A reportagem de O Norte descobriu na manhã da última quarta-feira que integrantes da quadrilha do bilhete premiado também deram o golpe em Montes Claros. A dona de casa Maria (nome fictício), residente no Bairro Funcionários, zona Sul da cidade, disse em entrevista à reportagem que, no final do ano passado, um homem a convenceu de que era carente e precisava de dinheiro para sustentar sua família, e levou R$ 50, da doméstica em troca de um bilhete premiado da mega-sena.
- Eu estava voltando da padaria, quando cheguei na porta de casa, um homem de bicicleta me abordou e começou a falar que estava precisando de ajuda para sustentar sua família. No começo, achei estranho, mas ele foi falando das dificuldades e fiquei comovida. Ele, então, me ofereceu um bilhete de loteria que, segundo ele, estava premiado e pediu para eu ajudá-lo a pegar o prêmio e assim eu iria ganhar R$ 6 mil. Eu falei com ele que não tinha dinheiro, e ele começou a falar que ninguém acredita na sorte, mas que se eu o ajudasse, às 15 horas eu teria em minhas mãos 6 mil reais. Relutei mas, com a insistência dele, acabei dando 50 reais, não pelo prêmio, mas para ajudá-lo. Até hoje ele não voltou. Depois, comentando com alguns amigos do bairro sobre o que aconteceu, descobri que mais três pessoas também tinham sido enganadas pelo homem, que levou de cada uma mais de 300 reais.
Ao ler o jornal, a doméstica reconheceu o integrante da quadrilha Aroldo Nunes de Oliveira, 43 anos, como o homem que levou seu dinheiro no ano passado.
Questionada pela reportagem por que não denunciou o fato, Maria disse que por ser pouco dinheiro, não quis se envolver com a polícia, e que Deus já lhe retribuiu em dobro.
– Não dei o dinheiro a ele pensando no retorno e sim para ajudá-lo, pois afirmou que estava com a situação financeira precária e precisava ajudar seus familiares, que enfrentavam problemas de saúde – diz a doméstica.
Sobre a vítima de Moc, o chefe da polícia federal na cidade, Daniel Silva Souza, diz que, até então, as informações averiguadas são de que a quadrilha só agiu fora da cidade, mas não descarta a hipótese de o golpe também ter sido aplicado aqui.
- A vítima deve vir até a polícia federal para prestar depoimento e, então, iniciarmos a investigação – informa Daniel.
MAIS UMA VITIMA
Na manhã de quarta, a polícia federal ouviu mais um vítima do golpe do bilhete premiado. A aposentada Messias Bom Tempo, 70 anos, de Belo Horizonte, perdeu 55 mil reais.
Segundo a aposentada, a integrante da quadrilha Leila se passou por uma caipira que tinha acertado na loteria e, depois de muita conversa, a convenceu a ajudá-la, assim como fez com outras vítimas.
- Nesse momento, chegou um homem dizendo que estava passando mal e pediu para entrar em minha casa. Ofereci almoço para os dois, almoçamos juntos e combinamos de ir ao banco receber o dinheiro do prêmio. Nisto tinha dado como garantia para eles 55 mil reais. No momento em que saí para buscar a bolsa no quarto, os dois fugiram em um carro importado, deixando as portas da casa todas abertas – informa Messias.
De acordo com o delegado Daniel Silva, mais sete vítimas do golpe do bilhete premiado aplicado pelos integrantes da quadrilha presos no último domingo já ligaram para a PF depois de reconhecê-los, sendo cinco de belo horizonte e duas de Campinas.
O delegado informa também que o inquérito será concluído na próxima terça-feira.
SEQÜESTRO
Os integrantes da quadrilha que aplicavam o golpe do bilhete premiado também são suspeitos de terem seqüestrado um japonês há 2 anos, no Bairro Ibituruna, em Moc.
A informação chegou à PF através de novas denúncias contra o grupo preso. Para o delegado Daniel Silva Souza existe a possibilidade de abrir outro inquérito para apurar eventuais novos crimes praticados pela quadrilha.
Os seis acusados presos permanecem na cadeia de Moc. Cinco carros importados e uma moto estão apreendidos na delegacia da PF, assim como jóias, barras de ouro, dólares, arma de fogo, munições e bilhetes lotéricos falsos.
Outros bens dos envolvidos e de familiares também foram bloqueados pela justiça.
A PRISÃO
Weuber Sandro da Silva, 32 anos, apontado como líder do grupo; Frederico Arley Ribeiro, 25 anos; e Murilo Farley Santos, 34 anos; os irmãos Aroldo Nunes de Oliveira, 43 anos, e Ataíde Cloves de Oliveira, 45 anos; e Leila Adriana de Oliveira, 41 anos, que também atuava na quadrilha, foram presos na madrugada do último domingo, durante a Operação loteria efetivada por 40 agentes da PF, sendo 32 de Montes Claros e 08 de Belo Horizonte, que estiveram na cidade de Rio Claro, localizada no interior de São Paulo.
Os seis integrantes da quadrilha acusada de aplicar o chamado golpe do bilhete premiado em várias cidades do país, estão presos na cadeia pública de Moc. O prejuízo causado pelos integrantes da quadrilha é estimado pela PF em mais de R$ 3 milhões.
Durante a operação, o suspeito de ser o líder da quadrilha, Weuber Sandro, tentou fugir do cerco dos agentes federais conduzindo um carro importado Audi TT, mas acabou detido na barreira feita por policiais militares ao ter o pneu do carro furado a bala.
Segundo a PF de Montes Claros, há seis meses houve uma denúncia sobre ostentação excessiva de Weuber Sandro, que freqüentaria muitas festas e locais caros da cidade, bancando todas as despesas. O acusado possui carro importado avaliado em R$ 110 mil, moto de mil cilindradas e outros veículos, mas não teria nenhum tipo de ocupação.
Após a denúncia, os agentes federais começaram a investigar um possível envolvimento de Weuber com roubo de carro ou tráfico de drogas, quando chegaram ao golpe aplicado pela quadrilha.
Foi descoberto pela PF que, em 2001, a polícia havia prendido Weuber sob acusação de tentativa de aplicar o mesmo golpe do bilhete, e que em 08 de dezembro último, Murilo Farley foi preso em Brasília quando atuava com o próprio Weuber, que fugiu, deixando o comparsa para trás.
Dois suspeitos integrantes da quadrilha continuam foragidos: Rubens Nunes de Oliveira, irmão de Aroldo e Ataíde, e Pio Rodrigues da Cruz.
O GOLPE
A quadrilha selecionava suas vítimas entre pessoas de alto poder aquisitivo. O alvo dos estelionatários era abordado na rua por um dos integrantes da quadrilha disfarçado de caipira, que alegava ter ganhado na mega-sena e revelava que um vizinho teria oferecido R$ 25 mil pelo bilhete.
Nesse momento, um segundo integrante da quadrilha simulava ser um empresário rico da cidade e se aproximava da dupla. Sob a afirmação de que era amigo de um gerente da Caixa Econômica Federal, banco que paga o prêmio da mega-sena, o falso empresário simulava uma ligação telefônica para funcionário do banco, confirmando que o bilhete seria mesmo premiado.
Os dois golpistas convenciam a vítima a comprar o bilhete e a colocavam no carro, para sacarem o prêmio. No caminho, o golpista que se passava por uma pessoa humilde pedia garantia de que não seria enganado, e a vítima era induzida a dar jóias ou dinheiro aos estelionatários, que desapareciam posteriormente.
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