Contrariando os dados da pesquisa, a decoradora Bruna e Nilo optaram por constituir uma família numerosa, com Eduardo, de sete anos, Bernardo, de cinco, e Marcelo, de apenas dois anos (Freepik)
A estrutura familiar brasileira sofreu transformações significativas entre 2010 e 2022, conforme a pesquisa “Composição domiciliar e óbitos informados” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseada no Censo Demográfico 2022. O percentual de lares compostos por casais com filhos caiu de 40,3% em 2010 para 30,7% em 2022. Em contrapartida, os lares com casais sem filhos aumentaram de 16,1% para 20,2%. Além disso, a taxa de fecundidade no Brasil, que estava em 5,8 filhos por mulher em 1970, despencou para 1,57 em 2023, abaixo do nível necessário para a reposição populacional.
Bruna Casasanta Caetano, decoradora e mãe de três filhos, compartilha os desafios de criar uma família numerosa em tempos de elevados custos de vida e escassez de ajuda doméstica. Apesar das dificuldades em equilibrar trabalho e cuidados, Bruna não se arrepende da decisão de ter filhos, embora dependa do apoio de familiares e precise economizar onde pode, reutilizando roupas entre os irmãos. “Desembolso mais de R$ 3 mil apenas com as mensalidades escolares. Por isso, economizo em tudo que posso”, relata.
Ela enfatiza que a experiência de ser mãe hoje é mais solitária, com a dificuldade de conseguir ajuda, além do custo elevado de contratar uma babá. “Não tenho vida social e não tenho babá, é muito caro. Se não fosse a ajuda dos familiares, seria ainda mais difícil”, conta. Apesar dos desafios, a decoradora acredita que ter três filhos compensa, destacando a interação e o companheirismo entre eles como recompensas da sua escolha. “É desafiador, mas ver a interação entre eles faz tudo valer a pena”, reflete.
NOVOS ACORDOS
Vanessa Araújo, assessora de comunicação e casada há uma década, relata que a escolha de não ter filhos foi uma decisão conjunta, discutida e acordada antes do matrimônio, e que se mantém inalterada ao longo dos anos. “Os anos foram passando e ainda não mudamos de ideia. Os motivos são muitos, mas acredito que o planejamento é o principal fator que influencia, hoje, na decisão dos casais. Além disso, as possibilidades diversas de prevenção da gestação também contribuem para essa mudança de comportamento e percebo na maioria das pessoas da mesma faixa etária que eu”, comenta a comunicadora.
O antropólogo João Batista de Almeida Costa destaca que tais alterações nas estruturas familiares brasileiras são uma manifestação das mudanças culturais e econômicas em curso. “A evolução da ciência, especialmente nas áreas de saúde e contracepção, possibilitou o controle da natalidade, essencial para a transição demográfica no Brasil. Na década de 1970, a economia era predominantemente rural, mas a urbanização e o aumento do acesso à educação mudaram profundamente o estilo de vida e as dinâmicas familiares. A entrada das mulheres no mercado de trabalho também alterou o papel tradicional feminino e redefiniu o conceito de família”, explica.