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Terça-Feira,22 de Outubro
Variedades

Mais de 68% das espécies ameaçadas em Minas estão no Espinhaço

Manoel Freitas
Publicado em 10/11/2023 às 22:16.

Cordilheira do Espinhaço possui riquezas extraordinárias e singulares (MANOEL FREITAS)

Considerada a única cordilheira do Brasil, a Serra do Espinhaço, com mais de uma centena de unidades de conservação, desde 2005 é reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva da Biosfera. Em sua segunda fase em Minas Gerais, contemplou 179 municípios, perfazendo uma área de 10.218.895,20 hectares, na qual está inserida o Espinhaço Setentrional, integrado pelo Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. 

Entre seus trechos mais espetaculares, estão os municípios de Itacambira, Botumirim, Turmalina, Cristália e Grão Mogol, que lançaram, em março desse ano, novo destino ecoturístico, o Circuito Cordilheira do Espinhaço, iniciativa do Governo de Minas com o Sebrae, a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) e o Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. De tal forma que, por sua amplitude, essa porção Norte da cadeia de montanhas, a segunda maior da América Latina, mereceu de O NORTE série de matérias especiais.

E os números falam por si: mais de 68% das espécies ameaçadas no Estado de Minas Gerais estão na Cordilheira do Espinhaço em função dos campos rupestres, “ambiente de baixíssima resiliência, ou seja, muito frágil a qualquer impacto ambiental”, conforme revelou a O NORTE, na segunda-feira (6), Miguel Ângelo Andrade, Coordenador do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. 

Relevância alicerçada, também, em estudos florísticos atuais, que estimam a existência de quase três mil espécies com endemismo na Cordilheira do Espinhaço, entre as quais nada menos do que 350 ameaçadas de extinção, notadamente na vegetação denominada campos rupestres, ou seja, terras altas entrecortadas por rios e cachoeiras, cantados agora em prosa e verso porque o novo circuito ganhou esse ano status de importância socioeconômica para a proteção ambiental e o desenvolvimento turístico não apenas desses municípios, mas de outros 32 nas bacias do São Francisco, Rio Pardo e Jequitinhonha.

ecoturismo
Os Parques Estaduais de Grão Mogol e Botumirim destacam-se nessa rota com mais de mil quilômetros de extensão. Duas unidades de conservação estaduais, administradas pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF/MG), que consolidam o Circuito Cordilheira do Espinhaço. Por sinal, o órgão oficializou em dezembro de 2020, o Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas (PAT Espinhaço Mineiro). 

A iniciativa possibilita, através da integra-ção entre os governos de Minas e a União, a implementação de políticas públicas capazes de melhorar o estado de conservação de, pelo menos, 290 espécies identificadas como Criticamente em Perigo (CR). Seu território atravessa aproximadamente 677 km², abrangendo uma área total com cerca de 105 mil km² em Minas Gerais, com notável diversidade de espécies de fauna e flora.

Todos esses avanços foram possíveis, de modo incontestável, graças a diversos atores, entre os quais Ítalo Oliveira Mendes, idealizador do novo destino de ecoturismo, servidor público federal do Ministério do Turismo desde 2008, atualmente secretário de Turismo de Grão Mogol e diretor de relações institucionais da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Turismo (Anseditur). 

Na verdade, um colegiado de representação de cidades brasileiras que são destinos de turismo, cujo papel é desenvolver o segmento a partir de articulações nacionais e internacionais. Por sinal, Grão Mogol sediou, entre os dias 25 a 28 de outubro, o XX Congresso Brasileiro de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta Summit), considerado o mais importante evento da vida ao ar livre no Brasil. 

Alta biodiversidade
Segundo o professor Miguel Ângelo Andrade, Coordenador do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, graduado em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, “se eu fosse indagado qual a biogeografia de destaque da Cordilheira do Espinhaço, certamente destacaria seu ambiente de alta biodiversidade, bem como o número elevadíssimo de espécies ameaçadas de extinção”.

Explicou que poderia apontar vários elementos que atestam a importância da heterogeneidade biológica da nossa cordilheira, “mas quero primeiramente lembrar que existe um plano de ação territorial para espécies ameaçadas de extinção, chamado PAT Espinhaço, que considera a Reserva da Biosfera do Espinhaço como unidade de planejamento territorial”, revelando que mais de 68% das espécies ameaçadas no Estado de Minas Gerais estão na Cordilheira do Espinhaço.

De acordo com o coordenador, “a cadeia do Espinhaço, como unidade biogeográfica, é um grande corredor ecológico com integridade ainda forte, mesmo com tantas ameaças, seja em função de infraestrutura, expansão urbana, monocultura, mineração, e, mais recentemente, com a questão as energias renováveis, com destaque para a eólica, que gera impacto fenomenal, a despeito da percepção de que se trata de energia limpa”.

Falando sobre a Cordilheira do Espinhaço, enfatizou que “a gente tem uma paisagem cultural muito marcada por nossa história de ocupação, devido a busca do ouro e outros metais, que forjaram a cultura mineira a partir dos elementos que a cadeia de montanhas oferece, ou seja, diversidade cultural combinada com a diversidade natural, de modo que, se não tivéssemos o Espinhaço, seria preciso recontar a história de Minas e do Brasil”. 

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