoma, Ivânia de Fátima Ruas Rocha, conta que o mês de junho ajuda muito na economia familiar. “É uma época muito importante para todas as pessoas, principalmente para quem trabalha no ramo. É muito satisfatório fazer as encomendas, agradar aos clientes, trabalhar com muito amor. Gosto muito dessa época”, diz satisfeita.

Rocha diz que trabalha há 23 anos neste ramo, e que, por experiência, os pratos de que os montes-clarenses mais gostam são os quentes, mas tem mais dois que não podem faltar. “Os que mais saem são os caldos, mas o pé-de-moleque e a paçoca também”, informa. 

Para ela, a valorização da festa é algo ótimo. “Espero que possa melhorar ainda mais. É muito bom esse reconhecimento, enriquece e valoriza mais ainda o nosso trabalho”, acredita.

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