
No ano em que completaria 80 anos, a memória da escritora Terezinha Campos ganha vida pelas mãos de sua filha, Stella de Souza Neves Claudino Silva, professora de música e aulas particulares. Em homenagem à mãe, que partiu antes de concluir o projeto de reunir 80 contos e poemas, Stella retoma o legado literário e emocional deixado por Terezinha, uma voz marcante da literatura que agora ressurge entre palavras, lembranças e afeto.
Confira a entrevista exclusiva com Stella, que revela os bastidores dessa homenagem comovente, memórias inéditas e os caminhos para manter viva a obra de Terezinha.
Setembro de 2025 marcou o mês em que Terezinha Campos completaria 80 anos?
Sim, ela nasceu em 18 de setembro de 1945, portanto setembro de 2025 foi o mês do octogenário de seu nascimento. Ela nos deixou antes de celebrar esse marco, mas seu legado permanece vivo, nas palavras, nos gestos e nas memórias que nos deixou.
Minha mãe marcou a vida dos que com ela conviveram: seja por um ensino, seja por uma carta ou dedicatória, seja por uma peça de crochê feita por suas mãos. Sua memória ficou impressa em nós.
Como ela vinha se preparando para comemorar seus 80 anos?
Ela não compartilhou muito dos detalhes de como seriam as comemorações. Com certeza haveria um culto de gratidão, talvez uma confraternização com a família e amigos… não sabemos. Mas ela estava escrevendo 80 contos que seriam entregues num livro como lembrança.
“ONDE, QUANDO” reúne 80 contos, poemas e histórias entrelaçadas com lembranças e afetos, traçando o percurso de uma vida rica em sensibilidade e significado?
Sim. Estas páginas revelam um pouco do pensamento de nossa mãe, Terezinha Campos: de onde veio, o que a motivava a viver e as paixões de sua vida, o amor pelos filhos, pela obra e pela palavra de Deus. Sua dedicação ao ensino, à cultura de sua terra e às relações de amizade e familiares se manifestam claramente aqui.
Como era sua mãe, Terezinha Campos, no dia a dia?
Mamãe era uma mulher cheia de entusiasmo e alegria. Perto dela não havia tempo ruim. Sempre transmitindo fé e esperança. Não ficava um só dia sem ler e a escrita também fazia parte de sua rotina.
Que valores ou ensinamentos ela mais fazia questão de transmitir?
Ela era uma mulher de muita fé e nos transmitiu o legado do amor a Deus e à Palavra; do amor e respeito ao próximo; da gratidão; da alegria mesmo em meio às dificuldades.
Há alguma memória que você guarda com mais carinho?
São muitas as memórias, mas vou destacar três. Lembro-me com carinho dela me ensinando a decorar poemas e declamá-los, especialmente um que falei para o meu pai, no Dia dos Pais, quando eu tinha seis anos.
Outra memória era uma frase que ela sempre dizia, quando a gente ligava: E aí, mãe? Como estão as coisas? E ela respondia: nada para reclamar, só para agradecer. E nunca vou esquecer aquela risada gostosa que só ela tinha.
Sobre a obra “ONDE, QUANDO” como surgiu a ideia desse projeto de 80 contos e poemas?
Após ela nos deixar, encontramos o manuscrito dos contos ainda inacabados. Junto havia uma lista de títulos, alguns com textos, outros não. E então minha irmã me falou do projeto que ela tinha para seus 80 anos. Naquele momento, estávamos muito fragilizados para dar andamento a uma publicação ou algo parecido. Foi só no início de setembro que a ideia tomou forma. Nasceu em mim um forte desejo de fazer chegar à família e aos que desejassem, os contos. Fui apoiada pelos meus irmãos e decidi preparar um arquivo digital. Em tempos tecnológicos, penso que é a maneira mais fácil e rápida de compartilhar uma obra.
Ao preparar esse arquivo, ao ler e reler os manuscritos dos contos e outros mais, percebi ser possível preencher quase todos os títulos com textos anteriormente escritos. Consegui ir montando um quebra-cabeça. Quando só tinha o título, escrevi sob meu olhar as memórias que tenho sobre o assunto. E para completar os 80 títulos, preenchi com poemas e textos que trazem temas que aqueciam o coração de minha mãe.
Essa ideia surgiu mais recentemente na vida dela?
Do livro de contos? Sim! Mas ela sempre gostou de presentear as pessoas com poemas. Aniversários, batizados, formaturas, nascimentos, ela comemorava com poesias. Acredito que era dessa forma que ela queria festejar sua vida.
Você chegou a conversar com ela sobre esses textos? Algum deles te marcou de forma especial?
Mamãe sempre compartilhava com a gente os seus projetos. Porém, eu e ela não conversamos muito sobre isso. Minha irmã mais nova sabia de mais detalhes. O que me impressiona nos contos é seu amor à escola desde a infância, seu amor à terra natal, como ela conta até sobre tristezas de forma leve. O poema “O melhor possível”, que inseri retirado de outro manuscrito, me toca muito.
De que forma você sente que o legado dela continua vivo hoje?
Recebemos muitos depoimentos daqueles que receberam o arquivo, que relataram que, ao ler os contos, parecia ouvir minha mãe. E, de fato, ela consegue transmitir em seus escritos a sua própria voz. Seus ensinos continuam reverberando em nós.
O que você acha que ela gostaria que as pessoas sentissem ao ler seus textos?
A resposta está em um dos seus contos: “A leitura é como uma terapia constante na vida do leitor assíduo; por isso, o escritor está sempre expondo suas ideias através da escrita para aliviar o tédio, dissipar a angústia, desfazer as tristezas, que vez por outra nos visitam” (“ONDE, QUANDO” — página 67).
Que mensagem você gostaria de deixar para quem está prestes a descobrir ou redescobrir Terezinha Campos através da obra?
Se você a conheceu pessoalmente, certamente se emocionará em várias passagens; se não, perceberá, por meio dos textos, a intensidade de sua paixão pela vida, o amor pelos filhos, pela obra e pela palavra de Deus e sua dedicação ao ensino e à cultura de sua terra. Se desejar ter acesso ao arquivo, envie um e-mail para stellanclaudino@yahoo.com.br e enviarei com prazer, sem nenhum custo.