No dia 25 de julho é celebrado o “Dia do Escritor”, e o Norte de Minas possui um leque de grandes nomes da literatura que divulgam suas obras para o resto do país, como Cyro dos Anjos, Darcy Ribeiro, Aníbal Oliveira Freire, Amelina Chaves, Geraldo Ribas, entre outros. São histórias contadas por aqueles que transformam sonhos em palavras. Para homenagear os escritores de Montes Claros e região, autores falam sobre inspiração e trabalho.
Nosso bate-papo de hoje é com o escritor Damião Cordeiro, autor de “Pescados do mundo” (2020); “Lábios de Porco” (2021) e “Carne de dois pelos” (2022).
Onde nasceu e hoje reside atualmente?
Eu, Damião Cordeiro, escritor. Brotei-me na comunidade de Lagoa; Serranópolis de Minas, onde habito e tenho como faina a lavoura. A palavra: minha colheita mais bendita...
Você elegeu algum dos seus livros como preferido?
O meu pensamento comunga com o pensamento do escritor mineiro Bartolomeu Queirós. Gesto um só livro vida inteira. Escrevo sobre Eros et Thanatos, humor, ironia, lirismo e dor. Sopro poeiras deste mundo e de outros tão bem imagináveis. Lapidar livros é gestar filhos. Os três filhos, univitelinos e mesma personalidade. No dentro do amar paternal não aloja um predileto. Amor paterno aninha todos.
Foi difícil chegar até uma editora e publicar seu primeiro livro?
Dificílimo. Tem uns 40 anos que lapido a verba, só agora em 2020, pari o primogênito. É muito custoso criar livros neste país. Tem que ter cascalho.
O primeiro foi mais difícil?
Sim. Por falta de largueza-experiência, sempre o primogênito é mais dolorido.
Já está pensando em algum tema para explorar no próximo trabalho?
Sim. Quem entra na cata do lapidar palavras, observa minuciosamente a condição humana e diariamente burila alguma coisa sem pensar em cabedal. Como a minha literatura é uma só, o tema é o de sempre; mesmo estilo. Estou escavando agora: “A ponta da fissura”. De poemas também.
E com relação a outros autores? O que anda lendo?
Navego em leituras aleatórias. Mais nas águas do conto: Autran Dourado, Antônio Carlos Viana, Moreira Campos, Luiz Vilela, Mário de Andrade, Dalton Trevisan. Poetas, vários: Bandeira, Sidneia Simões, José Inácio Vieira de Melo, Manoel de Barros, Adélia Prado... No momento leio “Poemas da Recordação e Outros Movimentos”, da excelente Conceição Evaristo.
Como você avalia a realização de concursos e prêmios literários no Norte de Minas?
É necessariamente necessária a realização de concursos literários. Cá, neste norte existem bons escritores. Seria uma maneira de expô-los aos olhos dos leitores...
Minas Gerais respeita seus leitores?
Indagação precisa. Sei não... O estado tem poetas de respeito e de responsa, mas, infelizmente, não explorados: Drummond, Adélia Prado, Murilo Mendes (dentre outros...)
Qual é o seu ritmo de trabalho? Você escreve um pouco todos os dias?
De escrever, sofro arritmias (risos). É como a leitura, meio uma barafunda meio-calma. Escrevo diariamente, mesmo sem o ritmo, sem o ritual. Vou no habitual, me exercitando para quem sabe, alcançar um texto que tenha algum brilho literário. Muitos, escrevo e jogo fora.
Como e por que decidiu ser escritor?
Não tive tempo pra decidir nada. Foi a condição do (des)humano que me fisgou pela alma: sou um pescado do mundo e para o mundo...