Valorização do trabalho

Pesquisa aponta confiança em futuro profissional, mas insatisfação com salários

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 29/04/2025 às 19:00.
Professor Geraldo Ferreira reconhece progressos na carreira do magistério, apesar da desvalorização histórica no Brasil (Larissa Durães)
Professor Geraldo Ferreira reconhece progressos na carreira do magistério, apesar da desvalorização histórica no Brasil (Larissa Durães)

Em 2025, quando se celebram 139 anos do Dia do Trabalhador, a realidade dos profissionais brasileiros é marcada por sentimentos contraditórios. Pesquisa realizada pela Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, revela que, mesmo insatisfeitos com salários e oportunidades de crescimento, muitos trabalhadores demonstram satisfação com seus cargos atuais e mantêm o otimismo em relação ao futuro da carreira.

Segundo o levantamento, 59% dos entrevistados estão confiantes no desenvolvimento profissional nos próximos cinco anos. Entretanto, a questão financeira ainda gera preocupação: 68% afirmam estar insatisfeitos com a remuneração, e 33% consideram difícil alcançar estabilidade financeira na aposentadoria.

“Adoro o meu trabalho, mas devemos admitir que em Montes Claros o salário é muito baixo, desmotiva qualquer bom trabalhador”, lamenta uma esteticista que preferiu não se identificar. “O mesmo serviço em uma cidade do mesmo tamanho no sul de Minas paga bem mais que aqui. Não entendo por que os empregadores nos desclassificam tanto”, lamenta.

A busca por um salário melhor (32%) e por mais qualidade de vida (27%) lidera a motivação daqueles que procuram novas oportunidades no mercado. Já entre os principais desafios apontados no ambiente de trabalho atual estão a baixa remuneração e a alta carga de tarefas.

O professor do ensino superior Geraldo da Aparecida Ferreira avalia que, apesar da histórica desvalorização da profissão no Brasil, a carreira no magistério tem apresentado avanços importantes. “A profissão de professor nunca foi valorizada como deveria no país. Mas considero que tivemos avanços. A carreira do magistério superior tem possibilitado algumas conquistas, e isso tem proporcionado boas condições de vida”, afirma. Ele reconhece que os salários ainda poderiam ser melhores, mas considera que, diante do cenário nacional, a remuneração permite uma vida digna. “Mereceríamos ganhar muito melhor. Mas, tendo em vista o nível salarial no Brasil, estamos sendo remunerados de forma que conseguimos sobreviver”.

Sobre o futuro, Geraldo se mostra confiante. “Sou otimista e acredito que sim, que a gente vai ter um futuro melhor. E uma boa aposentadoria faz parte dos meus planos, com certeza”, finaliza.
 
PERSPECTIVAS
Marcelo Braga, representante do Sindicato dos Empregados no Comércio de Montes Claros (SindComerciários), destacou as dificuldades enfrentadas pela categoria e o desafio nacional de valorização do trabalho formal. “O trabalhador brasileiro, de modo geral, é mal remunerado e esse é um grande gargalo que vamos enfrentar nos próximos anos”, afirmou. Segundo ele, o cenário atual impulsiona uma migração crescente de trabalhadores com carteira assinada para o empreendedorismo informal, em busca de melhores rendimentos, ainda que à custa de mais horas de trabalho, maior desgaste físico e ausência de garantias trabalhistas.

Braga apontou que o salário médio dos comerciários em Montes Claros gira em torno de R$ 1.600 a R$ 1.700, valor que considera pouco atrativo para jornadas de 44 horas semanais. “Hoje, o trabalhador sai de casa sem a perspectiva de crescimento profissional, e muitos têm pedido demissão para buscar alternativas por conta própria”. Mesmo com vagas disponíveis no mercado, ele acredita que o baixo patamar salarial desestimula os profissionais a se manterem no emprego formal.

Apesar das dificuldades, Braga considera positivo o fato de muitos trabalhadores manterem o otimismo em relação ao futuro da carreira. “É muito bom saber que existe uma expectativa de crescimento. O que precisamos é fazer com que os salários e os encargos acompanhem essa expectativa, para evitar que as categorias migrem ainda mais para a informalidade.”

Ele alerta, no entanto, para um dilema que o país precisará enfrentar: a falta de conscientização sobre os riscos da informalidade. “Um microempreendedor, um motorista de aplicativo, muitas vezes não tem previdência, não paga seguro do carro, nem contribui com a aposentadoria. Já o trabalhador com carteira assinada tem segurança, tem garantias. Por que não valorizar esse trabalho, se há recursos circulando no mercado?”, questiona.

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