“Prefiro escutar o áudio em alta velocidade, porque as vezes a informação que preciso está no final” comenta a estudante (Arquivo Pessoal)
Uma pesquisa do Conselho Nacional de Secretários de Saúde identificou que 31,6% dos jovens, entre 18 e 24 anos, já receberam diagnóstico de ansiedade. A causa, de acordo com psicólogos, pode estar relacionada ao uso excessivo da internet. Um mecanismo facilitador e, aparentemente, inofensivo como a opção de aceleração da velocidade, disponibilizada por alguns aplicativos, pode revelar uma mente apressada e com baixa tolerância ao processo.
Para a psicóloga Leila Silveira, o uso da ferramenta tem a ver com o estilo de vida contemporâneo com a tecnologia sendo a principal interface com o mundo. E, embora tenha ampliado as possibilidades de maneira infinita, expõe as pessoas a um ritmo frenético que adoece.
“Eles costumam dizer que, além de ganhar tempo, também diminuem um pouco a monotonia daquela aula que poderia ser longa, por exemplo”, diz Leila.
A psicóloga ressalta que o processo de aprendizagem é intrínseco. “Algumas pessoas vão se adaptar melhor com a aceleração, e outras, por fazerem isso, vão ter os níveis de ansiedade aumentado. Faz a pessoa viver num esquema de 220, ligado o tempo inteiro; e isso faz com que ela fique numa situação de alerta tão intensa que ela não consegue relaxar ou usar bem as funções cognitivas”, explica.
A psicóloga, que também é professora, acrescenta que embora os mais jovens sejam predominantes nesse contexto, o hábito já atingiu a outras faixas de idade, e, para isso, basta que a pessoa esteja envolvida em trabalhos que utilizam a internet. “Estamos todos muito impacientes e descartamos as conversas demoradas como se não precisássemos daquilo para o processo de aprendizagem. A memorização requer uma repetição num ritmo que não é tão acelerado. Você precisa voltar à informação várias vezes”, esclarece.
Como resultado dessa aceleração desenfreada, a profissional analisa que o conhecimento se torna raso e a falta de profundidade provoca uma teoria isolada.
A estudante, Bruna Lissa Myata, diz que a ansiedade já existia antes da aceleração de áudios e isso ela tenta controlar com medicação, entretanto, não abre mão da sua preferência pelo mecanismo e explica o motivo. “Para assuntos mais urgentes eu até prefiro que a pessoa grave um áudio e eu escuto na velocidade maior. Às vezes, a informação que preciso está no meio ou final e tem pessoas que são prolixas, então vou direto ao ponto”, afirma Bruna. A briga com o corretor é motivo de irritação quando opta pela escrita. “Eu sou acelerada e escrevendo, às vezes, engulo palavras. O próprio corretor atrapalha. Mas, a cada dia surgem novas ferramentas no aplicativo e agora é possível editar o que escrevemos, então pode ser que isso ajude a conter a impaciência”, afirma.
A pediatra, Oriana Vieira Carneiro, adotou o hábito de acelerar a velocidade, já que o excesso deles acontece nos dias atuais, quando muitas situações são resolvidas via aplicativo.
“Se preciso passar alguma orientação aos pais, costumo responder com áudios. Consigo passar a mensagem com clareza e, com certeza, eles devem escutar de maneira acelerada, porque eu converso muito”, declara.
Como profissional do setor de saúde, ela entende que o nível de tolerância da humanidade, em geral, está mais baixo e que qualquer estímulo que proponha muita pressa pode ser nocivo.
“A vida vai atropelando e a gente acaba tendo que correr para alcançar. Tem dia que coloco várias metas para mim e no final do dia, ter usado essa ferramenta me possibilitou cumpri-las. Naquilo que posso, eu tento desacelerar e ter uma vida mais leve”, diz.
Sobrecarregada pela demanda de serviços, a jornalista Viviane Carvalho, resume.
“Eu não tenho paciência para áudio. Mas, quando me deparo o tempo inteiro com áudios, por causa do trabalho, coloco na velocidade dois (a máxima) para acabar logo”.