A médica Mara Narciso escolheu a área de saúde como primeira formação. A escrita e o jornalismo vieram depois, impulsionados pela maternidade. Mãe de Fernando Yanmar, hoje também escritor, Mara percorreu um longo caminho antes de se tornar referência pioneira na cidade sobre o tema Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O livro “Segurando a Hiperatividade” foi escrito por ela em 2004. “Meu filho e seu transtorno me transformaram em escritora. Primeiro, escrevi num desabafo catártico e depois fui aprendendo a ser escritora”, conta a mãe de Fernando, que diz ter percebido logo que o filho era diferente do habitual.
Diferença que fez a mãe experimentar a incompreensão e ter o filho expulso da escola aos quatro anos de idade. Para ajudar outras mães a lutar contra o preconceito diante de um assunto até então pouco falado e pouco compreendido, Mara escreveu o livro. Para a mãe de Fernando, o ambiente escolar é o mais desafiador.
“Os colegas discriminam e perseguem, batem no diferente, mas há os que acolhem. Há professores tolerantes e há também os despreparados. O pai de Fernando e eu gastamos muito tempo, dinheiro e especialistas. Melhor faríamos hoje com a experiência que temos”, afirma Mara. E ressalta: “ o Dia das Mães chega para, a cada ano, coroar nosso sucesso”.
Tanto o TDAH quanto o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ganharam as manchetes nos últimos tempos e, com o assunto em alta, muitos diagnósticos vieram juntos. Foi o caso da empresária de gastronomia Sarah Sanches, mãe de Heitor e Lorenzo, ambos diagnosticados com TEA. Foi numa rede social que Sarah leu um texto e identificou situações que passava com os filhos, como a seletividade alimentar severa, que fazia o mais velho, Heitor, a desprezar alimentos sólidos e alguns líquidos específicos.
Depois de passar por vários médicos, neuropediatra e fonoaudióloga, veio a constatação de autismo quando ele estava com sete anos. Lorenzo, naquela época com dois anos, também recebeu o diagnóstico. A partir daí começou a maratona em busca de tratamento multidisciplinar e a mudança de escola.
“Infelizmente, as instituições privadas não oferecem o professor de apoio. No ensino público eles foram acolhidos e existem metas para o desenvolvimento no ambiente escolar”, conta.
Sobre o que seria o maior desafio na criação dos filhos, Sarah argumenta que não existe um maior do que o outro. A complicação envolve vários fatores, como falta de assistência especializada e longas filas de espera nos postos de saúde, poucos profissionais na área, o que faz aumentar o valor dos poucos existentes, falta de atendimento humanizado, distanciamento e frieza dos profissionais com os autistas e seus familiares, terapias com prazos reduzidos e limitados, entre outros.
ROTINA
Sem a participação ativa do pai, ela foi a luta e adaptou o trabalho à necessidade dos filhos.
“No início foi mais difícil, porque é impossível trabalhar fora com tanta demanda, mas não afeta mais o meu dia a dia, porque não costumo pensar em uma outra rotina. Trabalho de forma adaptada e por aqui tem dado certo. Faço por eles o que todos os pais, atípicos ou não, fariam”, diz a mãe de Heitor e Lorenzo, hoje com, respectivamente, 14 e nove anos.
SER MÃE
A psicóloga Leila Silveira destaca que a maternidade é naturalmente cheia de desafios e a maternidade de mães atípicas tem um grau de exigência muito maior,“Mãe é essa pessoa que cuida, que protege, é o principal apoio que a criança tem. Mas ela precisa estar inserida numa rede de apoio, para que se sinta equilibrada e fortalecida”, analisa.
Além disso, ela deve buscar ajuda de profissionais que vão contribuir com o desenvolvimento da criança e observar o que funciona melhor para o filho dela. “Estar conectada a um grupo de apoio, participar de eventos, tudo isso vai criando um apoio sistêmico muito eficaz”, completa.