Especial

Norte sem pontes

Das três intervenções prometidas para o Rio São Francisco, uma saiu do papel: apenas R$ 21 mi dos quase R$ 280 mi previstos no projeto

Larissa Durães e Manoel Freitas
02/01/2023 às 22:01.
Atualizado em 02/01/2023 às 22:51
Consórcio de empresas têm até fevereiro de 2024 prazo para conclusão da ponte entre São Francisco e Pintópolis. (MANOEL FREITAS)

Consórcio de empresas têm até fevereiro de 2024 prazo para conclusão da ponte entre São Francisco e Pintópolis. (MANOEL FREITAS)

Um dos principais rios brasileiros, o Velho Chico é responsável pelo desenvolvimento de várias áreas das regiões Nordeste e Sudeste. Só em São Francisco serão investidos R$ 170 milhões.

Com recurso de acordo firmado pelo Estado com a Vale para a reparação dos danos provocados pela tragédia de Brumadinho, ocorrida no dia 25 de janeiro de 2019, por meio do Provias serão realizadas 98 intervenções em rodovias mineiras. No Norte, serão viabilizadas especialmente a construção de três pontes sobre o Rio São Francisco.  

E, apesar de o governador Romeu Zema ter anunciado os recursos em junho de 2022, de acordo com o Portal de Transparência foram empenhadas despesas de apenas R$ 21.332.535,03, a despeito do saldo do projeto ser de R$ 278.667.464,97.

Em São Francisco, que já tinha projeto técnico, as obras de construção da ponte e variante de acesso na rodovia MG 402, sob responsabilidade do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), tiveram início em fevereiro de 2022, ao custo de R$ 112.707.868,42, em execução pelo Consórcio KPE/NE PONTE MG 402, com 1.120 metros de extensão e 13,8 metros de largura.  

A ideia é melhorar a mobilidade e a circulação de pessoas e mercadorias, como o escoamento da produção dos estados de Goiás e Mato Grosso para o Nordeste brasileiro.
 
APENAS UMA OBRA EM EXECUÇÃO 
Entretanto, está em execução apenas a construção dessa ponte sobre o Rio São Francisco, ligando o município de São Francisco a Pintópolis e Urucuia, na MG-402, e, igualmente, o Norte de Minas à Brasília, posto que na atualidade seja preciso passar por Pirapora, João Pinheiro, Paracatu e Unaí. É que a verba do Termo de Transição e de Ajustamento de Conduta (TTAC) assegura tão somente o projeto técnico de outras duas pontes, de modo que por muito tempo ainda a travessia do Rio São Francisco será feita por balsas, mesmo em face à relevância do escoamento do agronegócio do sertão mineiro e de Chapada Gaúcha, no Oeste de Minas, com 24 meses de prazo de execução. 

Para o projeto técnico da ponte Ligando Matias Cardoso a Manga, última cidade de Minas banhada pelo São Francisco, R$ 2.469.189,00 já foram liberados. Aliás, o projeto chegou a motivar audiência pública em Manga já em junho de 2017, segundo a qual até mesmo a travessia deveria ter sido concluída em dezembro do mesmo ano, dada sua relevância para o escoamento do Projeto Jaíba, o maior perímetro irrigado em área continua da América Latina, com o Sul da Bahia e a BR-135. Mais ainda, chegou-se a anunciar a empresa Enecon S/A, para concluir efetivamente a ligação entre os dois municípios, na MG-401, com extensão de 930 metros, 13,8 metros de largura e acessos com 2,1 quilômetros. 

Igualmente graças ao acordo para a reparação dos danos da tragédia que tirou a vida de 272 pessoas, com fortes impactos sociais, ambientais e econômicos, negociado entre a mineradora, o governo mineiro, o Ministério Público de Minas Gerais, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública, outro projeto técnico está em fase de licitação. Trata-se de ponte ligando São Romão a Ubaí, além da execução de seu acesso de cinco quilômetros na rodovia MG-202. A obra tem enorme importância, também, para o escoamento do agronegócio da microrre-gião de Pirapora, facilitando a vida, ainda, das populações de Riachinho, Santa Fé de Minas, Ponto Chique e Icaraí de Minas.

Travessias perigosas

Enquanto só agora a obra da ponte sobre o Rio São Francisco na MG 402, ligando São Francisco a Pintópolis, chega ao seu décimo mês, e, mais ainda, seguem em ritmo lento os editais dos projetos técnicos para garantir acesso e travessia entre Manga/Matias Cardoso e São Romão/Ubaí, ir de uma margem à outra muitas vezes é uma grande aventura. É que a tarefa não é executada apenas por balsas, todas elas sem cobertura, mas, igualmente, por grande número de pequenos barcos a motor, em sua maioria sem os equipamentos de segurança mais elementares, como coletes salva-vidas, colocando em risco à vida das populações ribeirinhas do Norte e Extremo Norte de Minas, divisa com a Bahia.

(Manoel Freitas)

(Manoel Freitas)

De tal forma que a travessia pelo Velho Chico, de um jeito ou de outro, mexe com a economia e, sobretudo, com a vida dos ribeirinhos, uma vez que sua profundidade chega, no período chuvoso, a oito metros de profundidade, tornando mais arriscada ainda as viagens de lanchas e embarcações improvisadas. Por sinal, muitas das quais realizadas duas vezes ao dia por homens e mulheres que trabalham no Projeto Jaíba e estudantes que, por força do horário, não podem depender da travessia por balsas, feitas no mínimo de trinta em trinta minutos. 

Mais ainda, sendo única opção para número maior de passageiros e cargas, as balsas acabam onerando as viagens. De acordo com Portal Oficial de Serviços do Governo de Minas, da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, a tarifa base é de R$ 13,50, mas os motoristas que precisam atravessar o rio chegam a pagar R$ 243,00, como é o caso de veículos que transportam combustíveis. Os demais valores dependem da dimensão e tipo de carga dos veículos, sendo que, de acordo com o Portal do Governo de Minas, as balsas circulam inclusive durante a noite toda, em média 40 viagens por dia, chegando a transportar 800 veículos, entre carros, motocicletas e ônibus.

Mercado de grãos
Prefeito de São Romão desde 2017, Marcelo Meireles de Mendonça (PSDB), disse a O NORTE que “a ponte ligando à Ubaí é o grande sonho da comunidade de São Romão, posto que o transporte é feito por balsa”. O chefe do Executivo lembra que o município é conhecido como “promissor mercado de grãos em Minas Gerais”, mesmo com o escoamento realizado por esse tipo de embarcação. “Na verdade, por aqui passa grande número de caminhões e carretas, daí a relevância da ponte, porque os agricultores poderão investir mais na nossa cidade”, ressalta.

É possível ver famílias inteiras atravessando o Rio São Francisco em pequenas embarcações sem qualquer cuidado com a segurança. (Manoel Freitas)

É possível ver famílias inteiras atravessando o Rio São Francisco em pequenas embarcações sem qualquer cuidado com a segurança. (Manoel Freitas)

Mais ainda, argumenta o prefeito que “a construção desta ponte é tão importante para nós quanto para o Brasil, porque somos o caminho mais curto para quem sai do Sul da Bahia ao Planalto Central, ou Montes Claros a Brasília, por exemplo”. As outras opções, segundo Marcelo Meireles, “seriam através da ponte de Pirapora, ou de São Francisco sobre a nova ponte que está sendo construída sobre o rio de mesmo nome, mas é ainda mais longe se for seguir para Brasília”. No seu entendimento, “Isso aqui vai ser um corredor, será importante para a economia local e da vizinhança, porque vai fomentar o comércio e aumentar o fluxo de passageiros”.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por