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MOC tem os três morcegos-vampiros do Brasil

Força-tarefa de combate à raiva envolve 54 municípios do Norte de Minas

Manoel Freitas
Publicado em 11/03/2023 às 00:52.
Brasil tem 181 espécies de morcego e apenas três que se alimenta de sangue (Eduardo Gomes)

Brasil tem 181 espécies de morcego e apenas três que se alimenta de sangue (Eduardo Gomes)

Em setembro e dezembro de 2022, e, ainda, em janeiro de 2023, conforme noticiou O NORTE, morcegos encontrados no perímetro urbano de Montes Claros e na zona rural foram diagnosticados positivos para raiva. Entretanto, já em 2009 a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical noticiava os primeiros isolamentos do vírus da raiva em morcegos frugívoros, espécie Artibeus lituratus em Montes Claros, alertando que “embora a raiva canina esteja controlada na cidade, o vírus rábico continua circulante em morcegos na área urbana”. 

O alerta foi dado porque, das 181 espécies de morcegos brasileiros, apenas três são morcegos-vampiros, ou seja, aqueles que se alimentam de sangue, os hematófagos, todos encontrados em Montes Claros. Ainda de acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, a transmissão do vírus rábico através dos morcegos ocorre por espécies hematófagas, que, por sua vez, podem transmitir a doença para herbívoros e também para humanos. 

Como se não bastasse, segundo a entidade, outras espécies não-hematófagas também podem se infectar através de interações com os morcegos vampiros portadores do vírus rábico, que no Brasil se constituem o principal reservatório silvestre do vírus da raiva, considerados a segunda ordem responsável pela transmissão da raiva humana.

Para falar sobre morcegos, especialmente os que se alimentam de sangue, por e-mail O NORTE acionou, sem êxito, o escritório do Instituto Mineira de Agropecuária (IMA) em Montes Claros, e, igualmente, à Coordenadoria Regional de Montes Claros, na quarta-feira (1). O único retorno do órgão, através de e-mail de seu escritório, na sexta-feira (10), dava conta de que a demanda havia sido repassada para à Coordenadoria há três dias.

Entretanto, de acordo com o Minas Gerais, órgão oficial do Governo do Estado, a autarquia vinculada à Secretaria de Agricultura Pecuária e Abastecimento (Seapa), em parceria com a Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, criou uma força-tarefa de combate à raiva envolvendo 54 municípios do Norte de Minas com o intuito de intensificar o controle da doença, quer seja através de fiscalização, como trabalhos de educação sanitária, que ensinam como diferenciar morcegos hematófagos, frugívoros e insetívoros.

Únicos mamíferos que podem voar, e também entre os únicos mamíferos que se alimentam de sangue, muitos mitos se constroem sobre os morcegos, entre os quais o de que são cegos, embora possam ver três vezes melhor do que os humanos. De mais a mais, a maioria dos morcegos se alimenta de frutas, flores e insetos, e nenhum, nenhum mesmo, bebe sangue humano. Mais ainda, segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros, os morcegos não atacam seres humanos, mas, podem morder quando perturbados ou indevidamente manipulados. 

Importância para o ecossistema 

Para falar sobre a presença em Montes Claros dos morcegos que se alimentam com sangue, O NORTE ouviu na sexta-feira (10), o professor Daniel Ananias de Assis Pires, graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre e doutor em Zootecnia pela mesma universidade. É Professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e do curso de Medicina Veterinária das Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte). 

Indagado se os chamados morcegos vampiros representam algum risco para a população, o professor Daniel Ananias ressaltou que “embora possa haver casos ocasionais em que um morcego vampiro se alimente do sangue de um humano, é extremamente raro e geralmente ocorre apenas em circunstâncias específicas, como quando as pessoas estão dormindo em áreas onde os morcegos se alimentam”. Explicou que os morcegos vampiros são espécies protegidas e importantes para o ecossistema, “uma vez que ajudam a controlar a população de animais que se alimentam de sangue”. 

Observou que “a presença de espécies hematófagas em Montes Claros pode criar um ambiente favorável à pesquisa sobre os fatores que influenciam a distribuição e abundância desses animais, as estratégias mais eficazes para o controle de suas populações”. No entendimento do professor Daniel Ananias, “os hematófagos são uma preocupação para a pecuária, pois se alimentam de sangue de animais de criação e podem transmitir doenças e ser uma porta de entrada pra miíases e outras infecções”. Além disso, explicou que suas mordidas podem causar irritações e lesões na pele dos animais, afetando sua saúde e bem-estar. (MF)

Homem e os morcegos hematófagos

O NORTE ouviu também na sexta-feira (10), a bióloga Thallyta Maria Vieira, com doutorado em Parasitologia pela UFMG. Atualmente é professora do Departamento de Biologia Geral na Unimontes, com participação em projetos de pesquisa nacionais e internacionais. 

A pesquisadora informou que em Montes Claros já foram identificadas mais de 29 espécies de morcegos, incluindo as três hematófagas. “Essas três espécies se alimentam exclusivamente do sangue de animais, sendo que duas atacam principalmente aves (Diphylla ecaudata e Diaemus youngii), apesar de poderem se alimentar também de outros animais, e uma terceira tem preferência por mamíferos (Desmodus rotundus), atacando também aves e até mesmo répteis”.

Ponderou que “nos ecossistemas naturais, os morcegos hematófagos auxiliam no controle das populações de vertebrados, através das sangrias e da transmissão de doenças como a raiva”. Devido aos seus hábitos alimentares serem associados à transmissão do vírus rábico, explica que ocorrem “principalmente em áreas rurais, onde é a principal responsável transmissão da doença aos animais de produção (bovinos, eqüinos)”.  

Por outro lado, assegurou que os chamados morcegos-vampiros “raramente de aproximam de áreas urbanas, embora o desequilíbrio do meio ambiente causado pelas ações do homem pode contribuir para essa aproximação”.

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