
Uma pesquisa da Porto Digital, em parceria com a Offerwise, revela que 90% dos brasileiros consideram o monitoramento parental do uso da internet pelos adolescentes insuficiente. Muitos defendem que escolas devem intensificar a conscientização, com apoio de psicólogos. O debate ganhou força após uma série de streaming destacar os conflitos dessa faixa etária.
Para a comerciária Rose Caldeira, mãe de Leandra e Larissa, de 15 e dez anos, respectivamente, a questão passa antes de tudo pela confiança estabelecida entre pais e filhos. “Leandra é uma menina muito consciente e estudiosa. A rede social não atrapalha nos estudos, pelo contrário. É uma ferramenta que ela utiliza e coerente com os tempos atuais. Eu conto com a ajuda dela, inclusive, para monitorar a irmã mais nova”, conta Rose. Em relação ao tempo de uso, ela destaca que as vezes precisa chamar a atenção para uma tarefa doméstica, como arrumar o quarto, porque Leandra quase sempre está com o celular na mão. Em relação ao conteúdo acessado, Rose afirma que eventualmente faz essa verificação e aposta no diálogo e na proximidade entre elas, para conduzir qualquer problema.
Leandra, que respondeu à reportagem apenas no intervalo da escola, também diz que a relação de confiança é um elo significativo para modular a questão. “O tempo que passo na internet é moderado, nem muito, nem pouco. E o mais importante é que tenho liberdade e acho essencial conversar com a família sobre situações incômodas que estão na internet. Comigo nunca chegou a ocorrer nada desagradável, mas com certeza eu me sentiria a vontade para conversar”, declara.
Jaqueline Moraes, designer de interiores, decidiu com o marido dedicar-se integralmente à maternidade. Hoje, com a filha Sarah de 13 anos, ela afirma que o monitoramento do uso da internet é essencial, mesmo havendo uma relação de confiança entre elas. “Fui e sou chata. O quarto não tem chave, eu tenho a senha do celular, verifico as conversas e com quem se relaciona. Por passar tempo de qualidade com ela, percebo quando algo não está bem. Já coloquei para fazer terapia quando achei necessário. Leio e ouço especialistas sobre cada fase da vida dela”, diz a mãe, ressaltando que é importante ouvi-la sem julgamento, e junto com a escola auxiliar no psicológico, dando a cada um à sua responsabilidade. Levar para atividades em que elas possam se divertir juntas é uma alternativa para sair um pouco da internet. “A maternidade é desafiadora não só em questões financeiras, mas psicológicas e tantas outras”, destaca.
A psicóloga Marcela Daniely Andrade afirma que a pandemia da Covid foi um ponto de virada para muitas mudanças sociais, e, entre elas, o aumento de tempo em telas, seja por lazer, estudo ou trabalho. “A quantidade aumentou tanto, que hoje você dizer para a família que as crianças e adolescentes precisam estar longe das telas para se desenvolver, causa muito estranhamento”, diz. A ansiedade dos pais ao tentar limitar o uso do telefone pelos adolescentes é um grande desafio, segundo a psicóloga. Embora a internet ofereça muito conhecimento, também expõe os jovens a conteúdos negativos. O risco é que, com o senso crítico e a personalidade ainda em formação, eles se tornam mais influenciáveis e vulneráveis a armadilhas de consumo e discursos de ódio.
Para Marcela, a responsabilidade é de ambos. A escola faz o seu papel ao proibir o uso de celulares em sala de aula e ao abrir discussão sobre temas atuais, com a ajuda de um profissional da saúde mental. “Com os pais, fica a responsabilidade de estar atento ao que o filho consome, quem o influencia, e principalmente, as intenções desse influencer, que muitas vezes pode estar mais ligado a dinheiro, do que a ética. Durante a minha experiência clínica, uma das principais demandas trazidas pelos adolescentes, se baseia na comparação”, sinaliza.