Policiais do 10º Batalhão da polícia militar em Montes Claros iniciaram na tarde de ontem, terça-feira, a operação Orla do Bosque, quando ocuparam por tempo indeterminado o aglomerado Conferência Cristo Rei, conhecido como Feijão Semeado, próximo ao Alto São João.

Carros e policiais se revezam desde ontem no cerco


ao Feijão Semeado (foto: Girleno Alencar)

O aglomerado foi identificado pela PM como uma zona quente de criminalidade, com grande concentração de autores de receptação, furto/roubo de veículos e a transeuntes, uso e tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo, entre outros crimes.

A operação tem como objetivo prevenir e reprimir a prática de delitos no local, a partir da presença maciça do efetivo de 120 militares, do choque, canil e moto rotam, a pé e motorizados, nas ruas e becos do conjunto.

TIROTEIO

A ocupação da polícia militar aconteceu ao meio dia de ontem, após registro de que, durante a madrugada, homens do Feijão Semeado dispararam mais de 38 tiros de pistola 380 contra a residência da doméstica Noêmia Dezibere da Silva, 38 anos.

No local, Noêmia Dezibere informou que os autores dos disparos são parentes de Ricardo Gaspar Lopes de Souza que, como O Norte divulgou em primeira mão, havia sido preso às 22h30 de segunda-feira com um revólver calibre 38, durante rastreamento.

- Eles já estão me ameaçando constantemente por causa de problemas com meus sobrinhos, e atiraram em minha casa após me acusar de ter sido autora da denúncia de que Ricardo estava armado aqui – diz Noêmia.

A doméstica informa que há alguns anos houve uma confusão entre os seus sobrinhos com um pessoal do Feijão Semeado comandado por Marquinhos Costela, natural de Belo Horizonte:

- Marquinhos havia encomendado a morte de meu sobrinho Dirceu Fonseca e vem ameaçando meus outros sobrinhos, inclusive um menor de 16 anos, constantemente. No ano passado, Renato matou Tião Macalé aqui no bairro, o que motivou a vingança do grupo de Marquinhos Costela e Ricardo contra meus parentes. Quando Marquinhos se armou para matar Renato, meu sobrinho Edicel o atingiu na perna, o que provocou problemas físicos até os dias atuais. Aí começou a guerra, ameaças em cima de ameaças, tive que tirar todos os meus sobrinhos da cidade e agora eles querem descontar a raiva me matando.

FOGO CRUZADO

Ainda segundo Noêmia, Ricardo mandara matar seu sobrinho Ediceu:

- Quando estava na cadeia, Ricardo pagou R$ 1.500 para que seu grupo matasse meu sobrinho, mas não conseguiu porque o retiramos da cidade. Agora, não sei o que vou fazer, meus filhos estão ameaçados, estou no meio do fogo cruzado. Sou eu que eles querem, porque não deixei que eles matassem meus sobrinhos. Estou desesperada, hoje a polícia está aqui, mas e amanhã como vai ser? Se não forem presos, eles vão voltar e, agora, para matar.

Dezibere diz que a polícia foi informada de que Marquinhos Costela estava em Moc, nos bairros Esplanada e Renascença, mas não foi preso.

Questionada sobre o porquê de estar sendo ameaçada e não as mães dos seus sobrinhos, Noêmia afirma que eles querem se vingar matando-a:

- O que eles não puderam fazer com meus sobrinhos. Estão com muita raiva de mim, porque fui eu quem providenciou a saída de todos eles de Montes Claros.

Noêmia também não sabe informar se o motivo da rixa entre os sobrinhos e o grupo comandado por Ricardo dentro do Feijão Semeado está relacionado ao tráfico de drogas.

AMEAÇAS

Moradora do Cidade Cristo Rey, Noêmia Dezibere diz não ter outro lugar para se esconder e que, mesmo após a ocupação da polícia no local, recebeu várias ligações no celular de seu filho com ameaças de morte. No momento do tiroteio estavam a doméstica, seu esposo e os dois filhos na residência, localizada na Rua Mirabela.

BRIGA ENTRE TRAFICANTES

Moradores do bairro, que preferiram não se identificar, informam a O Norte que o motivo das brigas que vêm ocorrendo nos últimos dias no local é uma disputa entre traficantes que pretendem chefiar o tráfico do Feijão Semeado. Ainda segundo moradores, o grupo de Ricardo quer retomar o lugar na boca e comandar a venda de drogas no local, que foi tomado por outro grupo no período em que Ricardo ficou detido.

A reportagem procurou o presidente da Associação de moradores do bairro, conhecido como Farley, para comentar a ocupação da polícia militar no Cristo Rey, porém, sem êxito.

CERCO - BLOQUEIO

O comandante do 10º BPM, tenente coronel Heli José Gonçalves, esteve no Feijão Semeado na tarde de ontem e afirma que a operação é um cerco – bloqueio, com buscas pessoais, cumprimentos de mandados de busca e apreensão, além da prevenção a criminalidade.

- Durante a operação todas as pessoas que entrarem ou saírem do bairro passaram por buscas pessoais realizadas pelo efetivo de policiamento especializado, que permanecerá no aglomerado ainda sem data marcada para sair. Através de levantamentos, identificamos a região com alto índice de ocorrências por crimes violentos, tráfico e uso de drogas, disparos de armas de fogo, receptação de produtos furtados, entre outros. Nosso objetivo é prevenir, mas também reprimir a incidência desses crimes – reafirma o comandante Heli Gonçalves.

Até o fechamento desta página, às 21h45, ainda não havia sido divulgado o resultado  da operação Orla do Bosque.

PRISÃO

Ricardo Gaspar Lopes de Souza, 24 anos, duas passagens pelos meios policiais, foi preso às 22h30 desta segunda-feira, 10, durante patrulhamento das equipes da Moto Rotam no aglomerado Cidade Cristo Rey, quando portava um revólver calibre 38 da marca Rossi, E368513.

Juntamente com Ricardo foi apreendida com João Gonçalves de Souza, 22, também com duas passagens pelos meios policiais, uma faca tipo peixeira.