entrevista

Karen Nascimento recebe prêmio no Edital Raízes de Minas

Adriana Queiroz
genteideiascomunicacao@gmail.com
Publicado em 22/07/2025 às 19:00.Atualizado em 23/07/2025 às 12:46.
 (Emanuel Kaaura)
(Emanuel Kaaura)

Com mais de 15 anos de trajetória dedicados à música, a cantora, compositora e educadora norte-mineira, Karen Nascimento, vive um momento especial em sua carreira. Premiada pelo edital Raízes de Minas, reconhecida em festivais autorais e prestes a lançar seu primeiro álbum solo, ela se firma como uma das vozes mais potentes da nova cena musical mineira. Com influências que passeiam pela música popular brasileira, ritmos afro-brasileiros e jazz, Karen transforma vivências e ancestralidade em canções que tocam a alma.
 
Como a música entrou na sua vida e o que te motivou a seguir essa carreira?
A música começou em minha vida a partir das minhas vivências na infância, com meu pai que sempre escutava música, tinha muitos CDs de grandes nomes da música brasileira. Quando pequena, me recordo do meu tio tocando acordeom, a música sempre esteve presente em minha vida, mas foi na adolescência que comecei a estudar música em projetos sociais. Estudei canto no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez e anos depois segui a carreira acadêmica (graduação e mestrado) e também comecei a atuar como cantora, iniciando profissionalmente no grupo Acadêmicos do Samba, coordenado por Jukita Queiroz.
 
Você mistura MPB, ritmos afro-brasileiros e jazz. Como constrói essa identidade sonora tão rica e diversa?
Acho que partiu de uma inquietação profunda. Durante um período havia criado músicas que, embora válidas, já não refletiam a direção artística que desejava trilhar, surgiu um desejo de distanciar do que já tinha feito, de romper com as convenções musicais que limitavam e de abraçar uma abordagem mais autêntica e ousada. Então essa construção sonora veio de todas as referências que me atravessaram durante minha experiência musical.
 
“Infância de Minas” é uma canção que homenageia Montes Claros. Como a cidade inspira suas composições?
Desde que cheguei em Minas na minha infância, a música mineira passou a fazer parte das minhas vivências. A congada, o grupo Agreste, Zé Coco são grandes referências da música norte mineira. Então, tive um período que morei no sítio do meu pai e toda aquela vivência em um ambiente natural, com árvores, bichos, rios, pássaros, gosto, cheiro da chuva, as brincadeiras de criança, passaram a fazer parte da minha memória afetiva-musical. Essa música fala sobre isso, dessa vida na roça de uma criança com o coração cheio de memórias afetivas, foi a inspiração para escrever a letra, que foi lindamente harmonizada por Zé Rodovalho. Eu também queria na canção algo que representasse a música do norte de Minas, então na produção musical conseguimos utilizar elementos que remetessem a essa regionalidade, como, por exemplo, ritmos da congada mineira. A canção foi finalista no primeiro FESTVIOLA em Abre Campo em 2024.
 
Você está produzindo seu primeiro álbum com o apoio da SECULT-MG. Pode adiantar o que o público pode esperar dessa obra?
Então, esse trabalho está sendo produzido com muito carinho, ele está nascendo com um desejo enorme de renovação musical. Com uma equipe incrível que sempre sonhei em ter em um trabalho meu. O disco vai nascer com uma sonoridade inovadora e contemporânea, com influências da música popular brasileira, ritmos afro-brasileiro e da música jazzy-brasileira.
 
O que representa para você estar à frente do festival A Música de Hoje, que busca revelar novos talentos do norte de Minas?
Está à frente desse projeto lindo que saiu do papel e agora vai se tornar algo real e palpável, é muito gratificante e desafiador. Acho muito importante esse espaço de descoberta de novos artistas e valorização da produção musical independente. Grandes nomes são revelados em festivais, que têm um papel fundamental na trajetória de qualquer artista. O projeto surgiu da necessidade de criar oportunidades para novos talentos e fortalecer a identidade cultural da região.
 
Como você recebeu a notícia do Prêmio Raízes de Minas por sua trajetória artística?
Receber uma premiação de reconhecimento do seu trabalho é de uma imensurável alegria. É perceber que, por mais difícil que possa parecer a caminhada, a jornada sempre vai valer a pena. Esse reconhecimento foi muito importante para minha trajetória enquanto artista musical, são mais de 15 anos batalhando com música, seja no campo educacional ou performático, essa premiação veio validar ainda mais meu compromisso com a arte. Essa premiação não celebra apenas uma trajetória individual, ela valoriza a história e resistência de artistas que constroem a cultura no nosso estado.
 
Fale um pouco sobre o projeto Sons de Minas. Como surgiu essa parceria com Micael Matos?
Sons de Minas é um projeto de show musical, protagonizado por dois artistas negros, com repertório que irá transitar por diversas escutas e vivências afro-diaspóricas, composições autorais e releituras da música mineira. Ao meu lado está Micael, meu parceiro de vida e de arte — músico autodidata com mais de 20 anos de trajetória, violonista e intérprete da música popular brasileira. Há tempos sonhávamos em formar um duo, e decidimos transformar esse desejo em realidade. Unimos nossas forças para construir um trabalho que preza pela qualidade musical e, ao mesmo tempo, pela valorização do nosso fazer artístico como fonte de sustento e afirmação profissional.
 
Que conselho você daria para mulheres negras que desejam trilhar um caminho na música autoral?
Acredito que o mais importante é confiar na sua própria expressão. A composição musical é um território rico para a vivência, a inventividade e a autoafirmação. Alimente-se de inspirações, registrem suas experiências, deem importância ao seu próprio desenvolvimento e não hesitem em conquistar seu lugar. Procurem o suporte de outras mulheres, criem conexões e não esqueçam: a nossa arte é essencial, genuína e capaz de mudar a realidade que nos cerca.

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