Variedades

Luta diária contra o racismo

Semana Nacional da Consciência Negra tem extensa programação até o próximo dia 27

Manoel Freitas
Publicado em 21/11/2022 às 21:44.
Carlos Farias Maxakali com o Coral de Lavadeiras do Jequitinhonha. (MANOEL FREITAS)

Carlos Farias Maxakali com o Coral de Lavadeiras do Jequitinhonha. (MANOEL FREITAS)

O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro, mas dada a importância dos movimentos contrários à discriminação e ao racismo, a celebração da data, que é inclusive feriado em alguns estados e cidades, criou no Brasil a Semana Nacional da Consciência Negra, com extensa programação até o dia 27 de novembro. Um convite à população refletir sobre como é a inserção do negro na sociedade brasileira. 

Uma semana especial porque incentiva os diversos segmentos a pensar a realidade das pessoas negras no Brasil, 134 anos desde a abolição da escravatura. Semana que reúne diferentes ações de combate ao racismo e reacende o debate sobre a chegada dos negros ao país, evidenciando as desigualdades e violências contra a população negra ainda existente em nossa sociedade. De modo que essa matéria é o terceiro conteúdo gerado por O NORTE em 2022 para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, da liberdade conquistada e da longa luta antirracista no Brasil. 

Para falar acerca da data escolhida para homenagear Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, que morreu nesse dia, em 1695, a reportagem ouviu o psicólogo, cantor, compositor e produtor cultural Carlos Farias Maxakali, que nasceu em Machacalís (MG), ao lado da Terra Indígena Maxakali, a despeito de seu trabalho artístico envolver outras regiões de Minas Gerais, como as pesquisas étno-musicais e a criação do Coral das Lavadeiras do Jequitinhonha. 

Para Carlos Maxakali, “o Dia Nacional da Consciência Negra só foi instituído a partir da pressão dos movimentos antirracistas”. Ao mesmo tempo, o artista opinou que “nos últimos anos ocorreu o recrudescimento dos movimentos racistas, até porque Decreto Federal possibilitou que pessoas ricas e criminosos tivessem maior acesso ainda às armas, de modo a estimular a invasão de terras, como quilombos, ação favorecida porque não ocorreu demarcação de terras.” Por outro lado, lembrou que no Brasil “existem diversas áreas prontas para serem demarcados ou homologadas, tantos para os quilombolas como para os indígenas”.

Acredita ter ocorrido um aumento da consciência da população de que é preciso haver mais igualdade. Por fim, o cantor e compositor argumentou que “as artes, a cultura, são fundamentais na luta contra o preconceito, a discriminação, contra o próprio racismo, porque os artistas têm papel importante no enfrentamento da discriminação, do racismo, então, viva o Dia Nacional da Consciência Negra, viva o Brasil com suas diferentes culturas, porque toda luta tem que ser em favor do bem comum, e eu, como artista, procuro colocar isso em minhas músicas”. 

“Zumbi vive em cada um de nós”

Para enriquecer mais ainda o debate sobre a importância da Semana Nacional da Consciência Negra, O NORTE ouviu Luciana Axé, presidenta e mestra da Escola de capoeira Òdàrà, bacharel em Serviço Social, ex-presidenta do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Montes Claros. Também professora de capoeira, criada no século XVII pelo povo escravizado, iniciou sua fala enfatizando seu orgulho em ser negra e filha da mineira Dona Terezinha e do baiano José Martins.

Ela é de opinião que, “em meio ao ódio semeado no Brasil, a Semana Nacional da Consciência Negra de 2022 é mais importante ainda, porque celebra a imortalidade de Zumbi dos Palmares, porque Zumbi vive em cada um de nós que dormimos e acordamos lutando contra a desigualdade”. Argumentou que “temos muito que protestar ainda, fazer valer nossos direitos, fortalecer nossa cultura, música, religião”.  

Mais ainda. Frisou que “temos que falar sobre tudo isso todos os dias, em todos os lugares e não só uma vez por ano”. 

Do mesmo modo, pondera que a capoeira, “por ser de origem africana, fortalece ainda mais o sentimento de igualdade racial”. Observou que “a capoeira surgiu como luta de libertação, a partir de contribuições de diferentes elementos culturais trazidos na diáspora africana, em tempos coloniais e imperiais no Brasil, de tal forma que hoje é uma das maiores manifestações da arte da cultura popular afro-brasileira”. Revelou que foi a partir da iniciação na capoeira, “que despertou em mim o interesse pela história do meu próprio povo”.

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