No último agosto, a Missa Tridentina em Montes Claros celebrou 12 anos de atuação contínua na cidade. Na tradição católica, essa cerimônia eucarística se diferencia da Missa “tradicional” por detalhes significativos, como o uso do latim, o sacerdote voltado para o altar e de costas para os fieis, além de um silêncio plácido durante a celebração.
Em um breve panorama histórico, em 2007, o então Papa Bento XVI publicou o motu proprio Summorum Pontificum, que ampliava o uso da Missa Tridentina, permitindo que qualquer padre a celebrasse sem necessidade de autorização do bispo. A Missa Tridentina, instituída após o Concílio de Trento no século XVI, é uma das formas mais antigas da liturgia católica. No entanto, em 2021, o Papa Francisco publicou o documento Traditionis Custodes, que revogou essa decisão, restabelecendo a exigência de permissão do bispado para a celebração desse rito.
Em MOC, após o recolhimento de 400 assinaturas, angariado pela Sociedade da Santíssima Virgem Maria (SSVM), a missa tridentina obteve a confirmação para sua realização em 2012. E, desde então, nunca deixou de ser realizada na cidade. Segundo o acólito e servidor público, Helmer Ézion, 34 anos, integrante da Confraria da Missa Tridentina, esses 12 anos de história representam uma trajetória de lutas, dificuldades, mas, acima de tudo, a consolidação de muitas graças — “ao longo desses anos, famílias se formaram, vocações foram descobertas, foram desenvolvidas, laços se criaram e, no melhor, cristãos de verdade foram formados, tivemos batizados, pessoas batizadas, famílias, casamentos. Então, para mim, esse marco desses 12 anos representa isso, essa consolidação da verdadeira fé cristã, da tradição católica acontecendo, a gente vê acontecendo em meio a tantas dificuldades, não só aqui em Montes Claros, mas no mundo inteiro. Ser cristão e ser cristão de uma maneira mais tradicional, hoje em dia, é um desafio extra-humano, quase” relata.
Em relação à nomenclatura, o padre Gledson Eduardo de Miranda Assis, pároco da Paróquia Mãe Rainha de Montes Claros e capelão para os fieis da Missa Tridentina, também conhecida como Missa no Rito Antigo, Missa Antiga, de Sempre ou tradicional, elucida que o nome deriva do Conselho de Trento — “Embora na visão de Dom Fernando Rifan, que é o bispo responsável pelos fiéis do rito de missa antiga, ele até não gosta muito de usar o termo missa tridentina, mas ele chama mais de missa no rito antigo. E, posterior ao Vaticano II, missa no rito novo. Existe essa diferença, porque a missa no rito antigo, ela foi definida pelo conselho de Trento, então, no século ainda XVI, e ela fica por mais de 400 anos em vigor, até depois ser remodelada também, tanto na estrutura litúrgica, quanto na língua, pelo conselho Vaticano II. Então, foi uma missa que ficou sendo celebrada por mais de 400 anos na vida da igreja, a partir do conselho de Trento, por isso chamada tridentina”.
Ainda sobre os ritos da Missa no Rito Antigo, padre Gledson esclarece que “às vezes, a gente usa essa expressão, o ‘padre de costas para o povo’, não é. É o padre a frente do povo, virado para o calvário, para o crucifixo, onde se oferece o sacrifício da santa missa”.
EXPERIÊNCIA SERENA
Para os fieis que participam pela primeira vez da Missa Tridentina, a confraria distribui um folheto com orientações. Entre elas, destaca-se a importância do silêncio durante todo o rito, inclusive após a comunhão, também sobre as vestimentas indicadas, como o véu, lenço ou echarpe pelas mulheres.
Rezada em latim, língua oficial da igreja, o fiel pode acompanhar os ritos por meio do Ordinário da Missa, que contém as orações fixas com as respectivas traduções. Para o professor e assistente jurídico Eduardo Lino Santos Souza, 35 anos, “a Missa Tridentina permite uma maior contemplação e tem mais momentos de silêncio. Os ministérios de música por vezes esquecem que o centro da Missa é Deus, e querem fazer da Missa um ‘show’. Já na Missa Tridentina, pelo fato de ter mais momentos de silêncio, bem como pelo fato de o Canto Gregoriano ser mais solene, o momento da oração pessoal permite uma melhor contemplação do Mistério e uma intimidade maior com Deus” comenta.
“A missa Tridentina ela é o que a gente chama de teocêntrica, ela é voltada para Deus, para dar glória a Deus, e não antropocêntrica. É isso que nos motivou a brigar para termos, porque enquanto católicos fervorosos, queremos dar a glória a Deus da melhor maneira possível. Então, graças a Deus, o Bispo Dom José Alberto, na época, nos concedeu a permissão, e Dom João Justino continuou permitindo, e agora Dom José Carlos”, completa Helmer Ézion.
SERVIÇO
Missa Tridentina Montes Claros
Local: Santuário do Bom Jesus
Endereço: Praça Bom Jesus, n.º 116 — Centro
Data: sextas-feiras às 19h30
Contato: https://www.instagram.com/missatridentinamoc/