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Domingo,21 de Dezembro
entrevista

João Jorge Almeida Soares lança obra que une memória histórica e tecnologia

Adriana Queiroz
genteideiascomunicacao@gmail.com
Publicado em 19/12/2025 às 19:00.

O montes-clarense João Jorge Almeida Soares já realizou diversos projetos como maestro da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Dirigiu concertos com obras de Mozart, Bach, Beethoven, Mascagni, Vivaldi, Tchaikovsky, entre outros. Para ele, o projeto mais significativo foi o resgate e a encenação da ópera O Sertão, de Fernand Jouteux, cujas partituras estavam perdidas e foram recuperadas por ele. A obra foi apresentada no Grande Teatro do Palácio das Artes em 2002, ano do centenário da obra literária de Euclides da Cunha.

Neste sábado (20), as 19h, com entrada franca, João Jorge Almeida Soares convida o público para o lançamento do Oratório de Montes Claros, obra musical para orquestra sinfônica, coro e quarteto vocal solista, de sua autoria. O evento acontecerá no auditório do Colégio Tiradentes.

“Quando compus essa peça monumental, tinha pela frente um gigantesco obstáculo, pois, para a sua realização, eu necessitava de uma orquestra sinfônica, coro e solistas com capacidade para enfrentar os desafios impostos pela partitura, além de um grande teatro e de uma equipe técnica eficiente para a captação de imagens e som em nível profissional. Mas, com o advento da inteligência artificial, pude, de forma relativamente barata e simplificada, produzir essa obra, que agora fica disponível para o público”, disse. Nesta entrevista, João Jorge conta os detalhes do lançamento.
 
Como surgiu a inspiração para compor o Oratório de Montes Claros?
A ideia nasceu nos anos 1990, após saber que Paul McCartney havia composto o Oratório de Liverpool. Diferentemente dele, meu propósito sempre foi criar um oratório histórico, que contasse a trajetória de Montes Claros por meio da música e servisse como registro artístico da identidade local.
 
Quais foram os principais desafios ao escrever uma obra tão monumental?
Em 2017, quando regi O Empresário, de Mozart, confidenciei à soprano Vilma Bittencourt o desejo de compor este oratório. Ela me aconselhou a adaptá-lo aos tempos modernos, tornando a obra mais concisa. Isso exigiu um forte poder de síntese. Emocionalmente, segui o ensinamento do maestro Sérgio Magnani: “não tocar apenas as notas, mas a música das notas”. Buscar equilíbrio, fluidez, melodias marcantes e conexão profunda com o público foi um desafio constante.
 
Quais as diferenças entre oratório e ópera na experiência do público?
O oratório é apresentado em forma de concerto, sem cenário, figurinos ou encenação. Ainda assim, provoca emoções tão intensas quanto a ópera, pois também narra uma história. No caso desta obra, o público se reconhece como parte da própria narrativa de Montes Claros.
 
Qual é a parte mais complexa do processo?
O maior desafio foi imaginar uma estrutura com orquestra sinfônica, coro de quarenta vozes e solistas. Os altos custos tornariam o projeto inviável e, por isso, recorri à inteligência artificial. Considero esta obra pioneira e democrática: graças à IA, o público assistirá a um filme projetado, com orquestra, coro e solistas criados de forma hiper-realista, praticamente indistinguíveis de filmagens reais.
 
Como o público deve receber essa obra histórica?
Em conversa com o professor Wanderlino Arruda, concluímos que as referências históricas e as personalidades citadas despertarão no público curiosidade e identificação. Meu maior desejo é contribuir para o enriquecimento cultural de Montes Claros, proporcionando uma experiência leve, emocionante e educativa.
 
Qual é o papel da música erudita na preservação da identidade cultural?
É fundamental. Quando a arte retrata a história de um povo, torna-se um registro duradouro de sua memória, fortalecendo seus vínculos culturais.
 
E a importância do depoimento de Wanderlino Arruda?
Sou imensamente grato ao apoio dele desde os primeiros esboços da música. Ao ouvir os trechos iniciais, ele se encantou e gravou um depoimento analisando cada parte do oratório — material valiosíssimo que foi integrado ao filme final.
 
O lançamento do Oratório representa a realização de um sonho?
Sim. É uma forma de expressar meu amor por minha cidade natal e retribuir tudo o que Montes Claros representa para mim.
 
E os próximos projetos?
Tenho muitos projetos em desenvolvimento, vários utilizando inteligência artificial. Recentemente, ministrei um treinamento sobre IA para veteranos da Polícia Militar, dentro da Academia do Cérebro. Ressaltei que a inteligência artificial é poderosa, mas depende da habilidade do usuário: é como entregar uma caneta de ouro a quem não sabe escrever — de nada adianta; mas um simples lápis, nas mãos de um Machado de Assis, produz uma obra-prima. A ferramenta importa menos do que a capacidade de quem a utiliza.

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